Cabo Verde vai passar a contar com uma frota de seis navios de armadores privados, preparados para a pesca do camarão-soldado nas águas do arquipélago, estimada em 200 toneladas por ano. Á priori, três barcos vão ficar sediados em S. Vicente e três na ilha do Sal. Foram adaptados para a captura dessa espécie, que costuma reproduzir principalmente nas ilhas arenosas da Boa Vista e do Maio. Esta plataforma, conforme José Antonio González, coordenador científico do projecto, representa em torno de 75% do recurso disponível a nível nacional. O camarão está ainda presente entre as ilhas de S. Vicente, Santa Luzia, Santo Antão e S. Nicolau, mas em menor escala.
O projecto de desenvolvimento de uma frota pesqueira de camarão-soldado, segundo Antonio González, foi executado em duas fases. No ano passado, foram treinados os tripulantes de três navios em S. Vicente e agora em 2023 foi a vez dos marinheiros residentes na ilha do Sal. Inicialmente foram preparados profissionais de cinco barcos, mas depois foi introduzida mais uma unidade, pelo que Cabo Verde vai ficar com uma frota nacional de seis embarcações e perto de 100 pescadores/marinheiros formados nessa actividade, preparados para manobrarem os engenhos usados nessa arte de pesca.
Os barcos estavam inicialmente preparados para fazer apenas a pesca com rede de cerco e de linha, mas foram adaptados para a captura do referido tipo de camarão. Desta forma, enfatiza José González, os navios adquiriram uma outra versatilidade e polivalência. “Nas semanas em que o tempo não está para a pesca da cavala ou olho-largo, já podem pescar o camarão-soldado. Além disso, enquanto esperam para a recolha dos covos, podem ir praticando a pesca à linha de mão”, acrescenta esse director da Universidade de Las Palmas de Gran Canaria.
Este especialista destaca ainda a qualidade do produto, que, enfatiza, é absolutamente cabo-verdiano, selvagem e sustentável. A pescaria, sublinha, será feita por unidades semi-industriais e com artes de pesca artesanal, que respeitam o ambiente. Numa primeira fase, o produto será vendido preferencialmente aos hotéis e restaurantes e numa segunda etapa para o mercado externo, que pode incluir as Ilhas Canárias e Itália, onde a procura é mais acentuada.
Este trabalho começou a ser desenvolvido desde 2002, quando foi identificada a presença da espécie em Cabo Verde. Durante estes anos, foram realizados estudos de prospeção e de avaliação da quantidade existente no arquipélago. Esta é agora a última etapa, que é a transferência da tecnologia para os navios e formação dos tripulantes que vão fazer a captura do camarão. Para González, está tudo a postos para os armadores lançarem os covos ao mar.
A mesma perspectiva tem a economista Maria Auxília, técnica do Instituto do Mar, para quem os armadores estão motivados, em particular os da ilha do Sal. Considera, no entanto, que há sempre um compasso de espera normal nesses processos.
“O camarão-soldado é um recurso que ainda não tem uma pesca desenvolvida em Cabo Verde. Estamos a tentar agora incentivar essa pescaria. Os dados que temos são de campanhas experimentais realizadas em S. Vicente e no Sal”, informa Maria Auxília, adiantando que os resultados dessas campanhas foram satisfatórios. Em S. Vicente, a taxa de rentabilidade interna foi de 30% e no Sal, onde os barcos são de maior porte e o investimento mais robusto, ficaram em torno de 17 e 19 por cento, tendo em conta duas tipologias de embarcações envolvidas.
Os dados do projecto de desenvolvimento de uma frota pesqueira de camarão-soldado foram apresentados esta manhã no Centro Oceanográfico do Mindelo. A iniciativa contou com o envolvimento das várias instituições ligadas ao Ministério do Mar, da associação de pesca Apesc e da Universidade de Las Palmas.