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Cultura

Faleceu a cantora Titina Rodrigues, exímia intérprete da Morna e da Coladeira 

Faleceu na madrugada desta sexta-feira, 6 de maio, vítima de doença prolongada, a cantora Titina Rodrigues, uma exímia intérprete da Morna e da Coladeira, dois géneros musicais típicos de Cabo Verde. Natural de São Vicente, Albertina Alice dos Santos Rodrigues Oliveira de Almeida, tinha 75 anos. 

A notícia do falecimento de Titina Rodrigues foi dada por Ana Firmino, através de uma curta publicação no Facebook e confirmada logo de seguida em uma curta conversa com Mindelinsite. “Infelizmente não queria ser eu a portadora desta noticia, mas alguém tinha de o fazer e coube a mim, a pedido do seu filho. A nossa Titina morreu esta madrugada em Lisboa. Estava muito doente havia algum tempo. É uma grande perda para Cabo Verde”, declarou a artista, com a voz embargada. 

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Para Ana Firmino, fica difícil falar de Titina porque tinham uma ligação muito forte. Eram mais do que colegas, eram amigas de longa data. “Titina era dona de uma voz poderosa, ímpar. Era uma artista sem comparação”, frisou, realçando que, embora a noticia fosse esperada, tendo em conta que estava em coma, não deixa de ser surpreendente. “Em nome da nossa cultura, do nosso povo, deixo um beijo muito grande. Titina desapareceu fisicamente, mas vai estar sempre presente”, acrescentou. 

Titina Rodrigues começou a cantar muito cedo, conforme informações avançadas à imprensa numa das suas visitas a Cabo Verde. “Conheci de perto a música brasileira, visto que meu pai admirava e gostava de interpretar Angela Maria. Um dia, um vizinho, que era dirigente do Castilho, ouviu-me ao passar em frente à casa da família a cantarolar e convidou-me para cantar num espetáculo no clube. Tinha 12 anos”, detalhava. 

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Aos 14, Titina fez a sua primeira gravação em disco. Cantou a coladeira “Estanhadinha” de Franck Cavaquinho num EP com outras três músicas na voz de Djosinha. O disco recebeu o titulo de Mornas de Cabo Verde, mas só tinha coladeira. “É um disco de 45 rotações da série editada pela Casa do Leão nos finais da década de 1950 e inícios dos anos 1960”, lê-se no site caboverdeamusica.online

Por esta altura, acrescenta, a jovem já actuava na rádio. “O programa era feito com Evandro de Matos, director da Rádio Clube do Mindelo. Franck Cavaquim estava sempre a compor, praticamente todas as semanas tiníamos músicas novas. Ele ia à minha casa, ensaiávamos, e à quinta-feira íamos para a rádio. Não era gravado, começávamos cantar e saía em directo”, relatava Titina. 

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Em finais da década de 1970, gravou um EP com acompanhamento do grupo Voz de Cabo Verde e arranjos de Paulino Vieira. E, cerca de uma década depois, saiu o EP Titina Canta B.Léza, em que a cantora interpretava unicamente músicas deste compositor. Este álbum foi reeditado em LP e depois mais duas vezes em CD. A cantora participou ainda nos discos Cabo Verde canta a CPLP, Músicas de Intervenção Cabo-verdiana e Lisboa nos Cantares Cabo-verdianos, projectos temáticos de Alberto Rui Machado que, em 2008, produziu o CD que Titina lançou com o título Destino Cruel. 

Em 1991, a cantora fez uma participação na série televisiva “Por Mares nunca dantes navegados”, do realizador Carlos Avilez para a RTP. Participou ainda no programa “A língua viva” (2001) da RTP, dirigido aos Palop com o objectivo de ensinar a língua portuguesa. No teatro, em 1996, participou em “O Último baile do Império” uma produção da companhia portuguesa A Barraca, com encenação de Maria do Seu Guerra, a parte de texto do brasileiro Josué Montello. 

Trata-se de um percurso rico, que agora terá de ser honrado e valorizado. Aos familiares e amigos, o Mindelinsite endereça as mais sentidas condolências.

C/Caboverdeamusica.online

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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