As autoridades russas prenderam um homem de 59 anos que se diz ser a reencarnação de Jesus Cristo e que montou uma organização religiosa há cerca de trinta anos nas profundezas da Sibéria. Vissarion, que liderava a Igreja do Último Testamento, e que tinha milhares de seguidores, deve ser acusado de extorção de dinheiro aos fiéis e abusos emocionais.
A operação policial dava um filme de ação, como escreve o jornal Expresso. Sergei Torop, antigo polícia de trânsito convertido em guru religioso e conhecido por Vissarion, foi conduzido por soldados mascarados até um helicóptero, numa intervenção que envolveu agentes do serviço de segurança russo FSB, além da polícia e de agentes de outras agências especiais. Com Vissarion foram detidos dois dos seus auxiliares mais próximos, um deles Vadim Redkin, um ex-baterista de uma ‘boys band’ da era soviética e desde há muito o braço-direito do líder religioso.
A visão religiosa do fundador da Igreja do Último Testamento foi mudando desde que aconteceu o que chamou “despertar”, quando perdeu o emprego, em 1989. Inicialmente Vissarion afirmava que Jesus estava a cuidar das pessoas a partir de uma órbita próxima à Terra e que a Virgem Maria “comandava a Rússia”, mas o discurso mudou até chegar à fase em que disse ser a última reencarnação de Jesus.
Torop, ou Vissarion, foi um dos místicos que surgiram no início dos anos 90 após a queda da União Soviética, quando um certo vazio ideológico se instalou. Mas, ao contrário de outros, resistiu ao tempo. Com o cabelo comprido e longas barbas, criou uma imagem em tudo à semelhança de Jesus de Nazaré e acabou radicado no sul da Sibéria, literalmente seguido por milhares de ‘fiéis’ que se instalaram por perto, atualmente cerca de 4.000, agrupados em assentamentos rurais na região de Krasnoyarsk, autossuficientes e a viverem sob uma pesada disciplina. Já Vissarion, juntamente com o seu núcleo mais próximo, ocupou o topo de uma colina chamada “A Casa do Amanhecer”.
Entre os convertidos não estão apenas russos mas algumas pessoas de outros países. Vivem cumprindo uma seleção de ritos extraídos do cristianismo ortodoxo, sendo a comunhão com a natureza uma das filosofias principais. O veganismo é imposto e a circulação de dinheiro está proibida, tal como o consumo de álcool ou a tecnologia mais moderna. Vestem-se com roupas austeras e orientam-se segundo um calendário próprio, contando os anos a partir de 1961 – o ano do nascimento de Vissarion -, tendo o Natal sido substituído por um dia de festa, a 14 de janeiro, a data de aniversário do fundador.
C/Expresso.pt