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Economia

Empresários do sector de restauração contestam exigência de testes ou certificados Covid-19

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A exigência de testes ou certificados Covid-19 para frequentar lugares públicos, conforme anúncio feito hoje no Parlamento, durante o Estado da Nação, pelo Primeiro-ministro surpreendeu empresários do sector da restauração. Alguns empresários ouvidos por Mindelinsite afirma que não vão aceitar de forma nenhuma esta medida, copiada de Portugal, mas completamente desfasada da realidade da vacinação em Cabo Verde.

Apesar de ainda não existir um comunicado oficial do Governo a certificar o anúncio feito por Ulisses Correia e Silva, esses empresários defendem que exigir testes ou certificados Covid-19 aos clientes vai ser a “morte” do sector em São Vicente. “Nenhum cliente que vai a um restaurante fazer uma refeição ou comer um hambúrguer, que vai pagar 500 escudos ou menos, vai apresentar um teste rápido que custa mil escudos. Também dificilmente vai conseguir apresentar um certificado Covid-19 porque a percentagem de pessoas com duas doses de vacina”, refere um proprietário.

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Sem uma associação do sector para discutir esta questão à uma só voz, esta nossa fonte admite que, a título individual, deverão procurar a Câmara do Comércio de Barlavento para reclamar do impacto que esta medida vai ter, cabendo a esta levar esta preocupação ao Governo. “Temos neste momento um grupo empresários do sector em São Vicente a tentar uma posição concertada e manifestar junto da CCB. Pensamos que o Governo, com esta medida, está a meter eventos e restauração no mesmo saco. É inconcebível. Eventos são periódicos, diferentemente dos restaurantes”.

Para outra fonte ouvida por Mindelinsite, este anúncio é pura e simplesmente uma campanha para tentar incentivar às pessoas a vacinar. Mas não pode ser à custa da sobrevivência dos restaurantes, que já enfrentam sérias dificuldades. “Restauração, bares, discotecas e bares não é a mesma coisa, até porque o alvará é completamente diferente. Se não houver uma organização em bloco, penso que vamos ter de procurar a nossa agremiação empresarial a título individual porque a situação é deveras complicada”, pontua, debitando parte da responsabilidade por esta medida anunciada hoje pelo PM aos responsáveis de eventos, que queram começar a funcionar a qualquer custo.

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Ainda para um outro proprietário, exigir testes ou certificado é desfasado da realidade e totalmente incongruente. “Sabemos que apenas uma dose não é válida, mas a vacinação está ainda aquém. A medida é boa porque a vacina é a única resposta à Covid-19. Mas é preciso encontrar mecanismos, sem condicionar as pessoas. A vacinação teria de estar em um estado avançado para acomodar as regras, sabendo que há ainda pessoas que não conseguiram tomar nenhuma dose não porque rejeitam a vacina, mas sim por ainda não tiveram oportunidade”, justifica.

Este chama a atenção para a taxa reduzido de pessoas vacinadas com duas doses em Cabo Verde. “Esta é a realidade, por isso não podemos impor regras. Infelizmente, imitamos tudo de fora e, neste caso, não há sequer pudor em copiar. Portugal anuncia uma regra em um dia e nós copiamos no dia seguinte. Não se pode governar por reflexo condicionado se não temos as mesmas premissas. Impor a frequência de lugares públicos condicionado à vacinação não faz nenhum sentido, pelo menos no estado em que estamos. Isso vai dar uma grande confusão”, assegura este proprietário, que faz questão de frisar que não está a criticar a medida, mas em outro contexto.  

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Novidade no estado da Nação

Hoje, na sua intervenção durante o estado da Nação, Ulisses anunciou o levantamento de um conjunto de restrições, passando a ser exigidos os testes ou certificados covid-19 para entrada em estádios de futebol, pólos e outros equipamentos desportivos com público. “Vão ser exigidos ainda para o funcionamento pleno de ginásios, espectáculos e outras manifestações culturais, festas de natureza pública, discotecas, clubes, salões de festas, estabelecimentos turísticos ou de alojamento local, bares e restaurantes” detalhou.

Segundo Correia e Silva, todos os estabelecimentos passarão a funcionar sem as restrições a partir de hoje, mas condicionados à exigência de vacinação ou exigência de testes. O certificado de vacinação completa passa a ser aceite, por exemplo, para efeito de viagens interilhas dispensando, nestes casos, a realização de testes. Já para as viagens internacionais fica a depender dos acordos de aceitação de certificados que Cabo Verde irá celebrar com países terceiros. “Certificados de vacinação completa emitidos por países terceiros serão reconhecidos de acordo com as directivas da Direcção Nacional da Saúde. Uma vez reconhecidas e reconhecidos os certificados, dispensam, a apresentação de realização de testes por parte dos viajantes”, anunciou.

De acordo com o PM, estas medidas vão contribuir para o aumento da vacinação, para a retoma das actividades económicas e sociais, para além de serem imprescindíveis à protecção individual e colectiva. A utilização de máscara em espaços de atendimento e nas vias públicas continua obrigatória. Em caso de incumprimento ou violação das normas, o Chefe do Governo ameaça com revogação da declaração de conformidade sanitária e do selo, suspensão da actividade, cancelamento da licença ou encerramento do espaço, conforme o caso, de acordo com o Boletim Oficial.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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