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As 12 ‘apóstolos’ da diáspora empreendedora

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A comunidade cabo-verdiana de Roma foi convidada, pela primeira vez, a participar e admirar uma linda exposição de produtos do artesanato, vestuário, bijouteria, e culinária cabo-verdiana apresentada por um grupo de 12 mulheres empreendedoras da nossa diáspora.

Por Maria de Lourdes Jesus

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Eloisa Monteiro, presidente dos empreendedores cabo-verdianos, aceitou de apresentar o grupo que ela dirige e que foi formado há um ano mais ou menos. A ideia nasceu numa conversa com algumas amigas numa exposição em França, conta. “Elogiávamos os participantes de vários países nesse evento, comentando, com muita tristeza, a ausência da nossa comunidade. Foi nessa ocasião que nasceu a ideia de formar um grupo de empreendedores cabo-verdianos.”

Carregadas de entusiasmo para concretizar essa ideia, dirigiram logo às rede social. Abrira, uma página no WhatsApp e enviaram convite para as pessoas unirem ao grupo. Ficaram surpreendidas ao ver muitas pessoas a escrever pedindo informações para aderir ao nosso sobre o projeto. Formaram o grupo e começaram logo a programar eventos para a exposição de produtos em várias cidades da Europa onde reside uma comunidade cabo-verdiana.

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Mindelinsite: Quais são esses países?

Eloisa Monteiro: Por agora são Portugal, França, Luxemburgo, e Itália. Já recebemos um convite para Roterdão e embora seja mais difícil, estamos a programar uma exposição também em Inglaterra. O nosso grupo conta hoje com 38 empreendedores: 35 mulheres e três homens que vivem na diáspora e em Cabo Verde.

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M: Como é que reagem os homens num grupo com uma maioria esmagadora de mulheres, inclusive a presidente?

EM: A relação é boa e não poderia ser doutra forma porque somos maioria, mulheres. Para poder-nos acompanhar “es tem que marra pon na cintura pa ba junto ma nos.”

M: De onde vem a vossa inspiração?

EM: A nossa inspiração vem da nossa cultura. A maioria dos nossos produtos são criados com material de Cabo Verde e realizados com muita dedicação e amor. Amamos a nossa profissão e no momento da criação transmitimos esse amor moldando e aperfeiçoando o produto numa peça de arte. Cada um de nós é formado numa área diferente que enriquece a nossa produção, pela beleza e variedade do material utilizado. Tudo feito a mão: Pano de Terra e pano africano para confeccionar vestuários, (também para as crianças) bolsas e brincos, búzio, pedra para colar e brincos, bandeira de Cabo Verde para cachecol, bolsas e vestuário, palia de milho para construir estatuas que representam a variedade da vida quotidiana em Cabo Verde e, por fim, a culinária com pratos típicos e doçaria da nossa gastronomia.

M: Qual é o objetivo do vosso projeto?

EM: Dar a conhecer a comunidade cabo-verdiana, também em Cabo Verde, da potencialidade da nossa diáspora. Temos que entrar no palco como protagonistas, não só come espetador. Esse discurso é valido também para os cidadãos dos países onde vivemos. Para terem uma imagem mais equilibrada e positiva da nossa presença é indispensável que eles nos conhecem também através da nossa cultura. E’ o que estamos a fazer. O nosso trabalho quer ser também uma oportunidade para reforçar a ligação à Terra. Outro objetivo importante é a nossa intenção de formar uma associação de empreendedores. E’ por onde estamos a encaminhar.

M: Conseguem viver com a entrada dessa profissão?

EM: Para algumas empreendedoras é já uma profissão que rende um salário e não precisam de trabalho extra. Esse é também um dos nossos objetivos: profissionalizar a nossa atividade de empreendedores. Viver com a entrada da nossa profissão.

M: Que dificuldades encontram na realização dos vossos eventos?

EM: Quando programamos eventos para a exposição dos nossos produtos, a primeira dificuldade é encontrar uma pessoa (amiga normalmente de uma de nós) de confiança e que nos apoia em encontrar um espaço adequado ao nosso evento, que contacte os meios de comunicação para informar a nossa comunidade e suporto logístico. Por último e não menos importante é o custo da viagem que temos de pagar, o excesso de bagagens, outros imprevistos como a perda da mala ou os produtos partidos durante a viagem.

M: Organizar um grupo de 37 empreendedores não é tarefa fácil, do ponto de vista económico. Quem vos patrocina?

EM: Esse é um problema muito sério. E’ sempre um risco. Nós arriscamos todas as vezes que programamos um evento. Apostamos na qualidade do produto. Se o produto é bom, como no nosso caso, a gente gosta e por isso compra. A venda depende da intensidade da participação das pessoas. Não temos ajuda de ninguém. Por agora somos nós os financiadores dos nossos eventos, sobretudo o custo das viagens. Tenho a dizer que a venda dos produtos tem dado, até agora, uma boa cobertura do custo e com muita satisfação.

M: Como tem sido a reação da comunidade cabo-verdiana?

EM: Sempre fomos bem acolhidos pela nossa comunidade. Quando gosta, aprecia, a comunidade sabe muito bem como restituir a própria gratidão. É o que aconteceu em Lisboa no Centro Cultural cabo-verdiano. A nossa exposição teve um grande sucesso, começando pelo acolhimento e o apoio do Centro Cultural de Cabo Verde nessa cidade. É o que a gente estava à espera. Um espaço prestigioso que pudesse enaltecer a nossa obra.

M: Como foi o acolhimento da nossa comunidade em Roma?

A nossa chegada, sábado em Roma, foi acolhida num ambiente de Morabeza cabo-verdiana. Foi organizado um rico jantar na casa de amigas. Um jantar que se transformou numa grande festa de bem-vindo ao nosso grupo. Domingo, dia do evento, pessoas muito carinhosas foram ao local para nos ajudar a preparar a exposição com tudo o que a gente precisava. Houve uma boa participação do público e no fim do evento abriram um bolo dedicado ao nosso grupo. Uma bela Homenagem. Prometemos voltar novamente na próxima edição dos eventos dos empreendedores cabo-verdianos.

Deixo aqui uma mensagem: Em Itália ainda não temos um empreendedor, mas estamos à espera com braços abertos para receber ao menos um elemento dessa nossa comunidade. Essa proposta é valida também para todos os cabo-verdianos na diáspora e em Cabo Verde. Para quem tiver interessado é só entrar em contacto com empreendedores cabo-verdianos no Instagram.

Um agradecimento muito especial à comunidade cabo-verdiana de Roma e todas as pessoas que contribuíram na realização do nosso evento. Obrigada a todas e todos. Pessoalmente quero aqui agradecer as 12 mulheres jovens (entre 30-40anos), bonitas e muito modernas no vestuário, na maquilhagem e com um belo sorriso de gente muito simpática, que sabe lidar com as pessoas, sobretudo na apresentação do próprio produto.

São mulheres consciente da própria potencialidade e das dificuldades que têm de enfrentar. Se a vida é um desafio, elas estão a desafiar. Uma grande lição de vida para as segundas gerações. Parabéns à empreendedoria  feminino na diáspora.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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