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Cabo Verde: Covid-19 e o futuro do Sistema de Saúde

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Por: Simoni da Cruz Andrade *

A Organização Mundial de Saúde classificou o vírus Sars-Cov-2, que provoca a doença do Covid-19, como uma pandemia. Esta epidemia pandémica vem pôr à prova os sistemas de saúde pelo mundo inteiro, particularmente nos países em desenvolvimento com níveis de riscos e de incerteza muito elevados. O que exige, por si só, ações céleres e concertadas.

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Esta problemática, como é sabido, representa uma ameaça à saúde humana. As pessoas veem nos seus sistemas de saúde as soluções para resolver esta crise, a começar pela salvação de vidas, proteção de saúde, a garantia dos meios de subsistência e do bem-estar. Assim sendo, nesta ordem de ideias, a maneira como os líderes desempenham e respondem a esta pandemia provavelmente pode definir os seus êxitos, prémios e vitórias… Isso representa, portanto, uma tremenda oportunidade de se inscreverem nos livros de História como um Grande Líder, tal como Winston Churchill fez na Segunda Guerra Mundial. Aliás, seguindo o conselho de Churchill, “nunca deixar uma boa crise desperdiçar-se”, se os líderes tomarem uma ação decisiva agora eles poderão emergir da crise do COVID-19 como Heróis Nacionais.

“A maneira como os líderes desempenham e respondem a esta pandemia provavelmente pode definir os seus êxitos, prémios e vitórias…”

O que os líderes devem fazer rapidamente é mitigar a crise de uma maneira que possa ter um impacto positivo e visível na vida das pessoas. Para isso, eles devem agir com eficácia e eficiência para fortalecer o sistema de saúde dos seus países a fim de impedir a total propagação do vírus e tratar com sucesso aqueles que já se encontram afetados. Talvez seja aqui que os líderes tenham mais a ganhar – ou perder – e onde os heróis nacionais possam emergir… Essa premissa terá respaldo particularmente em países com sistemas de saúde fracos e desiguais, onde os pobres e vulneráveis frequentemente não conseguem aceder aos serviços primários de saúde que precisam. Uma ação prática importante que os líderes podem implementar imediatamente é lançar reformas de saúde verdadeiramente universais e com financiamento público para cobrir toda a população – não apenas para os serviços da Covid-19, mas para todos os serviços. 

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Impactos da Covid-19 nos sistemas de Saúde 

Os impactos serão imensos e, em determinados casos, configuram situações de incerteza. Devemos fazer a nossa parte buscando distanciamento social e adotar todas as sugestões divulgadas pela Direcção-Geral da Saúde (DGS) para que não sejamos vetores de transmissão da doença e nem venhamos a contrai-la. Os impactos em todos os sentidos são elevados. Devemos, por isso, buscar um pouco de frieza racional para que consigamos tomar as melhores decisões.

Alguns desses impactos negativos e positivos:

Um primeiro impacto negativo acontece nas cadeias logísticas – são muito frágeis e rapidamente entra(r)am em colapso, sobretudo no que diz respeito ao fornecimento de materiais de proteção, nomeadamente os kits de teste e os ventiladores. Isso implica que os serviços de saúde podem ter problemas no decorrer do tratamento da doença.

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O segundo impacto negativo é a especulação e a fraude – a especulação à volta dos preços, por exemplo, das máscaras. As máscaras normalmente que custavam oitenta cêntimos a serem vendidas neste momento a nove euros, chegaram até ser vendidas aos chineses por dezassete euros. Curiosamente, um mês e meio depois, os chineses estavam a vendê-las de volta aos europeus com os mesmos preços especulativos.

E um terceiro aspecto negativo tem a ver com o impacto no sistema de Saúde. Isto deve-se ao cúmulo da negligência durante várias semanas como se não houvesse outros doente, razão pela qual estamos a ter consequências complicadas nesta área. Por exemplo, por todos eles, nos casos dos doentes oncológicos, de diabetes e outras doenças crónicas que descompensam, mas neste momento não têm importância nenhuma. Pensamos que isso é um impacto muito negativo nos sistemas de saúde.   

Efeitos positivos nesta crise de Emergência

Um primeiro é o aspeto da cooperação. É muito importante ter sido anunciada recentemente uma aliança entre a francesa SANOFI e a Britânica GLAXOSMITHKLINE (GSK), que são dois gigantes na produção da indústria farmacêutica para a produção e as questões de logística do desenvolvimento da vacina contra o novo coronavírus. Isto é um acordo histórico entres as duas grandes empresas que ao longo das últimas décadas tiveram um grande prestígio nos mercados das vacinas. 

Outro aspeto positivo desta emergência é o “banho de humildade” a que são submetidas as perspetivas em relação a medicina moderna. Estamos perante um problema que não tem cura. A cura é essencialmente neste momento a c-glapacida do sistema imunitário de cada um. Isto é um aspecto positivo, ou seja, que as pessoas tenham a noção da importância da prevenção e promoção da saúde, nomeadamente no fortalecimento do seu sistema imunitário, que é o instrumento mais forte para lutar contra esta pandemia. 

