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Ninguém acredita nos políticos

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Por: António Santos

Em Cabo Verde, à semelhança do que acontece na maioria dos países democráticos, a classe política está desacreditada. Os eleitores, apesar de cumprirem com os seus deveres de cidadania (o voto), não acreditam minimamente nos seus dirigentes e colocam sempre em causa a sua idoneidade.

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Na minha perspetiva, um dos maiores perigos para a democracia é a propagação da ideia de que a classe política existe apenas para se servir a si própria em detrimento do interesse geral. Essa é uma das narrativas que alimenta os populismos, aumenta a conflitualidade no debate político e afasta os melhores da causa pública.

Se a classe política rejeita –  compreensivelmente, diga-se – a visão de que todos os políticos são iguais e todos são igualmente corruptos, não pode olhar para o “povo” e considerá-lo também todo igual e igualmente ignorante.

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O Presidente da República, José Maria Neves, já se deu conta disso e, a 13 de Janeiro, no seu discurso na Sessão Solene da Assembleia Nacional do Dia da Liberdade, apelou à elevação do debate politico e ao compromisso dos partidos políticos com a proteção e aprofundamento da Democracia.Refletindo sobre os desafios da Democracia no mundo e em Cabo Verde, em particular, o Chefe de Estado defendeu a necessidade de se evitar a polarização da sociedade, apelando para um debate político elevado baseado em ideias, não em ataques pessoais, por forma a enfrentar os desafios ao desenvolvimento do país.

Assim, e estamos todos de acordo com José Maria das Neves, quando ele defende: “sendo os partidos políticos as locomotivas da Democracia, há que evitar o seu descarrilamento nas sinuosas curvas da demagogia, do populismo e do extremismo, quando não se vê a meios para alcançar o poder, tomando conta da política, empobrecendo-a e corroendo as instituições”.

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É preciso que a nossa atual classe política entenda que existem limites, no sentido de que nem tudo é permitido, e, como diz o PR, os partidos devem abrir-se à sociedade civil e cativar a participação dos jovens.

A Democracia é um processo de permanente democratização que exige cuidados para se fortalecer. Quando isso não acontece, corre-se o risco de surgirem partidos populistas e de extrema-direita que não olham a meios para alcançar o poder.

De facto, a crescente aceitação de alternativas mais radicais reflete a frustração dos eleitores com a abordagem convencional. Estes casos alimentam o ceticismo em relação aos políticos tradicionais, impulsionando a busca por soluções fora do status quo.

É um alerta claro para a classe politica: a resistência à mudança pode precipitar o surgimento de movimentos mais extremistas como resposta à crescente desilusão popular. É hora de os partidos olharem para dentro, adotando estratégias de gestão de “marca”. Assim como o Estado trata o cidadão como cliente, em alguns organismos públicos, os políticos devem seguir o mesmo caminho. A mudança de paradigma é essencial para reconquistar a confiança dos eleitores.

Numa sociedade democrática, onde o poder de decisão está nas mãos dos cidadãos, a eficiência na gestão da “marca” política torna-se uma necessidade premente. Os partidos devem reconhecer que o seu “produto” é o programa politico veiculado pelos seus colaboradores – os militantes e os políticos em exercício.

A sociedade exige uma abordagem mais transparente e eficiente por parte dos políticos. A gestão cuidadosa da reputação torna-se o alicerce para convencer eleitores desacreditados. Resta saber se a politica cabo-verdiana está pronta para esta transformação.

É presido passar das palavras à prática e, por isso, o discurso do líder Parlamentar do PAICV, João Baptista Pereira, no Dia da Liberdade, pode ser um “caminho” para evitar a radicalização da sociedade cabo-verdiana. Para se combater essa radicalização, Cabo Verde necessita de um crescimento económico mais robusto, capaz de gerar empregos e rendimentos suficientes para as famílias, especialmente para a juventude, e enfrentar a emigração como uma fuga à pobreza e a busca por bem-estar e uma vida digna e terem o direito à prestação de cuidados de saúde de qualidade, de forma universal, justa, acessível e eficaz.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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