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Soncent mestê voá

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Por Nelson Faria

A fábula de Leonardo Boff, A Águia e da Galinha, descreve, para mim, o que São Vicente é e o que, nestes tempos, acomodou-se a ser. Todavia, ainda vai a tempo de voar, de atingir o firmamento e horizontes nunca antes alcançados, sem pensar em pousar. Com determinação, com a atitude certa, com visão ímpar, com a majestosidade do que é… Não duvido, Soncent tá bem torna voá.

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Resumidamente, a fábula nos conta uma que uma águia foi capturada no ninho por um avicultor e colocada junto das suas galinhas. Com o tempo, apesar das diferenças, o comportamento da águia era todo ele semelhante as galinhas. Um dia o camponês foi visitado por um conhecedor de pássaros, um naturalista, que lhe disse que a águia era uma águia e que tinha de ser o que era e que conseguiria voar. Naturalmente, o camponês acomodado disse que seria impossível tendo em conta o tempo que já a tinha tratado como galinha e os hábitos que já tinha adquirido não lhe permitiam entender isso. Apostou com o naturalista que ele não o conseguiria fazer voar. Se num primeiro momento foi difícil, de facto, devido aos hábitos que o animal tinha adquirido, a terceira tentativa foi de vez. A Águia assumiu-se pelo que é voo sem pousar e nunca mais regressou para junto das galinhas.

São Vicente nasceu Águia, um farol do país na navegação transatlântica, que com o tempo foi tomado por camponeses, criadores de galinha, que a tem alimentado de milho e ração, assim como tem tratado as demais.

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Nota-se nos dias de hoje algum conformismo, o que não é de estranhar tendo em conta que o criador de galinha apenas consegue ver o imediato, o ovo que pode recolher e a canja que pode fazer com risco de ser “assaltado” por raposas… Acomodou-se a tratar Águia por galinha e acha que a Águia também se conformou com esta situação… Não! Águia é Águia! Poss ê poss. Vai voar! Com quem a conhece e reconhece, com quem sabe o que é e pode fazer, com quem lhe valoriza, Soncente podê voá. Definitivamente, este deveria ser o tempo em que os avicultores ocupassem, literalmente, das galinhas porque, está visto, não servem para treinar Águias. São limitados, coitados. Se nem sabem o que tem em mãos, mais não lhes pode ser exigido.

Bem, o coração da ilha, os seus valores e potenciais não coadunam com o que lhe querem fazer parecer. As experiências e vivências que a querem limitar não podem ser continuadas. A sua autoestima não deve ser rebaixada, muito menos deve ser fechada na caixa que lhe querem impor. Não pode nem deve continuar com foco no passado e na capoeira que o cerca.

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A oportunidade destas eleições, creio, incitam a introspecção do eleitor. Se quer manter a aparência de galinha acomodada na capoeira, vivendo de grão e ração, ou se quer revelar a águia interior para fazer Soncent torná voá e escolher a sua comida no mundo.

Este momento é mais importante do que parece, é uma encruzilhada onde se não for feita a melhor escolha, a dificuldade da Águia revelar-se será torna maior, e o tão almejado voo não ser conseguido, por causa da velhice e incapacidades naturais provocadas pela acomodação, correndo o risco de morrer como uma galinha que nunca foi ou até comida por raposas. Que cada um saiba fazer a escolha que permite outros voos… Soncet podê voá, Soncente mestê voá!

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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