Uma curta publicação feita pelo jovem Marcos Silva sobre o concurso restrito de fornecimento de onze carros elétricos ao Governo, que vai custar 78 mil contos ao erário público, está a provocar a indignação dos cabo-verdianos. Os comentários espelham o descontentamento generalizados das pessoas, que criticam sobretudo as prioridades do Executivo de um país a enfrentar enormes dificuldades aprofundadas nos últimos anos por causa da pandemia e da guerra na Ucrânia.
O mote foi dado pelo próprio Marco Silva, que anuncia que, com esse montante o Governo poderia colocar seis mil famílias um pequeno painel solar com capacidade para iluminar a casa, carregar telemóveis e tablets, evitando assim vários problemas com o uso de velas e petróleo, ou às crianças que estudam no escuro. “Aproximadamente 24 mil pessoas com acesso a luz elétrica através destes painéis solares…”, enfatiza, para acrescentar logo de seguida que, como diz o outro já desanimado, “ess terra e ba devagar… prioridades invertidas”.
Para um dos comentaristas, este concurso mostra que “as prioridades estão muito bem definidas nestas ilhas”, ao que um outro responde “só para alguns”. António Silva optou por instigar os cidadãos a se organizarem, investigarem e exigirem esclarecimentos da situação e responsabilidades.
Andrade Toys critica mais “es dxparat” do Governo, dizendo que os cabo-verdianos são reféns na sua própria terra. “Por meio de um referendo algumas coisas podem ser evitadas…”, desafia Pedro Lopes Filho, que se mostra disposto a avançar com esta ideia com ajuda de “alguns cidadãos activos”, reunindo para isso as assinaturas necessárias. “Mas pode ser tarde demais”, constata.
O rol de críticas prossegue com Fátima Monteiro a afirmar que o “subdesenvolvimento é autofágico”. “Alimenta-se do tesouro do Estado”. Arlete Santos desabafa que “contra estes factos não há argumentos” e Djotch Ramos diz que “cada país tem sua doença e, em Cabo Verde, os seus políticos são como câncer. Já Luīs Graça classifica a situação de, no mínimo, revoltante. “Infelizmente vivemos país de acomodados, em que eu faço parte… iremos ficar quase mudos e calados”, reforça.
Foi no dia 4 de maio último que o Governo aprovou a aquisição de 11 viaturas elétricas para as colocar ao serviço do Estado, no âmbito da estratégia nacional de ter uma frota 100% elétrica até 2030, segundo resolução aprovada no Conselho de Ministros de 11 de abril. Este autoriza o Ministério das Finanças a adquirir estas viaturas, através de um concurso restrito, com recursos a locação financeira por cinco anos, numa renda mensal de 1.300 contos mensais. Como argumento, afirma, “visa-se a substituição integral de todos veículos equipados com motores térmicos para veículos elétricos até 2050, sendo que na Administração Pública a meta é ter uma frota 100% de veículos elétricos em 2030”.
O Governo definiu como meta ter até 2026 um quarto da frota automóvel nacional composta por veículos elétricos, prevendo para isso a implementação, ainda nesta legislatura, da Carta de Política para a Mobilidade Elétrica, “através de um amplo programa visando a substituição de um quarto da frota nacional, incluindo transportes de passageiros, escolares, minibus e táxis por veículos elétricos”. Também tornará obrigatório nas aquisições de viaturas para a administração pública, chefias e membros do Governo que “pelo menos 30%” sejam veículos elétricos.