Caiu ontem o pano sobre “campus de verão” da Aminga com entrega de diplomas e prémios aos alunos que mais se destacaram em diversas categorias. Impressionada com o sucesso do evento, Zina Gomes garante que vai realizar a segunda edição no próximo ano na mesma data – 5 a 11 de julho -, de novo na cidade do Mindelo.
“Estou emocionada e muito orgulhosa não só pelo trabalho desenvolvido pelo staff, mas também, e principalmente, pelo envolvimento das crianças. Nunca pensei que adolescentes pudessem assumir um compromisso tão sério e demonstrar um nível de entrega e de disciplina como aquela que verificamos aqui no campus”, enfatiza Zina. Para ela, os alunos deram 120 por cento daquilo que era o esperado, a ponto de chegarem com meia hora de antecedência na escola salesiana e se entregarem de corpo e alma até nas aulas de yoga e meditação.
Segundo esta jogadora de beach-volley, os próprios professores e treinadores que vieram dos Estados Unidos, Inglaterra e Portugal ficaram espantados com a resposta dos estudantes. “Encontraram alunos com uma base técnica deficiente em basquetebol e voleibol e verificaram um salto qualitativo impressionante nos jogadores em apenas uma semana de aula”, realça.
O campus, segundo esta mentora, visou disponibilizar ferramentas desportivas e educativas para permitir o crescimento dos alunos. Mas, mais do que isso, o evento quis também trabalhar o comportamento dos adolescentes. “O desporto dá-lhes muita coisa positiva, mas o que vai ficar pela vida toda é a educação. Depois de terem recebido tanto carinho e consideração de profissionais que vieram de tão longe, espero que agora possam fazer algo dentro do alcance de cada um para ajudar a sua comunidade”, enaltece essa emigrante cabo-verdiana nos Estados Unidos, que se sente “sortuda” por ter reunido um staff competente, composto por, licenciados, mestrados e doutorados em diversas áreas.
O campus foi inicialmente orçado em 75 mil dólares, pois incluía as modalidades de andebol, basquetebol e voleibol, além das aulas de informática e língua inglesa. Porém, a organização teve que eliminar o andebol e fazer mais uma série de outras cortes e deixar o orçamento em 25.000 dólares. Conseguir mobilizar parceiros e patrocínios foi no entanto um desafio titânico, muito em particular em Cabo Verde. Foi preciso correr atrás de empresas e instituições e enfrentar uma máquina burocrática pesada. Como diz Bety Gomes, a burocracia foi o principal obstáculo à realização do campus. “Quando pensas que já ultrapassaste uma questão, ela volta a surgir por causa de mais um aspecto burocrático. Acabei por ver que a burocracia acaba por ser o principal entrave a iniciativas novas em Cabo Verde”, comenta a jovem, que assumiu a logística em S. Vicente.
Devido a esta função teve de bater a uma série de portas, mas nem todas foram abertas tal como esperava. O projecto poderia ser “interessante”, mas conseguir a colaboração até das entidades não foi tarefa fácil.
“O meu sentimento é de alívio agora que o campus terminou”, confessa Bety Gomes, que temeu, no entanto, o cancelamento do encontro devido a situação de calamidade. Como diz, a três dias do arranque do evento ainda não tinham a certeza que seriam autorizados pela Delegacia de Saúde.
Por sorte, o plano de contingência foi aprovado. Neste sentido, todos os participantes foram sujeitos a testes à Covid-19, que deram resultados negativos. Entretanto, durante o campus, houve uma suspeita, a pessoa foi logo isolada e submetida a teste. O resultado foi negativo, mesmo assim o estudante ficou em casa 3 dias e foi submetido a um segundo teste, que voltou a dar negativo. Segundo Zina Gomes, agora que terminou o evento, todos os integrantes vão ser submetidos a mais um exame laboratorial.
Para o basquetebolista profissional Betinho Gomes, o campus teve um balanço extremamente positivo. “Encontramos atletas com um nível ainda relativamente baixo, porque passaram dois anos sem competir, e sabemos que as equipas em Cabo Verde fazem á volta de três treinos por semana, o que é muito pouco. Mas nesta semana vimos uma progressão fantástica dos jogadores e isso deixou-me orgulhoso”, confessa.
Os alunos, diz, foram submetidos a treinos de coordenação motora e exercícios para trabalharem a inteligência. “Basquete não é só driblar e fazer cesto”, salienta esse atleta do Banfica, que ficou também satisfeito com o interesse dos treinadores locais. Segundo Betinho, os técnicos e a presidente da ARBSV acompanharam todos os treinos e cabe-lhes agora dar seguimento aos ensinamentos adquiridos no campus.