O investigador cabo-verdiano Alcides Lopes ficou surpreso com a atribuição de uma menção honrosa ao ensaio “Formas resilientes da tradição na diáspora africana em Lisboa: Kola San Jon e o Direito à Cidade” pelo júri internacional para o melhor artigo científico publicado pela revista portuguesa Fisisterra em 2020. Em conversa com Mindelinsite, Lopes explica que a sua surpresa resulta do facto de a revista, vocacionada para publicar textos inéditos relacionados com o ambiente geográfico, sequer ser da área da sua pesquisa, que, diz, é um estudo de âmbito etnomusicológico.
Realizado por Alcides Lopes, em coautoria com a investigadora Júlia Carolino, o trabalho incide sobre o Bairro da Cova da Moura e a inscrição, em 2013, da prática performativa Kolá San Jôn no Inventário Nacional de Património Cultural Imaterial. Lopes adianta que a análise baseia-se numa pesquisa etnográfica realizada entre 2011 e 2018, incidindo sobre essa festa popular cabo-verdiana, simultaneamente como prática cultural que actualiza os processos sociais e como dispositivo identitário estratégico que reivindica a visibilidade da comunidade.
“Assim, focamos a festividade organizada anualmente na Cova da Moura e a agenda anual de atividades externas, na sua relação com a luta pela valorização do lugar na Área Metropolitana de Lisboa (AML), bem como o próprio processo de patrimonialização do Kola San Jon em Portugal”, salienta o estudioso cabo-verdiano residente no Brasil, onde fez doutorado pela Universidade de Pernambuco.
Essa reflexão, prossegue, remete para a questão do direito à cidade, “na sua qualidade de prática cultural de um lugar que o capitalismo empurra para as margens, mas também enquanto evento lúdico com capacidade de gerar centralidades cidadãs”. Para Lopes, Kola San Jon faz jus à noção de que habitamos hoje, com crescente intensidade, redes que cruzam um emaranhado de trajetórias mais importantes do que as fronteiras.