Eduardo Monteiro
O título em epígrafe dava vários artigos para desmistificar o que se escreve e se diz sobre este tema, mas não vou fazê-lo pelo tempo que me vai tomar, ficando apenas pela “espuma”. Neste momento estou a ler o livro a Imprensa Cabo-Verdiana 1820- 1975, de João Nobre de Oliveira, que é uma compilação de todos os jornais publicados em Cabo Verde.
O autor, ao escrever sobre o Liceu Nacional de Cabo Verde em Mindelo, depois do encerramento do Seminário- Liceu de S. Nicolau, informa que os jovens das ilhas tinham que rumar a S. Vicente para continuação dos estudos liceais, entre os quais Amílcar Cabral, e critica o Governo Colonial, ao afirmar que “mais uma vez a Capital da província viu-se preterida a favor de outra localidade, neste caso a cidade do Mindelo”.
Esta estória não corresponde à verdade, de acordo com o livro “O Liceu em Cabo Verde”, da Dra. Maria Adriana Sousa Carvalho, que deita por terra esta verdade insofismável: O Liceu nasceu na Praia de Santa Maria. Dois anos após ter sido elevada a cidade, a Praia de Santa Maria inaugura um Estabelecimento de Ensino Secundário, criado pela Circular 313-A, de 15/12/1860. Teve lugar nos Paços do Concelho, a abertura em nome d’El Rei, o Senhor D. Pedro V, do Liceu Nacional desta Cidade e Província. O liceu entrou em crise, à nascença, por alegadas dificuldades financeiras que provocaram a demissão de professores, nomeadamente os das disciplinas de francês, inglês e latim, acabando por encerrar.
Seminário Liceu – O Seminário Eclesiástico da Diocese de Cabo Verde foi criado por Decreto de 3/9/1866. Foi organizado em estudos preparatórios e estudos eclesiásticos (art. 2o.) e com duas classes de alunos: os que se destinam ao estudo eclesiástico; os que quiserem estudar no mesmo estabelecimento sem se destinarem à vida eclesiástica (art. 7).
No dia 19 novembro de 1917 foi inaugurado o Liceu de S. Vicente, que deu uma enorme contribuição ao ensino e às letras cabo-verdianas. S. Vicente e o seu Porto Grande fez da ilha o principal polo de desenvolvimento económico-social e cultural de Cabo Verde, atraindo todas as pessoas das ilhas em busca de melhores empregos, caso do telégrafo inglês (Western Telegraph Company), do Italcable, da maior Alfândega, sede do BNU, casas comerciais, tanto nacionais como estrangeiras. E com outra particularidade – a de atrair quadros recém-formados. Nos tempos actuais, os senhores do poder político e as Ilhas aliadas estão a vingar por tudo aquilo que aqui relatei.
Sabiam que o primeiro liceu em Cabo Verde foi criado na Praia em 15/12/1860, tendo sido fechado 3 anos depois por dificuldades financeiras? O Seminário de São Nicolau, criado por Decreto-Lei 03/9/1866, foi encerrado também por razões outras.
A lacuna deixada pelo Seminário-Liceu viria a ser preenchida pela criação do Liceu Infante D. Henrique em S. Vicente no ano de 1917, que passou por várias vicissitudes, o que levou também ao seu encerramento para depois reabrir as portas com mudança do nome para Liceu Gil Eanes. Por conseguinte, tudo o que aprendemos e ouvimos, desde a nossa tenra idade, que o primeiro Liceu construído em Cabo Verde pelos portugueses foi em Mindelo não corresponde totalmente à verdade. Os fundamentalistas cavalgaram e cavalgam sobre esta mentira para demonstrar o quão Praia e Santiago foram discriminadas pela Administração Colonial a favor de S. Vicente.