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Filhos exigem pedido de desculpa dos Bombeiros da Praia pela forma “desumana” como enterraram a mãe, vítima de cancro

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Dois filhos de Idalina Relva estão a exigir um pedido público de desculpa dos bombeiros da cidade da Praia pela forma “desumana” como realizaram o funeral dessa falecida e o tratamento que deram aos familiares. Tudo porque trataram o caso como se fosse de Covid-19 quando a paciente morreu de cancro. Se essa instituição negar fazer isso garantem que vão recorrer às barras do Tribunal.

Em causa a forma “desumana” como, segundo Gilson Maocha e a irmã Suely Maocha, os bombeiros da Capital efectuaram o enterro dessa mulher cabo-verdiana, que chegou de Portugal com um cancro na sua fase terminal e que acabou por morrer. Acontece que, conforme essas duas fontes, apesar das evidências da causa do falecimento, o caso foi tratado como se fosse de Covid-19. Mas, mesmo assim, os bombeiros não terão respeitado as normas em vigor no país neste momento de pandemia para o funeral de vítimas dessa doença. A lei que reconhece a actividade funerária como fundamental para garantir a dignidade das cerimónias fúnebres e estabelece como limite máximo de 10 pessoas no enterro, nos casos comprovadamente de Covid-19.

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Como relatam, o caixão foi pego na casa mortuária do hospital Agostinho Neto, metido numa ambulância dos bombeiros e levado a toda a pressa para o cemitério. A ambulância ligou as sirenes para abrir caminho, entrou numa via de sentido proibido só para poder chegar o quanto antes. Quando os filhos chegaram ao cemitério, com cerca de 3 minutos de diferença, o caixão já estava depositado na cova. “Dá a sensação que estavam a despachar algo que não era um ser humano”, comenta Gilson Maocha, que viajou de S. Vicente, mas não pôde sequer ver a mãe viva. Este assegura que o enterro nem demorou cinco minutos e sem a presença de um membro da família, quando a lei possibilita que pelo 10 pessoas assistam ao enterro. No caso em concreto, foram convidadas justamente 10 pessoas para o efeito, mas ninguém conseguiu ver o funeral. Por isso, para Gilson Maocha, aquilo que fizeram foi uma atrocidade.

E mais: revoltada com a forma como tudo aconteceu, Suely Maocha tentou entrar no cemitério da Várzea, mas foi impedida por uma força policial que foi entretanto acionada. É que nessa altura decorria outro funeral e foram adoptadas as mesmas medidas, que criaram revolta também no seio dos familiares. (ver reportagem da Record). Segundo a moça, um agente chegou mesmo a sacar da arma perante a sua insistência em entrar e ver onde enterraram o corpo da mãe. Mais tarde, teve a oportunidade de ir até a cova, mas sozinha.

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Idalina Relva chegou de Portugal em Março com uma infecção pulmonar grave e foi levada algumas vezes para o banco de urgência do HAN. Foi este quadro que terá obrigado as autoridades sanitárias a trata-la como suspeita de Covid-19, tendo por base o protocolo. No entanto, explica Suely Maocha, essa dificuldade respiratória foi consequência da quimioterapia a que foi sujeita em Portugal e sabiam disso no HAN.

“Na véspera da sua morte ela sofreu uma crise e foi levada para o hospital. Assim que ouviram falar de falta de ar na urgência mandaram-na logo para a área da Covid. Foi vista pelo médico e este disse-nos que a sua morte era eminente e que não era aconselhável ela ficar no hospital, para a levarmos para casa”, conta Suely.

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No HAN, Idalina Relva foi ligada a oxigénio, mas o seu quadro era crítico. Tinha líquidos nos pulmões e no caminho da casa para o hospital sofreu algumas crises respiratórias e foi submetida a massagem cardíaca. Decidida que ela iria para casa, a paciente morreu assim que foi desligada do oxigénio. Entretanto, o pessoal técnico retirou amostras para análises laboratoriais ao coronavírus da Covid-19. O resultado acabou por ser negativo, mas o corpo já estava enterrado.

Se já foi difícil a esses filhos perder a mãe, pior ficou poder despedir-se dela com dignidade. Tudo isso devido a forma “desumana” como, nas suas palavras, o caso foi tratado desde a casa funerária ao cemitério. Para esses irmãos, a única pessoa que mostrou profissionalismo e deu-lhes uma atenção digna foi a Delegada de Saúde da cidade da Praia. 

Desiludidos fundamentalmente com o comportamento dos bombeiros municipais da Capital exigem agora um pedido de desculpas públicas do Comandante ou, caso contrário, prometem levar o caso à Justiça. 

O Mindelinsite promete continuar a tentar ouvir a versão dos bombeiros municipais da Praia.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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