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Gil Rodrigues: “O cão sabe quem és e tudo o que fazes por ele”

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Costuma andar por São Vicente acompanhado de cães de várias raças, com toda a calma do mundo. Para este tratador, é como juntar o útil ao agradável. É que Virgílio “Gil” Rodrigues, 52 anos, montou um serviço pessoal com base na sua paixão por esses animais e que tem dado resultado. Há cerca de nove anos que, diz, cuida dos cães de algumas famílias e a cada dia há mais procura pelos seus serviços. Já recebeu inclusive propostas tentadoras para trabalhar no Sal e também com animais de apenas uma família. Recusou porque, para ele, seria duro abandonar os outros animais e dar as costas a amigos que o tratam como se fosse da família. Gil não pretende abandonar tão cedo o seu modo de vida, porque, além de ser o seu sustento, considera esses animais os seus melhores amigos.

Mindel Insite – Por aquilo que dá para perceber o teu trabalho é cuidar de animais de estimação de outras pessoas. Há quanto tempo faz isso?

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Gil Rodrigues – Já há cerca de 9 anos. Anteontem, por coincidência, os primeiros cães que comecei a cuidar completaram nove anos de idade.

MI – O que te levou a tomar essa iniciativa?

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GR – Porque gosto de animais, especialmente de cães, mas posso dizer que isso advém do meu dom. Desde que decidi fazer esse trabalho, enriqueci os meus conhecimentos sobre esses animais no contacto com outras pessoas, sempre com sentido de humildade; além disso há websites instrutivos, mas o fundamental nisso tudo é o dom.

MI- Para ti é uma opção de emprego?

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GR – Sim, sem dúvida. Conheci algumas pessoas na Marina do Mindelo que me viram com alguns cães e me disseram que essa actividade rende muito dinheiro na América e na Europa. Viram que tinha uma boa relação com os animais e me incentivaram. Acabei por assumir essa actividade como o meu trabalho.

MI- Começou a trabalhar com o pessoal dos iates que ficam atracados na Marina?

GR – Nada disso, foi apenas uma opinião que me deram. Tenho grandes amizades com os clientes da Marina do Mindelo, com esse pessoal que vem fazer pesca desportiva, e hoje, graças a isso, já falo oito línguas, entre as quais o russo, francês, inglês, holandês, etc. Falta-me aprender alemão e mandarim.

MI- Trabalha exclusivamente com cães?

GR – Sim, gosto especificamente dos cães. Para mim são, na verdade, os nossos melhores amigos. Desde criança que lido com eles; já tive alguns, mas só de raça “vira-lata”.

MI- Vale a pena trabalhar neste ramo em S. Vicente?

GR – Até este momento estou satisfeito. Tenho recebido propostas para ir trabalhar no Sal. Um amigo já tentou levar-me por três vezes, mas sempre recuso. Tenho uma ligação muito forte com os animais e não posso abandona-los de um momento para outro.

MI – É a única pessoa que presta esse serviço em S. Vicente?

GR – Que eu saiba sou único. Há um rapaz que mora em Alto Miramar e que gosta também dessa actividade. Pode ser que venha a trabalhar comigo porque gosto dele.

MI – Pretende continuar a exercer essa actividade?

GR – Este é o meu futuro, não vou poder desfazer-me tão facilmente dos meus amigos de quatro patas. A cada dia o meu trabalho é mais reconhecido. Quase todos os dias sou abordado por pessoas interessadas no meu serviço.

MI – Os cães têm as suas personalidades e há algumas raças que provocam algum receio nas pessoas, como pitbull e rottweiler. Escolhe as raças com as quais trabalha ou nem por isso?

GR – O pitbull é um cão normal, tenho muitos amigos que têm essa raça em casa e se dão bem. Comportam-se consoante forem educados, tal como outras raças e as pessoas.

“O cão escolhe o seu líder”

MI – Nunca teve problemas de segurança com os cães?

GR – Nunca porque sei como lidar com eles. É preciso haver o necessário domínio. O cão escolhe um líder. Pode viver contigo em casa, mas a sua educação exige entrega. Ele é um membro da família e como tal exige a sua dose de atenção. Mas ele escolhe um líder.

MI – Se os cães têm os seus donos e trabalhas com eles como é que fica essa questão do líder? Quem passa a ser o líder?

GR – Cabe ao cão decidir quem para ele é o líder. Há uma relação estabelecida e decide quem vai respeitar mais. Uma pessoa pode pagar-te para as educar, assim como se relacionam com quem lhes oferece carinho, água, comida, etc. Lidam com toda a gente, porque têm os seus próprios interesses. Sabem o que contar de cada um. Por exemplo, se sabem que vão sair contigo ficam ansiosos e deixam de dar atenção ao dono.

MI – Ficam que nem as crianças ansiosas por ir brincar?

