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Mobiliários tradicionais de João Fortes resistem ao tempo na cidade do Mindelo

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É um dos mais antigos marceneiros da ilha de S. Vicente. Constrói camas, cadeiras, mesas, guarda-fatos e tudo o que se pode imaginar, e é feito de madeira. João Manuel Fortes é proprietário da Oficina de Mobiliários, localizada na rua Patrice Lumumba, próximo à Praça Nova, desde 25 de Outubro de 1981.

Iniciou a sua vida como marceneiro muito jovem e, aos 26-27 anos, arriscou e abriu um negócio próprio. João Fortes revela que, prestes a completar 66 anos de idade e com mais de 40 anos de trabalho, continua activo. Lamenta, no entanto, a queda na procura que se regista actualmente e lembra com nostalgia os períodos de “vacas gordas” nas décadas de ’80 e ’90, em que quase toda a gente demandava as oficinas para fazer os seus mobiliários. Uma realidade que mudou depois do ano 2000, quando o MpD subiu ao poder e liberalizou a importação, de forma descontrolada.

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“As vendas baixaram significativamente. Ainda conseguimos escoar alguma coisa, mas nada que se compara com outros temos. Antes fazíamos cadeiras de estofe, mesas, camas e muitas outras coisas. Hoje praticamente não confeccionamos estes mobiliários porque estes são importados do exterior. Podem ser bonitos, mas a qualidade é de longe inferior”, constata.

Este marceneiro de profissão responsabiliza sobretudo a importação pela degradação do negócio da carpintaria em São Vicente. “Por conta da demanda, cheguei a trabalhar com 15 a 20 colaboradores na minha oficina. Neste momento tenho apenas quatro pessoas, sendo três na produção e uma na venda. Quando precisamos fazer alguma entrega de produto, eu e algum colaborador vamos pessoalmente”, detalha este profissional, que se mostra impotente para reverter este quadro. “Não temos recursos para driblar a situação. Estamos apenas a aguentar, cada um com a sua estratégia. Por exemplo, no meu caso, optei por reduzir o número de trabalhadores.”

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João Fortes lembra ainda outros tempos, quando trabalhava apenas com pedidos. Não havia tempo para expor os produtos para venda. Com a redução da procura, diz, o jeito é fazer mobilias com qualidade e expor na loja à espera de atrair o interesse das pessoas. “Às vezes consigo vender alguma coisa, sobretudo para pessoas que vêm de fora. Para residentes na ilha é muito pouco. E, com a pandemia da Covid-19 que assola Cabo Verde e São Vicente, as vendas caíram ainda mais”.

Por causa desta situação, viu-se obrigado a deslocar a sua oficina para Alto de Miramar e transformar o antigo espaço numa loja para expor os seus trabalhos. Isto porque fica no coração do Mindelo, na rua Patrice Lumumba, onde o movimento de pessoas é maior. Fortes lamenta sobretudo não ter conseguido manter a clientela antiga, apesar de nunca ter sido fixa, o que hoje poderia garantir alguma tranquilidade.

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Lidiane Sales (Estagiária)

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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