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Sindep assegura que manifestação dos professores marca início de uma série de protestos mensais em S. Vicente

O sindicalista Nelson Cardoso garantiu à imprensa que a manifestação dos professores realizada esta manhã na cidade do Mindelo não é o término, mas sim o início de uma série de protestos a serem levados a cabo a cada mês, até o cumprimento das reivindicações da classe docente. O representante do Sindep reforçou esta mensagem durante a concentração dos manifestantes em frente à Delegação do Ministério da Educação e disse não descartar uma greve nacional dos professores muito em breve. Segundo Cardoso, a organização sindical está disposta a juntar forças com a classe para encetarem novas iniciativas em março, abril, junho, enfim, até quando for preciso. O sindicalista enfatiza que o Sindep quer trabalhar com prazos com o ME para a resolução de cada pendência e lembrou que há situações que não exigem gastos, como a regulamentação dos Estatutos dos docentes.

“Não é nada simpático e nem humano um professor estar desde 2016 à espera de uma reclassificação e vir agora pedir-lhe para aguardar até 2023. A falta de bom senso não está nos professores. O bom-senso seria o Ministério da Educação cumprir e pagar as dívidas que tem com os professores”, disse Nelson Cardoso, numa clara crítica ao ministro Amadeu Cruz, que pediu bom-senso aos professores quando estes anunciaram inicialmente uma greve e mais tarde uma manifestação em diversas ilhas como forma de reivindicarem a resolução de várias pendências laborais.

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Problemas que, dizem, vêm sendo protelados por sucessivos governos e que os levaram a sair à rua. Porém, segundo Nelson Cardoso, houve gestores e directores de estabelecimentos de ensino que enviaram mensagens a professores ameaçando-os com processos-disciplinares se deixassem de comparecer no local de trabalho devido a manifestação.

“Temos prints dessas mensagens e isto é grave”, enfatizou Cardoso. Este sindicalista frisou ainda que as direções das escolas têm estado a negar disponibilizar salas para os professores se reunirem, quando esses mesmos estabelecimentos são usados pelos partidos políticos e por grupos de zona.

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“Bom senso ka ta pagá dívida”

A manifestação dos professores residentes em S. Vicente partiu da praceta Dom Luís por volta das dez e meia com uma moldura humana que satisfez alguns dos docentes presentes. Para Clemilde Fortes, professora da Escola Valentina, essa presença em massa é prova que a classe passou a falar a uma voz e que está a enviar uma mensagem inequívoca para o Ministério da Educação resolver os problemas que afectam os professores há vários anos. “Os nossos direitos têm sido defraudados pelos vários governos. Esta nossa presença quer dizer que passamos a interpretar aquilo que nos afecta da mesma forma porque, na verdade, cada um de nós tem um ou mais motivos de queixa”, diz essa docente, para quem a postura dos sucessivos governos prova a falta de consideração do poder político para com os professores, apesar das mensagens de valorização e reconhecimento do papel que desempenham na sociedade.

Segundo esta docente, a demora na resolução das pendências tem estado a desmotivar os professores e a afectar a qualidade do ensino, apesar de continuarem a exercer a docência com paixão. Lembra que há profissionais que aguardam por uma reclassificação desde 2016 e outras que se empenharam e financiaram a sua formação superior – por exigência do próprio ministério -,mas não viram a devida correspondência na sua carreira.

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A professora Gabriela Santos espera que este protesto leve o Ministro da Educação a colocar a mão na consciência e deixe de apelar ao bom-senso dos professores. “Falta bom-senso do lado dele, e não da nossa parte”, considera esta docente do ensino básico. Para ilustrar a situação que afecta vários colegas, diz que há casos de professores que estão a trabalhar há mais de vinte anos sem reclassificação, que financiaram a sua formação superior e que não beneficiaram ainda da redução da carga horária. Em termos financeiros, adianta, andam a perder quase 30 contos mensais nos salários.

O professor Julio Spencer informa que foi publicada uma lista provisória de professores que seriam reclassificados até dezembro de 2021. Entretanto, diz, a lista desapareceu, não saiu no Boletim Oficial, e ninguém lhes deu uma explicação. A partir desse exemplo mostra a necessidade de os docentes manterem a fileira cerrada até que os casos pendentes comecem efectivamente a ser solucionados.

Com uma situação pendente no Ministério da Educação, o ex-docente do ensino básico Amadeu Castro fez questão de participar na manifestação em sinal de solidariedade. Este cadeirante explica que se aposentou, mas que foi prejudicado em termos salariais de maio de 2011 ao dia 3 de abril de 2018, véspera da sua aposentadoria. Para ele, os professores têm motivos suficientes para estarem insatisfeitos e que deveriam ter convocado a manifestação há mais tempo.

Os manifestantes percorreram as artérias da cidade do Mindelo e pararam em frente à Delegação do Ministério da Educação. Prestaram um minuto de silêncio à memória dos falecidos professores Quim Correia e Fidelino Mota. Durante a concentração, o actual delegado do ME apareceu no pátio do edifício, saudou e aplaudiu os professores em gesto de solidariedade, como mais tarde assumiu para a imprensa.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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