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Atenção: Fake news “Praia da Laginha entre as mais contaminadas do país – Estudo” (sic)

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Por: Alexandre Xazé Novais

… “face a todas estas questões e inquietações, lá fui indagar o Pólo do Mindelo da Uni-Piaget, que me certificou não terem esse curso no seu portfólio e não terem qualquer conhecimento do dito Estudo (me informando que iriam contactar o Pólo da Praia para os devidos esclarecimentos quanto à dimensão cientifica do trabalho).”

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Só quem não frequenta a praia da Laginha, só quem nunca se senta no seu areal para um revigorante e exclusivo banho de sol, só quem nunca anda pelo seu areal à beira mar nomeadamente de manhã cedo para ver a quantidade de vida marinha saltitando pela crista da ondulação desse ex-libris de Mindelo; só quem nunca mergulhou na enseada de coral que, mesmo sendo a zona mais exposta dessa praia, mesmo assim está igualmente repleta de vida marinha onde se inclui uma colónia coralina; só quem não conhece nem se interessa pelo bem-estar generalizado que essa praia traz aos vicentinos pode estar na origem desta estapafúrdia e quanto ridícula afirmação, chamada de “Estudo”, trazida a público por um jornal da praça que, uma vez mais e em consonância com a bastas vezes criticada postura de alguma da nossa CS que, sem se dar minimamente ao trabalho de informar correta e cabalmente os leitores, faz um titulo gordo e sem contraditório com uma matéria de extrema importância para a ilha, seja do ponto de vista dos residentes seja do ponto de vista dos visitantes.

Porque, seja dito e a bem da verdade, esta afirmação maldosa prejudica São Vicente e, enquanto filho desta terra e amante incondicional da Laginha, não podia deixar passar em branco. E isso acima de tudo pela evidência do desfasamento entre a afirmação e a realidade.

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Como é possível que uma praia de águas azuis-turquesas cristalinas repleta de vida marinha de toda a espécie pode estar entre as praias mais contaminadas do país foi a minha 1º pergunta e espanto ao ver o título da notícia! E, habituado que já estou a estar sempre com o pé atrás quando se trata de alguma notícia “oficial” claramente prejudicial para São Vicente, segui numa leitura atenta do “artigo” para me deparar com um texto grosseiro, sem rigor jornalístico e com uma mistura de conceitos indigna de qualquer jornal que se quer e diz sério e comprometido com o bem geral.

Praia da Lajinha – Cidade do Mindelo

Como chamar de Estudo Académico um trabalho estudantil (nem sei se era uma monografia ou um mero trabalho de curso) realizado no âmbito de um curso de saúde pública do Polo de Santiago da Uni-Piaget, estudo esse que nem mesmo a própria Universidade reconhece como tal?

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Como fazer suas as recomendações saídas do dito “estudo”, sem nunca o ter analisado contraditoriamente por forma a certificar-se do rigor científico do mesmo? Que garantias temos na amostragem recolhida (se é que deveras houve recolha)? Qual o plano cientificamente aprovado para a recolha das amostragens por forma a garantir uma margem de garantia minimamente aceitável para a extensão do areal existente tendo inclusive em conta a dinâmica das marés e dos ventos? Mesmo sem plano de recolha, qual a amplitude da recolha feita para que tal corresponda minimamente à realidade no terreno? Questões fundamentais e manifestamente sem respostas!

E, face a todas estas questões e inquietações, lá fui indagar o Pólo de Mindelo da Uni-Piaget, que me certificou não terem esse curso no seu portfólio e não terem qualquer conhecimento do dito Estudo (me informando que iriam contactar o Pólo da Praia para os devidos esclarecimentos quanto à dimensão cientifica do trabalho – vou aguardar o posicionamento dessa instituição), lá contactei alguns biólogos marinhos e ambientalistas amigos e conhecidos para ter a sua opinião muitas vezes de frequentadores assim como enquanto técnicos sobre a qualidade em geral do areal e da água nessa praia; lá contactei o jornal da praça para ter da parte destes a confirmação em como o contraditório não tinha sido feito, mas sobretudo o reconhecimento em como um trabalho de estudante não é um Estudo Académico e nunca poderia ter sido publicado enquanto tal e sobretudo contactei os serviços da CMSV, pese embora ciente desse facto, para ter a confirmação que já conhecia em como nessa zona, nem em nenhuma outra zona urbana da cidade (hoje em dia nem mesmo na chamada praia de catxorr), há despejo de esgoto no mar quanto mais numa zona balnear. Coisa que o dito “estudo” traz como sendo uma das explicações da dita contaminação.

