Duas irmãs açorianas estão a ensinar oito costureiras cabo-verdianas as técnicas de produção de lingerie, grupo que depois terá a incumbência de formar outras colegas na ilha de S. Vicente a partir de junho. Ministrada na OMCV-SV, a formação tem a duração de 3 semanas e, segundo Fátima Balbina, promete ser uma saída profissional rentável para quem quiser apostar na abertura de uma linha de confeção própria.
“Há dois anos que estamos a trabalhar nesta formação e sinto-me muito satisfeita por ver que dentro de pouco tempo poderemos começar a produzir lingerie made in Cabo Verde”, comenta a responsável da OMCV na Cidade do Mindelo, que perspectiva uma saída profissional promissora se houver uma aposta séria do pessoal formado.
“As peças de lingerie são indispensáveis para as mulheres, por isso podemos dizer que esses produtos têm mercado garantido em Cabo Verde. Se houver uma aposta na qualidade poderemos estar perante uma actividade geradora de emprego e de um rendimento interessante”, prognostica.
A iniciativa partiu da açoriana Berta Martins, que contactou a OMCV-SV via Facebook por incentivo de um amigo. Através da plataforma, passou a trocar impressões com Fátima Balbina e decidiu oferecer o curso às mulheres de Cabo Verde. Para o efeito, comprou máquinas e matéria-prima no Brasil, que enviou para S. Vicente de avião. Um alto investimento, que Berta Martins nega revelar o valor.
“Posso apenas avançar que esta é a primeira vez que tenho uma iniciativa desta envergadura”, diz esta reformada da Função Pública portuguesa, que trabalhou durante anos na costura. Explica que apostou na área da lingerie por ser algo novo em Cabo Verde, que abre portas de oportunidades, e porque chegou a fazer uma formação. “Se as moças tiverem empenho, estou certa de que poderão melhorar a sua vida financeira”, diz a formadora, que se mostra entusiasmada com a forma como as aulas estão a decorrer.
Membro do grupo de formandas, a artesã Paula Graça assume que se trata de uma experiência única confecionar peças de lingerie. Nas palavras desta profissional, usar a matéria-prima e saber que pode fazer lingerie é algo gratificante. “Para mim não há, digamos assim, dificuldade porque tenho experiência na área da costura criativa. Já fiz uma peça que não fica atrás das que adquirimos no Brasil. Apraz-me saber que, afinal, podemos usar as nossas máquinas; a diferença está no material”, revela Paula Graça, que já decidiu abrir a sua linha de produção de lingerie. No entanto, o grande problema é a matéria-prima, que ainda não existe no mercado mindelense. Da pesquisa que fez, encontrou apenas lycra, mas será preciso rendas e outros acessórios.
Esta situação é do conhecimento da responsável da OMCV em S. Vicente, para quem será preciso estimular as casas de venda de tecido a passarem a importar esses produtos. A acontecer, Fátima Balbina está convencida de que o mercado nacional pode passar a ser abastecido com lingerie made in Cabo Verde.