Por João do Rosário
Ao seguirmos atentamente o desenrolar da situação gerada pelo COVID-19, ficou claro que, de uma inicial epidemia se evoluiu para uma pandemia agora declarada pela OMS, já que a propagação ocorre de uma forma geométrica, contaminando um número assustador de pessoas. Com as medidas de contenção inevitáveis, a crise económica é uma realidade e países pequenos como Cabo Verde, dependentes que são do exterior, poderão sentir ainda com mais acuidade essa situação. Sectores de grande impacto como Hotelaria e Turismo irão sofrer uma clara recessão e isso irá repercutir-se directamente na economia do arquipélago.
Conscientes dessa situação, abrimos o debate na nossa página pessoal da rede social Facebook, a fim de irmos colhendo e prestando informações, já que partilhar pode ser um meio de enriquecer conhecimentos.
Preocupa-nos essencialmente a questão da saúde pública, mas também as consequências que a vários níveis podem decorrer desta pandemia. È fundamental sentirmos da parte do Governo esclarecimentos constantes e medidas eficazes que nos confiram alguma segurança e uma ideia tão clara quanto possível dos cenários futuros.
A Humanidade enfrentou ao longo do tempo diversas calamidades. No século passado, as duas Guerras Mundiais dizimaram milhões de pessoas. O contencioso latente entre a China e os EUA é uma realidade; assistimos diariamente à crise de refugiados e migrantes forçados. O COVID-19 é mais um inimigo desta vez invisível, porque ainda não dominamos formas eficazes de o combater. Entretanto, devemos tentar contê-lo o mais possível e nesse esforço deverão estar empenhados Países, Lideres, Instituições, Governos, Partidos e, sobretudo, cidadãos, pois é um flagelo que transversalmente nos atinge a todos. Urge neste momento uma maior consciencialização de todos e um sentido apurado de cidadania e responsabilidade.
No meio desta tormenta, do pânico, do medo, das notícias e da desinformação em que parece que tudo ensandeceu, Cabo Verde continua, até então, graças a Deus, sem registar casos de entrada do novo Coronavírus (Covid-19). Apenas casos suspeitos em que os exames se têm revelado negativos.
Esta situação decorre de medidas de boa governação, entre as quais a suspensão dos voos provenientes da Itália, em virtude do elevado número de casos registados, o cancelamento de várias atividades sócio-económicas, políticas, culturais e desportivas, nacionais e internacionais que juntam em espaços delimitados um grande número de pessoas, facilitando o contágio.
A protecção das vidas humanas é uma prioridade. No entanto, sendo a sociedade multisectorial, e havendo sempre uma interligação entre os diversos domínios, devemos estar muito atentos aos efeitos colaterais das medidas tomadas,
É preciso encontrar algumas soluções paralelas para minimizar os efeitos devastadores da supressão dos voos e do inevitável abrandamento turístico num país como Cabo Verde, que recebe uma média de 750 mil turistas ano, com todo o input económico daí decorrente, a uma escala tanto micro quanto macro.
A fim de ir fazendo face a encargos inadiáveis, o Governo de Cabo Verde, através do seu Vice-Primeiro Ministro, referiu o acesso a linhas de financiamento. Esta medida poderá fazer face a necessidades imediatas, mas, por outro lado, irá aumentar consideravelmente a Dívida Externa já por si bastante elevada, que, segundo algumas previsões do Governo, se situa à volta dos 118,5 por cento do PIB. Com mais endividamento, esta situação irá necessariamente piorar.
Na sociedade global em que vivemos, o impacto de medidas num determinado país irá necessariamente afectar outras geografias mundiais e o Governo de Cabo Verde já admitiu a apresentação ao Conselho de Ministro de uma proposta de Orçamento Retificativo. Pensa-se igualmente mobilizar parceiros como o Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Que sejam os especialistas de cada área a dar o seu contributo, ajudando a encontrar colectivamente as melhores medidas. Assim, pensamos que os jovens economistas cabo-verdianos e os já conceituados, no país e na diáspora, deveriam apontar as alternativas que considerem mais acertadas para enfrentar a crise que se adivinha, tanto a nível da saúde (e porque não apelar ao apoio da OMS para os aspetos mais ligados à saúde pública?) como a nível económico.
Excelente artigo
Muito bom amigo e colega.