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Opinião

São Vicente é mais que isso…

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Por Nelson Faria

O estereótipo de colar São Vicente apenas as festas, festivais e “ O Festival” é recorrente por claro desconhecimento, por simples deturpação da realidade, por mera vontade de minimizar tudo o que ela tem e dá ao país ou de valorizar o que convém…

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Evidentemente, o espírito festivo e as festas que nos caracterizam, que não abdicamos, servem para mostrar quem somos, servem altivar a nossa alegria de viver, servem para aproveitarmos a vida, servem para alegrarmos as de quem nos visita e quer estar connosco. E queremos todos aqui no paríso! Venham para todos os eventos, garantimos um acolhimento de excelência. Se vingar, que o “cluster” das festas, paródias e festivais seja mais uma das vantagens competitivas da ilha e do país.

O erro reside em resumir São Vicente a tão-somente um conjunto de festas e festivais com qualidade. São Vicente tem, sim, festivais de música, de gastronomia, de teatro, de desporto, de tudo o que se quiser. São Vicente tem o tal melhor Carnaval de África. Tem, aos montes, festas privadas de referência, sem contar as inúmeras paródias semanais entre amigos e familiares. São Vicente vive disso, também. Ainda bem! Afinal “vida cá pode ser sô trabaiá e pagá dnher”, “ No tá ganhá poc ma nô ta vivê bem”. Aliás, a maior vantagem de São Vicente é mesmo a qualidade de vida que propicia a quem escolheu a ilha para viver. Não tem preço, apenas um valor imensurável.

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Por outro lado, existe um São Vicente trabalhador, experiente, com um potencial extraordinário a vários níveis, infelizmente, subvalorizado. Já disse alguém e eu corroboro, “ a ilha é uma maravilha!” mas pode dar mais, pode ser mais…

Das mais-valias e potencialidades, de forma resumidíssima, apontaria em primeiro lugar o que fez a ilha ser o que é: o Porto Grande e o sector marítimo, o know-how nesta área onde vantagens são mais que evidentes. Sem descurar a pesca e industrias conexas, onde reside as maiores exportações do país. Industrias várias, embora já foram mais, que nos orgulham e garantem o ganha-pão de muita gente, em sectores como alimentação, vestuário, calçado, entre outros.

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Creio que no sector da energia é evidente a relevância e a capacidade instalada. Embora o comércio já teve mais pujança, ainda assim não tem faltado boas referências tradicionais que se mantém robustos desde há muito até a presente data. No desporto, creio que não basta dizer que no desporto-rei, futebol, somos o crónico campeão – obrigado Mindelense – mas é importante ressalvar que em todas as modalidades que se praticam no país se não somos primeiro, estamos nos lugares cimeiros. Não poderia deixar de mencionar o Atlético Clube do Mindelo em Andebol – Grandes Campeões.

A costa da ilha de São Vicente tem praias para todos os gostos, tem potencial para ser melhor explorada não somente na vertente lazer e turismo como também para alguns desportos náuticos. São Vicente tem história da mistura de gente de dentro e de fora. São Vicente tem uma Diáspora fiel que não lhe falta, seja ela nascida, crescida ou acolhida. Na Educação já foi a grande referencia mas mesmo assim mantém um padrão alto no contexto nacional. Na saúde, apesar das circunstâncias, tem sim instituições e profissionais de referência em várias vertentes.

Tudo isto, maioritariamente de privados ou de grupos de cidadãos que de forma abnegada e altruísta tem trabalhado em prol da ilha e sua valorização. Se a todas estas vantagens e potencialidades, entre outras, fossem dadas condições de prosperarem com os mesmos padrões de qualidade, se fossem referenciadas e tratadas como alguns eventos mediáticos com propósitos conhecidos, o que não seria a ilha no contexto nacional, o que não seria no panorama mundial? O que falta para melhor valorizar a ilha e tudo o que tem e não somente eventos convenientes?

Felizmente a população da ilha também tem demonstrado ser capaz de provocar outras “festas” – manifestações – quando necessário. Felizmente a ilha tem uma sociedade civil lúcida e consciente dos deveres e direitos, que sabe que a ilha não é só festas e festivais, é também, mas é muito mais que isso e está disposta a dar mais aos seus e ao país caso não seja limitada, condicionada e estereotipada.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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Um Comentário

  1. Falta a boa vontade dos governantes em investirem na educação e na saúde em todas as Ilhas.
    Falta o apoio ao empreendedorismo jovem, o acesso a cursos profissionalizantes e a boa vontade dos jovens em empenhar nos estudos e agarrar com garra as oportunidades de emprego,

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