Por: Nelson Faria
Acho eu que quem trabalha com vontade, vocação, orientado para a excelência, tem por objetivo: fazer bem o seu trabalho, da forma mais exímia possível, satisfazer o “cliente”, o patrão, se tiver, e usufruir dos rendimentos do seu esforço, sem que para isso, seja endeusado, bajulado ou lambido porque já recebe a contrapartida que contratualizou: os rendimentos do trabalho, o salário e os benefícios associados às condições de trabalho que tem.
Obviamente, todos os profissionais gostam do reconhecimento de um trabalho bem feito, afinal é por aí que se valida a excelência alcançada. Um reconhecimento do “cliente” ou do patrão e não um autoelogio ou inflação do ego para parecer o que não é, coisa de medíocres com problemas de confiança. Um excelente profissional sabe disso e tem esta orientação.
Na minha perspetiva, com a classe política não deveria ser diferente. O trabalho que fazem durante o mandato pelo qual são eleitos pelo patrão, o povo, deveria ser o mero cumprimento do que se contratualizou na eleição: cumprir promessas e compromissos de campanha, realizar o bem comum na perspetiva de governar com e para todos, sem distinção de ilhas, regiões, religiões, preferências clubísticas e políticas, recebendo, para isso, o salário, as condições do cargos que ocupam, bastante privilegiados nesta realidade, e o reconhecimento do povo, não a reivindicação do elogio pelo que quer parecer, mas não é .
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É competente o político que mais promessas e compromissos consegue cumprir a bem de todos no período pelo qual foi eleito, independentemente das heranças, adaptando, sim, aos contextos e conjunturas em diálogo e comunicação permanente como patrão, povo, sobre ajustamentos da caminhada. Querendo-se fazer respeitar, este é o caminho da classe política e não o da simples exigência de respeito, porque sim, porque o patamar privilegiado permite ter holofotes. Mas, infelizmente, não é isto que acontece nesta realidade!
Sabendo que os recursos limitados colocados à disposição advêm de impostos, ajudas internacionais ao país – ao país, não ao partido e nem aos fulanos -, de empréstimos e financiamentos em nome de todos que mais cedo ou mais tarde acabamos por pagar, nunca e em circunstância alguma, um governante, enquanto tal, deve ter a perspetiva de, no cumprimento das suas obrigações, estar a fazer favores em nome pessoal e do partido na caça às consciências e ao voto. Querendo fazer favores, que se utilize recursos próprios na perspetiva de favor, um bem praticado de forma altruísta para satisfação de um outrem necessitado, e não de compra de consciências, de manipulação eleitoral, de manipulação de pessoas e cargos que nada tem a ver com a política, de manipulação, até, de eventos públicos.
Resumidamente, enquanto governante, nacional ou local, o que se faz, ou se deveria fazer, é feito com recurso de todos, para todos e sem a pretensão de se reivindicar bajulação ou endeusamento pessoal e partidário. Se competentes e reconhecidos, o patrão, o povo, elegerá para um novo mandato. Se não, troca-se. Isto é Democracia para verdadeiros democratas. Não para os autoproclamados.
Para mim, a grande questão é: se o político tem a prática de se endeusar, requerer bajulação e exigir lambidelas por achar que já pagou o suficiente, com dinheiro de todos, quem afinal se vendeu ou está à venda? Quem vota por reconhecer mérito e competências de uma governação ou vota na proteção de outros interesses? O mercado, pelos vistos, está aberto… e o eleitor é o protagonista.
Pior, acho eu, não é prática do político nosso de cada dia que quer apenas o voto e perpetuar-se no poder, é sim da defesa acérrima desta prática feita pelos eleitores, particularmente, os acólitos, carneiros, por vocação e por necessidade, que vestem as cores partidárias acima da consciência cidadã, de eleitor responsável e de verdadeiro patrão de um político eleito. Sim, cabe ao eleitor, ao cidadão, fazer cair este castelo de cartas feita por políticos e governantes irresponsáveis e demagogos, se quiser.
A classe conhece as fragilidades desta nação e muitos manipulam-na em trocas diretas e indiretas com o eleitorado, com recursos de todos, sendo exímios atores em aparentar a defesa do todo. Que cada eleitor tenha mínima consciência do chão que pisamos, do que aí vem e da força que tem…