GR – Exacto, porque é uma necessidade que têm. E sabem que você é que pode satisfazer-lhes essa necessidade e não outra pessoa.

MI – É preciso saber conquistar a sua simpatia?

GR – Claro, o cão sabe tudo o que fazes por ele.

MI – Com quantas pessoas trabalha neste momento?

GR – São cerca de doze pessoas, mas podiam ser mais, mas não quero. Já me fizeram propostas tentadoras, mas teria que trabalhar com os cães de apenas uma família. Para mim seria uma ingratidão para com as outras pessoas, que me tratam como se fosse da família.

MI – Cria uma relação de afecto com os cães, que passam a fazer parte da tua vida?

GR – Exacto, esses cães são meus também.

MI – O que faz com os cães durante o tempo que ficam juntos?

GR – Há raças que têm muita energia e precisam de muita actividade física. Consoante o animal, assim preparo as actividades durante as duas ou três horas que ficamos juntos. Faço o meu trabalho de forma organizada. Vamos para muitos lugares, como Morro Branco, Jôn Ribeiro, atrás da Cabnave… Nadam, correm, brincam, enfim passamos bons momentos juntos.

MI – Já te vi a andar acompanhado por mais de um cão. Trabalha com vários cães ao mesmo tempo?

GR – São cães da mesma família. Quando os donos saem para o campo e não conseguem levar os cães fico com eles. É uma questão de amizade.

“Quem quer um cão deve assumir essa responsabilidade”

MI – Preocupa-se também com a alimentação dos cães ou só faz passeios?

GR – Antes de aceitar trabalhar com um cão tenho que saber como ele está e como é tratado. A alimentação deve ser com base em ração, que previne várias doenças. É preciso ter cuidado nesse aspecto e levar o cão ao veterinário sempre que for preciso. Quem quer um cão deve assumir essa responsabilidade. Há muita gente que adora os cães quando são pequenos, quando crescem são abandonados na rua.

MI – Como é que fica ao ver um cão abandonado?

GR – Fico triste, repara que esse cão vai-se adaptar na rua para poder sobreviver. E pode tornar-se num cão selvagem. Há neste momento uns 13 mil cães vadios em S. Vicente. Pelos lados do Km5 e Km6 atacam outros animais, como galinhas, patos, perus, etc. Isto é um perigo.

MI – Como é que o problema dos cães vadios pode ser resolvido?

GR – Neste momento está no terreno a associação Si ma bô, que vem castrando os cães. Mas nem todas as pessoas ajudam. Acho que é preciso a intervenção da Câmara de S. Vicente. As pessoas que vão para a lixeira municipal já foram atacadas. O cão tem o seu instinto, começa a atacar outros animais para se alimentar e vai chegar o momento em que pode virar a sua atenção para as pessoas. Costumo ir buscar cães em Chã d’Marinha e passar pela Cova d’Inglesa e o Lazareto. Costumo encontrar uma série de cães nesse trajecto. Acabamos por ficar amigos, porque eles conseguem distinguir quem é quem e gravam a tua voz. Todas as segundas e quintas passo por esses lados e os encontro, inclusivo eles esperam por mim.

MI – Nunca foi ameaçado, uma vez que passa pelos territórios deles acompanhado de outros cães?

GR – Realmente eles marcam os seus territórios. Quando fazem xixi e depois arremessam a terra com as patas traseiras é porque estão a marcar o terreno. E todas as vezes que passam por essa zona fazem a mesma coisa. Já passei atrás do Cemitério sozinho, encontrei alguns cães a comer e me reconheceram. Podes ser visto como amigo ou inimigo.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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6 Comentários

  1. KZB, eu lembro me bem do Gullit (Gil), quem conheço desde criança, me ter confidenciado a respeito desta sua tarefa e do seu amor pelos cães.Na altura fiquei muito contente.Que bom ter lido esta entrevista! Estiveram ambos muito bem.Um grande abraço para os dois.

  2. Parabéns, pois falar do nosso melhor amigo é deveras interessante e importante!
    Eu tenho o KIM, meu rapagão, que é grandalhão, mas muito doce e carinhoso! Os cachorros sabem agradecer, nos ensinam a ser melhores como pessoas e nos ensinam os gestos mais ternos e simples da vida!!! Amo o meu KIM com toda força do meu ser e farei tudo para vê-lo sempre bem!
    Vida longa e saúde aos cachorrinhos deste Senhor!
    Um abraço e um feliz dia pa bzot tud la pa Terra Sab/Mindelo

  3. Casta intrevista mas mal organizod eh ess?
    Bom conteúdo, um mnr de dribla dsempreg , mas falta de vocabulário, ou vocabulário mut mut mut pobre.

  4. Esse comentário do “Mindelinsite” é puro ciumes pq a minha entrevista teve +/- 1.400 visualizações de leitores.
    Cumprimentos,
    Gil (Gullit)

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