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Estado cabo-verdiano responsável pela morte dos 8 jovens militares na Serra Malagueta

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Por: António Santos

“Apesar de não ser capaz de imputar a ninguém responsabilidade direta, este acidente levanta algumas questões, nomeadamente a responsabilidade do Estado cabo-verdiano em enviar os mancebos de verde-oliva para uma frente de incêndios…”

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O primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, anunciou, ao início da noite de domingo, que o Governo “decidiu decretar dois dias de luto nacional em memória das 8 vítimas” do acidente de viação ocorrido no domingo durante o incêndio na Serra da Malagueta, na ilha de Santiago, com um camião das Forças Armadas cabo-verdianas.

Este acidente, apesar de não ser capaz de imputar a ninguém responsabilidade direta, levanta algumas questões, nomeadamente a responsabilidade directa do Estado cabo-verdiano em enviar os mancebos de verde-oliva para uma frente de incêndios sem respeitar, minimamente, as regras e os critérios de procedimentos que devem ser observados quando se deslocam militares para uma missão, seja ela de paz ou de guerra.

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Tenho sérias dúvidas sobre o apuramento das responsabilidades, mas, quanto a mim, as culpas podem ser imputadas ao Estado que, em nenhum momento, teve a consciência de pensar: ‘eu não vou fazer isto, porque alguém pode morrer queimado'”. Ou seja, não soube proteger os jovens mancebos… Uma seção, um pelotão não se põe em movimento de qualquer forma: quem fazia o enquadramento (?); onde estava (?); quem ia ao volante (?); qual o ritmo da marcha e quem o definiu (?); quem decidiu por esse tipo de transporte, com que critérios e fundamentos? – são algumas das questões que levantamos e para as quais esperamos, assim como os restantes cidadãos cabo-verdianos, uma resposta.

Nas Forças Armadas de qualquer país existe um “Manual de Transporte” que estabelece critérios, normas, princípios, condições em que o transporte dos militares deve ser feito! O que, pelos vistos, não sucedeu.
Existem pessoas com responsabilidades altas, membros do Governo, que têm obrigação de planear o território, a floresta e omitiram todos os seus deveres ao longo de décadas, defendendo a necessidade de alterar o planeamento florestal. Sei que não é fácil apontar o dedo a A, B ou C, mas pode ter havido da parte de alguns responsáveis alguma incúria.

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Este acidente fatídico tem sido, infelizmente, aproveitado pelo senhor Primeiro-ministro para acções propagandísticas. Antes de dizer o que o Estado vai fazer em termos de indemnização e pensões o PM deveria dizer o que vai fazer para apurar as responsabilidades criminais e políticas deste acidente, que
provocou, de uma forma tão brutal e inglória, a morte desses 8 jovens.

Não podemos esquecer que num incêndio sem perdas de vidas, temos 8 mortes do lado dos “socorristas”: (militares ao serviço da Pátria) por causa de um brutal acidente! Um balanço demasiado trágico que nos interpela profundamente, choca e perturba.

Provavelmente, se as FA tivessem enviado militares voluntários (reformados ou na reserva),
com mais experiências, em vez de jovens soldados, muitas vidas teriam sido poupadas. Apesar de sabermos que os políticos vivem de facto mal com a culpa, nunca assumindo as suas
responsabilidades, neste caso a culpa não pode mesmo morrer solteira.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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