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50 anos de independência: Onde está a juventude no poder?

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Raphael Ferreira*

Passaram-se cinco décadas desde que Cabo Verde conquistou a sua independência, fruto de uma luta heroica e visionária, protagonizada por jovens corajosos de Cabo Verde e da Guiné-Bissau. Homens e mulheres, muitos com menos de 30 anos, arriscaram tudo pela liberdade, pela dignidade do povo e pela construção de um Estado soberano. Eram jovens, sim — e foram eles os primeiros arquitetos da nossa democracia. Mas hoje, 50 anos depois, somos forçados a perguntar: onde está essa juventude no poder?

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Um Parlamento sem jovens

Atualmente, dos 72 deputados da Assembleia Nacional de Cabo Verde, nenhum tem menos de 35 anos. Nenhum. Este dado, por si só, devia inquietar todos os que acreditam numa democracia vibrante, participativa e representativa. Como pode um Parlamento refletir os anseios da população quando exclui uma das suas faixas etárias mais dinâmicas e numerosas?

Perpetuação do Poder e o Síndrome do “Cargo em Cargo”

O fenómeno da perpetuação no poder tornou-se quase uma norma. Figuras que já ocuparam inúmeros cargos ao longo de décadas continuam a transitar de posto em posto, muitas vezes mais por fidelidade partidária do que por mérito ou visão transformadora. Este ciclo fechado bloqueia a renovação, reprime a inovação e afasta a juventude da política institucional. Este cenário transmite uma mensagem perigosa: para os jovens, não há espaço. Para os mesmos de sempre, há sempre lugar.

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O que está em jogo

A ausência de jovens em cargos de decisão não é apenas uma questão de números — é uma crise de representatividade. A juventude de hoje enfrenta desafios únicos: desemprego crónico, dificuldades no acesso à habitação, insegurança digital, migração forçada e falta de oportunidades. Quem melhor do que os próprios jovens para pensar políticas que lhes digam respeito? Quando os jovens não estão sentados à mesa das decisões, são quase sempre o prato servido sobre ela.

A hora é agora

Os jovens cabo-verdianos não podem continuar a ser apenas combustível de campanhas eleitorais — têm de ser protagonistas do futuro. O poder não se recebe: conquista-se, exige-se, disputa-se com coragem e ideias. A independência foi conquistada por jovens — a renovação da democracia também terá de sê-lo.

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Por isso, é hora de:

  • Exigir cotas etárias nas listas partidárias;
  • Criar plataformas de incubação política para jovens;
  • Incentivar movimentos independentes e alternativos liderados por juventude;
  • Responsabilizar os partidos políticos por não integrarem jovens nos seus quadros de decisão.

Conclusão

Cabo Verde celebra 50 anos de liberdade política. Mas, sem juventude no poder, corremos o risco de celebrar apenas a forma e não o conteúdo da democracia. É tempo de uma nova independência — uma independência geracional que garanta que os jovens não são apenas herdeiros de um passado glorioso, mas autores do futuro que queremos construir.

*Presidente da Geração B-Bright ( plataforma juvenil)

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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