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Psicóloga Kátia Araújo abre Centro Educativo em S. Vicente

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A jovem Kátia Araújo, formada em Psicologia Organizacional e do Trabalho, acaba de concretizar um sonho que acalenta há mais de 10 anos de ter um espaço próprio para ajudar os alunos a estudar, mas também para ensinar valores e ética. Trata-se do Centro Educativo Crescer com Valores, um espaço acolhedor sito na rua da Casa de Criança em S. Vicente. Por causa da pandemia da Covid-19, o projecto teve de ser reformulado para responder as exigências desta nova normalidade e recebe, pelo menos até o arranque do próximo ano lectivo, crianças dos 2 aos 13 anos. 

Em entrevista ao Mindelinsite, Kátia Araújo conta que sempre gostou da vertente educacional mas, por conta da sua caligrafia, preferiu manter-se afastada por acreditar que as crianças podiam não entender a sua letra. Mesmo assim, quando concluiu a sua licenciatura, decidiu leccionar numa escola privada. A empatia com os alunos foi imediata e os receios de que estes pudessem não entender os seus escritos não se concretizaram. Mesmo assim, decidiu “educar” a sua escrita. “Comprei cadernos e fazia muitas copias. E deu resultado. Trabalhava como professora numa escola privada e, paralelamente, dava explicação na minha casa e na Escola Adventista em S. Vicente. Portanto, tenho alguma experiência com crianças”, revela. 

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Trabalhar com esta faixa etária, diz, a deixa em constante estado de alerta. Com os mais pequenos tem uma vantagem maior porque são mais maleáveis e acessíveis em termos de compreensão e apreensão dos valores. Com os do secundário, firma, já trazem valores de casa, mas ainda dá para mostrar-lhes que existem dois caminho, uma linha recta outra cheia de curvas em que dificilmente se chega a meta.   “É isso que tento passar as nossas crianças. O centro começou a funcionar em Janeiro com intuito de marcar a diferença não em termos de quantidade, mas de qualidade. Como mãe de duas crianças tive de recolher às explicações, mas nunca gostei da forma como funcionavam, sobretudo em termos de horário. Funcionavam das 8h às 10 ou então das 14h30 à 16h30, o que me obrigava a ter uma pessoa em casa para receber e cuidar das crianças até que chegasse do trabalho.”

É esta lacuna que o Centro pretende ocupar. Isto é, funcionar como um espaço de estudo, mas também acolher, transmitir valores e manter estas crianças segura até a hora de irem para a escola ou então serem recolhidas pelos encarregados de educação. “Estamos localizadas entre três escolas pelo que, em caso de dificuldades dos pais, assumimos a responsabilidade de levar as crianças até a escola. Para isso, oferecemos o almoço e podem fazer a sua higiene no centro. Se os pais decidirem levar as crianças para casa para almoçar em casa, podem buscar as crianças e levá-las directamente para casa, sendo que estavam prontas para irem para a escola. Desta forma, os país podem dispensar as empregadas, caso assim entenderem”

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Nova normalidade 

Com as actividades suspensas desde 20 de março por causa da Covid-19, Kátia admite que começou a preocupar com o aluguer do espaço. Felizmente, procurou o proprietário do edifício, que entendeu a situação e aceitou adiar as cobranças para depois da retoma. “Foi um alivio. Entretanto, alguns amigos começaram a pedir-me para ficar com os filhos, enquanto estava em casa. De repente, estava com um número razoável de crianças em casa. Então procurei as autoridades sanitárias para perguntar-lhes se podia abrir o centro, com as devidas precauções e um número reduzido de crianças. Esperamos receber uma visita formal das autoridades sanitárias da ilha. Estou confiante porque tomamos todas as precauções.”

Segundo esta psicóloga, o centro tem neste momento 25 crianças, distribuídas por sete salas. Estas têm idade compreendida entre os 2 e os 12 anos. Têm aulas de inglês, francês, capoeira e teatro. Fazem ainda actividades lúdicas e estão a resgatar as brincadeiras tradicionais. “Fazemos corridas de saco, jogos de uril e salta corda,  culinária, entre outros. É proibido trazer telemóveis e tablets porque queremos que as crianças socializem. O objectivo é fazer com que aprendam brincando, sobretudo nesta altura em que as escolas estão fechadas e não têm matérias para estudar”.

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Quatro adultos trabalham no centro, sendo que fazem de tudo um pouco, desde ministrar aulas, desenvolver actividades, cuidar da higiene das crianças, da alimentação, etc. As crianças mais crescidas tem ainda rodas de conversas ou reuniões com Katia para falarem do comportamento e, principalmente, para ouvir as crianças. “Temos um preço fixo mensal de 5 mil escudos por dois períodos e 2.500 escudos por meio-período. Mas temos uma vertente social para as crianças cujos pais ficaram desempregados durante esta pandemia. Também fazemos um preço especial para filhos de mães-chefes de família que recebem o salário mínimo e que não podem pagar os valores fixos, sobretudo as com mais de um filho”, indica Kátia, deixando claro que este projecto não tem a ver com dinheiro. É sim um sonho. 

E a ambição desta jovem é ir mais longe. Segundo esta nossa entrevistada, o projecto vai abarcar uma vertente social, tendo em conta a realidade de Cabo Verde. “Quero que este projecto seja mais do que um espaço de estudo. Quero que as crianças tenham aqui um acréscimo de valores, mas também de comportamentos assertivos, de ética. Por isso, tiramos sempre uns 15 minutos para falar sobre as atitudes para com os colegas. Hoje temos muitas lacunas nas escolas, muito stress e pouca partilha entre os alunos. Esta conversa é algo que precisámos também nas escolas.”

Entretanto, após o retorno dos alunos à escola, o projecto retomará a sua formula inicial, ou seja, trabalhar com crianças em idade escolar. Ou seja, as crianças menores que estão no centro voltam para os jardins e creches, “Seria anti-ético da nossa parte criar um projecto e depois mudar por oportunismo. Estas crianças pequenas vão voltar para suas creches e jardins. Sempre deixei claro aos pais que estão aqui a prazo. Vamos voltar a trabalhar 100% com meninos em idade escolar.”

Porém, no que tange a covid-19, afirma, de nada adianta todos os cuidados no centro se os pais e encarregados de educação não tiverem cautelas em casa.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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