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Abraão Delgado vende cuscuz nas ruas de SV para salvar negócio 

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Abraão Delgado, 40 anos, é dono do “Cantinho do Abraão”, um pequeno espaço sito no Mercado de Monte Sossego, que vende pratos do dia e atende pedidos para eventos. Há dois anos, após expandir o seu negócio e investir todas as suas poupanças na melhoria do sítio foi surpreendido com o primeiro estado de emergência, que decretou o encerramento de quase tudo em São Vicente. Com o seu local de venda às moscas e com contas para pagar, decidiu produzir e vender cuscuz em uma bicicleta pelas ruas do Mindelo. Deu tão certo e hoje, recuperado financeiramente, pensa avançar para um novo projecto: montar uma churrascaria com produtos de casa. 

Abraão d’Cuscuz, como agora é também conhecido, conta que trabalha por conta própria desde 2015, quando abriu o “Cantinho do Abraão” no Mercado de Monte Sossego. “Vendo pratos do dia e faço produtos de pastelaria para eventos. Tinha muito movimento no meu espaço, o que levou-me a alugar uma segunda pedra no mercado. Com a pandemia da Covid-19, todos os clientes desapareceram e tinha de procurar uma alternativa porque tinha responsabilidades. Entretanto, foi decretado o estado de emergencia e as pessoas já não podiam frequentar espaços comerciais. A solução foi fazer cuscuz e vender nas ruas, ou seja, ir ao encontro das pessoas, respeitando o distanciamento.”  

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Esta ideia, prossegue este nosso entrevistado, foi bem acolhida pelas pessoas, sobretudo de Monte Sossego, onde circula. “Comecei a ganhar fama e adaptei a minha bicicleta para transportar duas arcas, uma na frente outra atrás, para manter o cuscuz quente. Agora estou a pensar adquirir uma outra bicicleta com encaixe para poder transportar o meu produto em melhores condições. O trabalho é cansativo porque às vezes tenho de percorrer mais distâncias. Mas, antes, tem todo o processo de preparação da farinha. Se tivesse uma pessoa para fazer a venda, poderia ficar no Cantinho apenas a fazer o cuscuz. Infelizmente, ainda não encontrei alguém que me inspire confiança.”  

Actualmente, de acordo com este entrevistado, vende em média 80 a 100 cuscuz por dia, por 60 escudos cada dose. Porém, por causa do aumento do custo do açúcar e da farinha de milho, o negócio enfrenta uma ligeira contração. “Tenho tentado manter a mesma produção, mas tenho de percorrer cada vez maiores distâncias para vender a mesma quantidade de antes. Por outro lado, devido a escassez da farinha no mercado, tenho de percorrer as mercearias da periferia e pagar mais. Acaba por ser um processo estressante porque às vezes não sei se vou encontrar o produto para fazer o cuscuz e estar na rua a vender impreterivelmente antes das 17 horas.”

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Para tentar driblar a falta do produto, nesta ultima semana Abraão optou por fazer cuscuz em dias alternados, sendo que em um dia tenta comprar o máximo de farinha que conseguir para, no dia seguinte, produzir e sair na rua a vender. “Antes da escassez comprava um saco de farinha por 2.200 escudos, agora pago três mil escudos ou mais. Um quilo de farinha sai, no mínimo, por 150 escudos. O meu medo é de o próximo carregamento ficar mais caro. Terei de repassar os custos, o que possivelmente irá afugentar os clientes, sobretudo nos primeiros dias.”

Até agora Abraão do Cuscuz vende em Monte Sossego, mas já começa a aventurar por outras zonas, designadamente Bela Vista e Campim. “Antes vendia todo o cuscuz nesta zona, principalmente nas imediações da Escola Cor-de-Rosa. Os meus clientes eram sobretudo pais que vão lá buscar os seus filhos e que aproveitam para comprar cuscuz para o lanche. Mas começo a firmar clientes também em outros bairros para manter as vendas”, diz este ambulante, que pretende ainda continuar algum tempo a vender cuscuz nas ruas do Mindelo, mas que tem o sonho de abrir uma churrascaria na casa dos pais no Calhau. “É o meu sonho e já comecei a preparar alguns equipamentos. Quero fazer uma churrascaria diferente, com produtos de casa, ou seja, pretendo criar galinhas e porcos para fazer os churrascos. Mas, enquanto isso, quero continuar a fazer e a vender cuscuz porque é dali que tiro rendimento.”

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Caso conseguir montar a sua churrascaria, Abraão Delgado afirma que vai manter o espaço no Mercado de Monte Sossego durante a semana e, no sábado e domingo, subir para Calhau para viver o sonho. 

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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