 “Basicamente existe contaminação por fezes nessas praias, o que demonstra de forma clara que ainda não temos essa preocupação relativamente à qualidade da água, das areias, o que poderá eventualmente levar a problemas de saúde pública… Pior que a Laginha apenas Quebra Canela, na cidade da Praia, conforme Hélio Rocha…  As causas estão relacionadas com a proximidade dos esgotos e nalgumas situações com a presença de animais… Além disso, cumprir algumas regras essenciais, por exemplo, o despejo do esgoto para o mar, mesmo que tenha algum tratamento, o tubo vai fazer este despejo em termos de distanciamento de 300 a 400 metros para dentro do mar por forma a evitar estas contaminações” (sic)

Se os estudantes que realizaram, certamente com muito empenho, o trabalho de curso não tiveram o rigor de verificar todas as afirmações do seu trabalho, a mesma coisa já não diria do orientador do dito trabalho e docente na Uni-Piaget, que tinha ele a obrigação de exigir aos seus formandos o necessário rigor científico e verificação de factos que deve acompanhar este tipo de análises e sobretudo consequentes afirmações quanto mais afirmações públicas. Que fique claro Sr. Professor, existem de facto no país alguns esgotos ainda por cima não tratados despejados ao mar, mas trate de verificar onde porque na Laginha é que não estão!

É preciso assim realçar que no Mindelo a situação descrita no trabalho de curso acontece sim, mas logo a seguir e durante as chuvas quando o lixo, os resíduos líquidos e sólidos das criações artesanais de porcos e o derrame por excesso de fluentes dos sistemas de esgotos são levados nas cheias e desaguam no mar e no caso preciso da Laginha, muito por conta da incompreensível inércia das Autoridades competentes, no areal visto as bocas de escoamento das águas das chuvas que ali desaguam nunca terem sido de facto e ali sim prolongadas mar adentro. Sendo assim, por demais evidente que se trata de situações que acontecem, portanto, unicamente nos dias de chuva e não todo o verão quanto mais o ano inteiro, situações essas preveníveis e remediáveis, mas que a Câmara Municipal não enfrenta exigindo a intervenção de quem de direito.

Pelas informações que pudemos recolher, na Praia infelizmente ainda existem dois focos de contaminação – um na Praia Negra a céu aberto, outro na ETAR de Quebra Canela -, onde ambos enviam efluentes não tratados para o mar, cercando a praia de Quebra Canela dos dois lados, daí a contaminação muitas vezes ali encontrada e que clama urgentemente por uma solução, sendo essa praia muito frequentada pelos praienses. Aí sim, infelizmente isso acontece o ano inteiro, o que se soma ao transporte de lixo e matéria fecal levados sempre que chove e em qualquer ponto do país para o mar.

Outros quinhentos é a situação dos cães vadios, demasiados certamente tanto na Laginha como por toda a cidade, mas quem lá está regularmente sabe que essa presença indesejável certo não se situa em níveis para além da “normalidade canina” que se vive diariamente pelo menos nesta cidade e que obviamente clama por soluções sustentáveis, que respeitem o bem-estar animal assim como a saúde pública de todos nós. Fosse essa dita contaminação uma questão de canídeos, o que diria então o Sr. Professor se visitasse a estação balnear da Baía das Gatas?…

Não, vamos dizê-lo alto e em bom som para que todos os vicentinos e os nossos visitantes se tranquilizem, para que todos os frequentadores da Laginha continuem tranquilamente a beneficiar do bem-estar que essa praia urbana incrivelmente maravilhosa lhes proporciona todos os dias:

A praia da Laginha está entre as praias urbanas menos poluídas do país e os níveis de contaminação das suas águas (presentes tal como em todos os mares) estão totalmente compatíveis com a sua utilização enquanto praia balnear e local de lazer para as pessoas!

Mindelo – 1 de março de 2023

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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