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Nascida no dia internacional da mulher, “Vozinha” completa 103 anos: “Rija e lúcida”

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A rotina de Adelina Brandão Lush irá sofrer hoje uma “ligeira” alteração. Neste dia internacional da mulher, vai ter de apagar as velas do bolo de aniversário. Certamente todas não irão caber, mas a família terá de improvisar porque são nada menos que 103 anos de vida.

Sim, vida! Esta palavra ganha a sua verdadeira dimensão quando se aplica a Adelina Brandão, aliás, “Vozinha”. Este é o nome por que é tratada pelos 13 filhos, 27 netos e 24 bisnetos, sem contar os tantos amigos conquistados durante todos esses anos na cidade do Mindelo.  

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Árvore genealógica da família de Vozinha

Nascida em Santo Antão a 8 de março de 1919, ano em que a conhecida marca Azeite Gallo foi criada, Vozinha ainda é uma mulher rija e lúcida. Está sempre pronta para um dedo de conversa para quem a quer conhecer e visitar, tal como aconteceu com a reportagem do Mindelinsite. Sentada na sua confortável “poltrona”, foi descortinando um pouco da sua longa história, numa conversa amena enriquecida pela neta Cátia Lush. Uma jovem apaixonada pela avó e que há vários anos vem cumprindo a “tradição” de dedicar um poema à sua Vozinha pelo aniversário.

“Este ano achei que seria interessante registarmos a sua história num jornal e escolhi o Mindelinsite”, revela a jovem, que fala da avó como quem faz referência a uma estrela ímpar do universo. E, quem vê neta e avó conversando, capta a energia de uma cumplicidade gerada por uma convivência fraterna, regada pelo amor que só as avós conseguem transmitir. Sementes que crescem fortalecidas por um afecto alimentado pelos abraços carinhosos, sorrisos meigos, beijos e aquela comidinha mimada.

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Conta Cátia Lush que Vozinha sempre foi uma mulher cheia de dotes, que bem nova iniciou a lida dos cozinhados – primeiro feitos à lenha na casa situada na zona de Pé d’ Verde, onde morou por alguns anos, antes de “descer” para o centro da cidade do Mindelo e montar residência num casarão colonial construído a escassos metros da Praça Nova. Mais tarde passou a ser tradição fazer aquela panelada de catchupa para toda a família, ornamentada com muitas verduras vindas de Santo Antão, sua ilha natal. Além disso, Vozinha mostrava-se especialista em fazer peru assado no forno, atum estufado, canja de galinha, doce de marmelo, cuscuz, funguim, etc. Ela que era uma grande apreciadora de pipocas e do seu cafezinho. “Tomava grandes canecadas de café, mas hoje já nem tanto”, confessa Vozinha, que prefere agora comer a sua papa de aveia e pon torrode (pão torrado), enquanto assiste a televisão, sua fiel companheira.

Vozinha, diz a neta, foi sempre uma mulher crítica, culta e sábia. “Está sempre à frente dos acontecimentos, e não poderia ser diferente, pois é ouvinte assídua da rádio e acompanha a televisão, embora seja mais adepta das telenovelas”, explica a neta, que descreve Vozinha como uma mulher forte, teimosa e perspicaz. Uma mulher que, diz, nem a seca, a fome e a Covid conseguem parar.

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 “Admiro a sua capacidade de ser prudente e realista, que analisa os factos da vida e, quando menos se espera, tem aquela palavra certeira, fruto de anos de experiência, da sabedoria conquistada e que oferece aqueles ´conselhos’ cheios de carinho e amor”, relata Cátia Lush.

Filha de Manuel Zacarias Brandão e Maria das Dores Brandão, Vozinha passou a residir na ilha de S. Vicente ainda muito jovem. Na cidade do Mindelo viria a conhecer o seu marido Manuel Jorge Leite Lush e construir uma grande e unida família.

Porém, o seu companheiro viria a falecer em abril de 1988. Um homem que, conforme Cátia Lush, era um trabalhador metódico e organizado, que foi funcionário da antiga Vascónia e dos serviços ingleses na cidade do Mindelo. “O meu avô tinha uma espécie de oficina montada no quintal da nossa casa, recheada de ferramentas. Ele era um ‘boldonhe’, como se costuma dizer em S. Vicente. Fazia trabalhos de canalização e era muito metódico!”

Hoje, pela tardinha, Vozinha vai soprar as velas dos seus 103 anos de vida. A família vai reunir-se pelo final do dia e fazer um “lanchinho simples”, mas recheado de carinho.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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