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Filhas indignadas com morte “repentina” do pai, “isolado” e tratado pelo HBS como caso de Covid-19

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Duas filhas de João Fermino, um idoso falecido no dia 17 de Julho em S. Vicente, estão indignadas com o tratamento dispensado pelo HBS ao pai, a falta de informação sobre as causas do óbito e a forma como a notícia da morte foi transmitida aos familiares. Ariana Fermino enfatiza que a família quer saber qual a atenção e o tratamento dispensado ao pai e em que circunstâncias ele faleceu já que “ninguém” viu o doente moribundo e nem depois da morte porque o funeral foi realizado de urgência por decisão do HBS.

“O meu pai deu entrada no banco de urgência, foi internado, isolado e tratado como um doente de Covid-19. Ele foi enterrado como se estivesse infectado, no entanto o resultado do teste PCR deu negativo, mas chegou depois de realizado o funeral. Ninguém da família viu em que condições ele foi internado e, das poucas vezes que conseguimos falar com o hospital através de uma linha que disponibilizaram, as informações eram as mínimas: ele comeu alguma coisa e encontra-se estável!”, conta Ariana Fermino, que ainda não pôde acreditar no desaparecimento físico do pai.

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“Ainda sinto a presença dele”, confessa a filha, que, na altura em que falou com o Mindelinsite, sequer sabia qual foi a causa da morte. Aliás, ela critica igualmente a forma repentina como a notícia foi dada a um irmão. Como conta, este esteve a tentar entrar em contacto com o pai por telefone na sexta-feira, dia 17, mas acabou por ir pessoalmente ao hospital já que ninguém atendia as suas insistentes chamadas. Ao chegar, conta, o irmão foi informado por uma enfermeira que a direcção do HBS precisava falar com ele. E foi nesse contacto que, prossegue Ariana Fermino, o irmão foi informado do falecimento do pai. 

“O coitado do meu irmão foi visitar o pai e recebe esta notícia, em risco de sentir também um mal. Ele ficou de rasto”, comenta a referida fonte, que não esconde a sua revolta. Ela está convencida que o estado de saúde do pai piorou com o tratamento que lhe foi dispensado no HBS. O isolamento, especula, deve ter afectado psicologicamente o progenitor, um homem que viveu durante 90 anos sempre rodeado dos familiares e amigos. “De repente ele é internado e impedido de receber visitas dos familiares”, salienta.

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Segundo Raquel Fermino, que acompanhou o paciente ao HBS, o pai foi obrigado a esperar pela sua vez no banco de urgência, apesar da idade. Embora tenha aguardado cerca de 30 minutos, o certo é que começou a mostrar sinais de cansaço como sonolência e cabeça pendida. “Ele chegou ao banco de urgência debilitado, mas com alguma energia. Fez alguns exames e ficou à espera dos resultados. Só que começou a ficar cansado. Depois foi deitado e colocaram-lhe uma máscara cirúrgica. A máscara aumentou a sua dificuldade respiratória e tiveram que a retirar”, continua Raquel Fermino, que confessa ter ficado “chocada” quando lhe disseram que o pai ia ser internado em isolamento. “Ele foi levado e tratado como se fosse um paciente de Covid-19 porque ele apresentava dificuldades respiratórias e um problema no coração”, revela esta professora. Segundo Raquel Fermino, o médico disse-lhe que o pai ia ficar dois dias internado e acertou em cheio. Dois dias depois João Fermino falecia. 

Agora os familiares querem saber qual foi a causa da morte, porque, dizem, nada pressuponha que nunca mais ele regressaria ao convívio dos entes queridos. O malogrado, que foi funcionário da Junta Autónoma dos Portos e colaborador da Rádio Barlavento, estava numa cadeira de rodas por conta de uma queda que deu na cidade da Praia e que terá sido mal cuidada pelos serviços de saúde. O ferimento foi piorando e o idoso acabou por perder força nos membros inferiores. Mas, até aos 89 anos, segundo Ariana Fermino, ele ainda fazia as suas caminhadas. 

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Ao chegar a S. Vicente, os médicos estranharam como nunca deram atenção a essa queda. O idoso foi submetido a uma cirurgia e retiraram-lhe carne apodrecida nas costas. Aos poucos foi-se reabilitando do ferimento, mas acabou por ficar numa cadeira de rodas. Levado para o banco de urgência do HBS na semana passada acabou por falecer em circunstâncias que a família considera “estranhas”. Conforme Ariana Fermino, o HBS acabou por ordenar o funeral em poucas horas, o corpo passou apenas em frente à casa e levado para o cemitério. Depois de realizado o funeral o teste PCR deu resultado negativo para Covid-19.

Descartar a Covid-19

O paciente, conforme a directora do HBS, deu entrada no hospital debilitado e, por estar com uma pneumonia, foi internado na enfermaria de investigação. “Por regra, toda a pessoa que apresenta sinais de pneumonia deve ser investigada para se descartar a presença do novo coronavírus”, explica Ana Brito, adiantando que esta informação foi facultada ao filho do doente.

Segundo a responsável do HBS, o paciente foi internado no dia 15 de Julho e no dia seguinte o hospital forneceu um número de telefone para permitir o contacto dos familiares com o mesmo, mas acabaram por fornecer o número errado. Esse contacto, acrescenta, é para internados com Covid-19, o que não era o caso. Ana Brito reconhece que houve uma falha, mas que foi corrigida.

Aliás, diz que o filho do doente foi contactado por uma enfermeira, que o pediu para comparecer no hospital no dia 17 e falar com a médica que estava a acompanhar o caso. “Acontece que o paciente sofreu uma descompensação na período da manhã e faleceu”, adianta Ana Brito. Conforme a directora do HBS, houve uma trágica coincidência entre o momento da chegada do filho no hospital e a morte do pai. Deste modo, o jovem acabou por receber a pior notícia. Perguntada sobre a causa da morte, Ana Brito respondeu que essa informação só será fornecida à família. 

É certo que o HBS desencadeou uma investigação para saber se o doente estava infectado com o vírus da Covid-19. No entanto, acabou por falecer antes do resultado do teste laboratorial. Deste modo, e por precaução, o hospital decidiu tratar o caso como se fosse de Covid-19 e mandou efectuar o funeral de urgência. O teste PCR ficou concluído já depois do enterro e deu resultado negativo. Ana Brito diz lamentar o sucedido, mas lembra que todo esse procedimento foi desencadeado devido a pandemia.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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