A terceira edição do Campeonato de Balizinha d’Pion, que decorre na praia da Lajinha de 31 de Agosto a 29 de Setembro, dia de S. Miguel Arcângelo, homenageia Zeferino Cid, personalidade de São Vicente falecido em Março último. De acordo com Kim-Zé Brito, mentor deste projeto, a decisão visa reconhecer o papel que esse empresário de Santo Antão teve no resgate do jogo de “pion”, tradição que esteve em perigo de cair no esquecimento.
“Há alguns anos estive na loja de Zeferino e percebi que havia pion (pião) à venda. Fazia tempo que não tinha via um pion pela frente e isso levou-me a viajar para a minha infância. Posso dizer que a ideia de organizar o campeonato de pião acabou por ser estimulada pelo sr. Zeferino. Porque, se não tivesse encontrado este brinquedo na sua loja, dificilmente teria essa iniciativa”, acrescenta esse jornalista de profissão, que decidiu estimular o ensino do jogo entre as crianças e ao mesmo tempo convidar os adultos a reviver essa velha brincadeira, que marcou a vida de crianças e adolescentes na ilha de S. Vicente.
Tendo em conta o desaparecimento físico de Zeferino, entendeu que deveria dedicar esta terceira edição do campeonato à memória dessa conhecida personalidade. Deste modo, decidiu propor a ideia a Natalina Cid, filha do homenageado, que ficou sensibilizada com este acto, pela ligação que tinha com o pai.
Natalina Cid recorda o pai como alguém ligado à tradição, por isso reconheceu a pertinência dessa homenagem, que, admite, deixou-a emocionada. “Meu pai era do tipo de pessoas que gostava de conservar a tradição. Por isso, se reparares bem, a loja continua com o estilo peculiar dos antigos estabelecimentos comerciais e até hoje vende objetos ‘raros’ como candeeiros de petróleo e outros ligados aos jogos tradicionais como o ringue e o pion, que acabou por inspirar o Kimzé”, acrescenta a filha.
Segundo Kim-Zé Brito, poderia escolher uma das muitas vertentes do jogo do pião como pretexto para levar as pessoas a voltar a pegar nesse brinquedo de madeira. Mas, como queria incutir o aspecto competitivo – porque para ele o jogo do pião tem essa vertente intrínseca – decidiu optar pela Balizinha d’Pion. Desta forma, explica, consegue ter numa única competição todas as vertentes próprias do jogo, como “pxá pa linha”, “tess-tess”, “tacada”, “cobrá ke linha e ke dedo”…; além disso os jogadores podem marcar golos na baliza adversária.
As inscrições já estão abertas e decorrem até 15 de Agosto. Este ano, o organizador conta envolver 30 competidores e um maior número de mulheres e organizar uma prova feminina. “Já há pelo menos quatro mulheres que mostraram interesse em participar, mas, se conseguirmos chegar aos oito serão divididas em quatro duplas e fazemos um torneio feminino. Se não possível, elas podem fazer as suas duplas ou fazer par com os homens em equipas mistas”, sublinha.
Para esta edição, esse organizador pretende convidar antigos jogadores e que eram considerados os melhores das suas zonas para um encontro, onde poderão reviver a sua infância e adolescência, contar as suas estórias, que serão gravadas. Tem ainda a intenção de poderão participar e abrir o campeonato.
Kim-Zé Brito tenciona ainda associar outros jogos tradicionais ao evento. “Desde a primeira edição que temos pensado em associar o jogo de ringue ou de corrida-pau, que pode ser realizado na praia da Lajinha. De modo algum iria interferir no campeonato de pion”, entende Brito, que sente que já começa a atingir o objetivo traçado desde a primeira edição que é levar as pessoas a voltar a jogar e a adquirir o seu pião.
A praia da Lajinha vai continuar a ser o palco do campeonato, um local bastante frequentado durante o verão por residentes, turistas e emigrantes e que serve o principal propósito da iniciativa que é resgatar o jogo do pião.
Sidneia Newton (Estagiária)
