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“Squid Game” – A série que está a deixar a comunidade escolar em alerta

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Numa escola belga, crianças de 11 e 12 anos reproduziram os jogos da série Squid Game nos intervalos das aulas. Imitando o que acontece nos episódios, em que os jogadores são mortos se perderem, as crianças agrediam fisicamente os colegas que perdiam. Situações de violência física também foram registadas numa escola do Rio de Janeiro, no Brasil, levando o estabelecimento a enviar cartas aos pais dos alunos pedindo-lhes que não os deixassem visualizar conteúdos ligados à série. O Dn.pt pegou no tema Squid Game, a série que está a deixar a comunidade escolar em alerta.

Squid Game é nome de um novo “fenómeno” de audiências, sendo já classificada como a série mais vista de sempre da plataforma de streaming Netflix, destronando sucessos como A Casa de Papel. A série está classificada para maiores de 16 anos, mas a história que retrata jogos infantis tem chamado a atenção de crianças e adolescentes e está a preocupar a comunidade escolar pela violência envolvida, que já encontrou exemplos de replicação na vida real em vários pontos do mundo.

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“A meu ver, a classificação até devia ser para maiores de 18 anos. O grau de violência é muito elevado. Preocupa-me sobretudo que as crianças possam ter acesso a estes conteúdos”, alerta Nuno Pinto Martins, fundador da Academia Educar pela Positiva, em declarações a uma reportagem do Diário de Notícias.

Para o especialista, diz o jornal electrónico, é muito importante que, sobretudo até à entrada na adolescência, estes conteúdos não estejam disponíveis. “Os meus filhos têm acesso à Netflix apenas na sala e com um perfil criado para a idade deles, o que permite que só surjam conteúdos até aos 12 anos”, explica.

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Contudo, a mesma estratégia pode já não ser adequada a adolescentes. “Quando se trata de adolescentes, a proibição tem um efeito contrário. Quanto mais proibirmos, mais eles querem ver e encontram quase sempre forma de o fazer. Aqui, o mais importante é a supervisão e a orientação. Podemos aproveitar este tipo de produtos para nos sentarmos com eles e conversarmos sobre o assunto. E se a idade já o permitir, os pais podem ver os episódios com os filhos, para irem conversando e orientando”, aconselha.

Nuno Pinto Martins alerta ainda para os efeitos nefastos nos pré-adolescentes e adolescentes, cujo cérebro “está em fase de maturação”. Nestas faixas etárias, salienta, ainda não há uma perceção completa de algumas coisas. Pode existir confusão entre a realidade e a ficção, como já tem acontecido em alguns países, onde crianças imitam os jogos da série e agridem quem perde. “Nesta fase, ainda há uma falta de noção de limites”, sublinha.

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Apesar de ainda não ter registado nenhuma situação ligada à série Squid Game no Colégio Júlio Dinis, “os alunos dos 2.º e 3.º ciclos falam no programa”, segundo a coordenadora pedagógica Sofia Chamusca. Alerta que mesmo aqueles que não viram a série sabem do que se trata. E enfatiza que é preciso não esquecer que as crianças e adolescentes podem aceder a qualquer conteúdo através do YouTube ou até de telemóveis de outros colegas. Os pais, segundo Chamusca, devem estar atentos, pois as crianças não vivem numa bolha. Elas inserem-se em grupo e é aqui que, diz, se perde o controlo.

José Morgado, psicólogo e especialista em educação infantil e docente na Escola de Educação do ISPA, partilha da mesma opinião. “Não defendo estratégias proibicionistas, mas sim um acesso mediado, no qual os pais sabem o que os filhos estão a consumir. Devemos aplicar estratégias autorreguladas para que crianças e jovens percebam o grau de inadequação para a idade deles, no caso da série Squid Game ou de outros conteúdos violentos”, explica.

Para o especialista, é “necessário desconstruir o que os mais jovens veem. “Não quero fazer um discurso catastrofista, mas é necessário estar atento para garantir o bem-estar dos mais novos. O Squid Game é feito para maiores de 16, mas quem olha para a série até pode pensar que não é algo perigoso. Antes do Squid Game tivemos o fenómeno Baleia Azul, com miúdos levados ao suicídio. A própria aplicação Tik-Tok, aparentemente inofensiva, permite desafios que são uma alavanca para potenciar determinados tipos de comportamento perigosos. Temos um caldo de cultura, um cenário que não é amigável para que os miúdos se protejam e que dá espaço a comportamentos de risco e a cyberbullying”, afirma.

A história retratada na série

O enredo é simples, mas a história torna-se complexa ao longo dos oito episódios. Na série “Squid Game”, 456 concorrentes desesperados com dívidas que não conseguem pagar aceitam competir uns contra os outros para ganhar uma pequena fortuna. Contudo, apenas um dos jogadores terá acesso ao prémio final. Todos os outros morrerão nas competições. Os jogos de sobrevivência têm por base brincadeiras infantis, como o 1,2,3 macaquinho chinês ou uma competição de berlindes. Os jogadores eliminados a cada ronda são mortos de forma violenta, perante o olhar de todos os outros adversários, fazendo um retrato social que mostra de forma crua até onde o ser humano é capaz de ir por dinheiro. A série sul-coreana estreou na plataforma de streaming Netflix a 17 de setembro e já foi vista por mais de 110 milhões de pessoas em todo o mundo.

Numa escola belga, crianças de 11 e 12 anos reproduziram os jogos da série nos intervalos das aulas. Imitando o que acontece nos episódios em que os jogadores são mortos se perderem, as crianças agrediam fisicamente os colegas que perdiam. Situações de violência física também foram registadas numa escola do Rio de Janeiro, no Brasil, levando o estabelecimento a enviar cartas aos pais dos alunos pedindo-lhes que não os deixassem visualizar conteúdos ligados à série. O mesmo pedido já tinha sido feito pelo próprio criador da série, Hwang Dong-hyuk. “Estou perplexo que crianças estejam a ver. Espero que os pais e os professores ao redor do mundo sejam prudentes, para que as crianças e adolescentes não sejam expostos a esse tipo de conteúdo“, disse em entrevista a um canal coreano.

dnot@dn.pt

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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