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Opinião

Obra, encontro e “Game of Thrones”

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Por Nelson Faria

  1.  Qualquer obra pública tem seu objectivo e sua utilidade, mormente a asfaltagem de uma estrada muito utilizada e que, se aproveitado as diversas potencialidades da Baía das Gatas, poderá efectivamente ser uma mais-valia. Com isto resolve-se o problema de São Vicente? Nem pensar. Não é a primeira e nem será a ultima obra, nem a primeira e nem a ultima estrada asfaltada, que se faz em São Vicente, também, com o dinheiro dos impostos que contribuímos. A obra é perfeita? Pode eventualmente ter falhas, ou necessidades de melhoria, particularmente algumas reivindicadas por alguns internautas e, sobretudo, pela população de Lameirão? Deveriam reivindicar como fizeram, com escritos no pavimento? Eu não concordo. Compreendo, mas mesmo com as explicações, não concordo. Os extremismos, os radicalismos e os fanatismos não ajudam a resolver problemas. A moderação o bom-senso e a razoabilidade sim. As acções extremas devem ser as últimas e nunca as primeiras. É possível introduzir melhorias que vão de encontro com as necessidades de todos? Sim? Então que centremos nas melhoria a serem feitas. Agora, fica o registo que os escritos no chão de uma estrada têm mais impacto que uma manifestação de doze mil cidadãos e que são considerados vandalismo ao património publico quando temos outros exemplos nem tidos nem achados nesta qualificação de vandalismo sabendo dos valores que incorrem ao erário público (mau planeamento, má execução e derrapagem nas obras, por exemplo).
  • É visível o contra-ataque à manifestação de 5 de Julho 2019, após a célebre intervenção raivosa do PCMSV. Os escritos em jornais on-line, as publicações do facebook de alguns governantes, as inúmeras e infindáveis promessas que não passarão disso e um encontro marcado com a “juventude Mindelense”. Eu já estou a passar os trinta e cinco por isso, pouca coisa me ilude, daí não achar que seria de utilidade participar. Perguntaram os governantes e seus acólitos porque a sala estava quase vazia e não apareceram as pessoas que estiveram na manif de 5 de Julho. Ora, acho que a pergunta devia ser ao contrário: Porque não apareceu nenhum representante do governo e o PCMSV na manif de 5 de Julho quando a população estava lá para conversar com eles. Seria uma grande oportunidade para um bom diálogo com todos. Ademais a logística da sala não permitia a participação de todos que estiveram na manif. Convenhamos! Era mais um evento para dar satisfação a entourage que propriamente compreender e resolver problemas há muito expostos, em outras manifestações, em abaixo-assinados, em encontros e tentativas de cuja porta do Ministério local estava encerrada. Os cidadãos não querem mais ilusões, querem realizações sobre as matérias que reivindicam com justeza e com clareza. Se deveras resolvidos, em vez de prometidos, merecerão os aplausos e as vénias.
  • Quem já viu a Série “Game of Thrones” vai perceber. O Norte sempre foi especial. Sempre teve uma palavra a dizer e quase sempre nela esteve a lucidez e o discernimento de contagiar uma luta benigna para que todo o reino permanecesse unido e próspero. Teve reis de referencia, nomeadamente os Stark, Ned a cabeça, porém teve também domínio de cães raivosos como os Bolton no seu período mais negro, Ramsey era terrível, mas, no final da série termina como um reino autónomo sob liderança feminina da Sansa Stark. “Winter is coming?” com a continuidade do que já se viu que não serve ou estaremos nós na era de mudança da governação local para um verão radioso? Com os mesmos ou com novas figuras? Mais do que nunca, esta agitação social e política do Norte, é um indicador político para o país. Que não se pense que não terá efeito contágio, que não se pense que não terá impacto eleitoral, quer nas autárquicas quer nas legislativas. Ciente que é somente nesse período que o povo é deveras ouvido e respeitado, peço apenas que ninguém se deixe manipular, iludir e ludibriar com nada. Em consciência, decidir o que achar melhor para todos. Estamos, definitivamente, no período de pré-campanha para 2020.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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3 Comentários

  1. Gente que se vai arranjando na vida através da militância partidária, como forma de agradecimento à vida têm uma tendência a transformarem-se em gente de “cara podre”. Descarada. Com cara de lata.
    Agora no outro online mindelense aparecem a fazer correlações entre discurso da Sokols e vandalismo na estrada Mindelo-Baía.
    Concordemos primeiramente nos seguintes três pontos:
    1) Estabelecer uma correlação é normal.
    2) Que houve um discurso da Sokols, é verdade que houve. Aliás, vários.
    3) Que vandalismo é errado, obviamente também que é.
    E o militante que já andava freneticamente atrás desta condição desde o tempo de estudante (infelismente são muitos “fracos” assim, em ambos os partidos) resolve pegar em todos estes três pontos que são todos verdade, e construir uma mentira.
    Ele fez uma relação entre um discurso e um vandalismo. Abstratamente até que também pode estar correcta.
    Mas pergunta-se:
    Qual vandalismo? A pintura de duas palavras numa estrada?
    Se esse jovem estivesse em Hong Kong ou em Paris (infelismente parece que o seu horizonte moral e espiritual nunca ultrapassou do Mar de Canal), decretaria pena de morte?
    Assim, poderíamos ver e confirmar na verdade, quem são e que perigo para a sociedade, representam esses militantes desses dois partidos, por mais cara de santinhos que nos queiram vender.
    Mas a resposta é talvez não, porque por aqueles lados, provavelmente ele teria de apresentar algo mais no seu curriculum moral, para além de militâncias partidárias.
    A tarefa não é fácil porque esses jovens militantes já estão impregnados(e isso representa todo o seu orgulho) de todas as podridões morais do MPD e do PAICV, porém, aquele que ainda se quizer salvar, que quizer ser gente na verdadeira acepção da palavra, deveria dar início a um periodo de reflexão, pedir auxílio a gentes da sociedade civil que nasceram, cresceram e sempre foram mais livres e com uma linha de horizonte bem mais larga, a fim de compreenderem a verdadeira situação em que se encontram, e que é infelismente (não quero ofender mas tenho de o dizer) de profunda ignorância e atraso civilizacional.

  2. Acho que não é numa manif que o governo deve encetar conversações com as pessoas. No mínimo o que pode acontecer é haver um ou vários porta-vozes dos manifestantes para debater com o Governo em local apropriado. E acho que quem estava a revindicar o que quer que fosse devia aproveitar a oportunidade para dar um “soco na mesa” para canalizar as revindicações e até deixar uma folha escrita ao Governo, tipo um memorando para marcar posição.

  3. Então não sabes que já tentaram ser recebidos e entregar um documento ao governo, e não foram recebidos?
    Nestes casos, uma das soluções aprovadas mundialmente, são as manifestações.

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