Um terceiro aspecto positivo é a constatação da aldeia global no sistema de saúde. Pela primeira vez percebemos que a fragilidade dos sistemas nacionais de saúde dos países poderá vir a forçar-nos a falar sobre o sistema mundial da saúde. É um plano inovador que traduz o impacto positivo desta crise de coronavírus. A ideia é de virmos a ter no futuro próximo um verdadeiro sistema Mundial de Saúde. A meu ver, entendo que há uma urgente necessidade de começarmos a pensar em algumas estruturas no sistema mundial de saúde, pois esta crise provou que há uma interdependência em todas estas questões a nível da saúde. 

Recomendações futuras 

Na perspectiva do especialista de gestão em saúde vou considerar algumas das intervenções necessárias para garantir que o sistema de saúde tem condições para responder à próxima pandemia. Pela experiência internacional, o maior problema esteve associado às falhas na estrutura logística para os produtos e equipamentos de protecção individual (máscaras, desinfetantes, ventiladores, etc) que foram sujeitos a processos de especulação nunca antes vistos no mundo, com preços exorbitantes acima do normal. Este problema recomenda que os governos preparem stocks de longo prazo e estabeleçam parcerias com o sector privado para a produção nacional flexível desses produtos. 

Um outro problema internacional foi a dificuldade de adoptar procedimentos de gestão de emergências nos hospitais, sem interromper os outros serviços normais. Durante a resposta ao Covid-19 os sistemas de saúde actuaram como se não houvesse outros doentes, colocando em risco a vida de todos os outros pacientes. Esta situação denota a incapacidade de gestão equilibrada entre o que é a procura extra e a procura habitual. 

Um terceiro desafio internacional será a necessidade de melhorar a aplicação do potencial das novas tecnologias às crises de pandemia como a do Covid19, uma vez que outras pandemias vão continuar a acontecer. O investimento na telemedicina e tele-saúde será fundamental para o futuro.

“Durante a resposta ao Covid-19 os sistemas de saúde actuaram como se não houvesse outros doentes, colocando em risco a vida de todos os outros pacientes.”

     Na perspetiva nacional, para garantir que o sistema de saúde em Cabo Verde está preparado para o Futuro no pós Covid19, alguns desafios fundamentais de gestão são:

  1. Estabelecer uma equipa de gestão de emergências em saúde de forma permanente no sentido de manter ativos ou prontos para serem ativados todos os procedimentos de crise pandémica;
  2. Definir um plano de produção de materiais de proteção individual para as necessidades do país;
  3. Preparar um plano de vacinação para o Covid-19 quando a vacina estiver pronta;
  4. O governo deve manter a estrutura de monitorização de forma definitiva, essencialmente porque o vírus pode volta no próximo inverno, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). 

É importante a qualidade das informações que são transmitidas à população, visto que a comunicação é um método muito importante em todas as áreas para que estes possam, no contexto da saúde pública, tomar melhores decisões para prevenção e promoção da saúde.

Conclusão

Na minha modesta opinião entendo que o governo de cabo verde, além do seu dever de fazer o seu melhor no atual combate de Covid 19, deverá em simultâneo reforçar o sistema nacional de saúde na sua vertente técnica, humana e financeira, visando evitar que uma eventual segunda vaga da pandemia, venha ter maior impacto  negativo na saúde, na sociedade e na economia, especialmente tendo em conta a dependência desta última  do turismo externo. 

* Gestora em Saúde/Auditora Hospitalar. 

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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4 Comentários

  1. Aplausos para este excelente artigo de opinião! Contribuição informada e ponderada desta jovem specialists sobre a crise sanitária e o pós- pandemia a ser tida em conta!
    Só acrescentaria a necessidade de incluir de forma sistemática as redes associativas comunitárias e outras na mobilizaçao das populaçoes para a prevenção , as medidas de distanciamento social e os gestos/barreira.
    Irei partilhar!

  2. A maioria não requer do SNS , so’ 5 % dos infestados vão requerir , dos cuidados intensivos , e , e’ no atendimentos deles onde fica exposta a fragilidade do SNS . Os países “com recursos”, colapsam pela elevada demanda para um limitado numero de leitos ,tecnologia e recursos humanos especializados , e nos colapsaríamos por falta de recursos humanos , o HBS são tem uma medica (cooperante) especialista em Intensivo ,sabendo que não e’ o msm entubar q ventilar ,como ventilar em doente com pulmão sano que num com SRAS CoV-2 ,pelo q se tem q investir em cuidados intensivos , o SNS tem q dar este salto qualitativo .

  3. boa tarde

    Queira parabenizar a minha prima e ex-aluna Simone Andrade, pelas ideias deixadas neste artigo de opinião deixada, naquilo que são as diretrizes e mudanças que devem ser dotadas para travar a pandemia que alustre o mundo-

    Meus cumpts
    Mosteiros Relva

  4. Prezada , a necessidade dos cuidados intensivos por profissionais especializados 24/24 hrs estão carecas antes e depois de bo estares dois mandatos . Não venhas com bla,bla ,bla aos jovens em repasse experiente

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