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Morte de Celina Pereira lamentada por músicos e o embaixador Eurico Monteiro

A morte, aos 80 anos, da artista multifacetada Celina Pereira deixou consternada e num profundo pesar a comunidade cabo-verdiana em Portugal e no mundo, como constatou o Mindelinsite junto da missão diplomática de Cabo Verde em Lisboa e pelos contactos efectuados com colegas, amigos da malograda e através das redes sociais. A começar, o embaixador Eurico Monteiro qualificou o falecimento da artista como um acontecimento “muito triste e doloroso” para todos os cabo-verdianos no geral, e também os portugueses, visto que viveu em Portugal longos anos e fez muitas amizades.

“Celina Pereira foi uma senhora muita considerada e galardoada pelo presidente português, Dr. Jorge Sampaio, exactamente pelo seu trabalho na área da educação e da cultura cabo-verdiana”, frisa Eurico Monteiro, para quem a malograda era não só uma intérprete ilustre e muito competente das músicas cabo-verdianas assim como fazia incursão por diversas áreas, entre as quais a literatura infantil.

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De entre outros trabalhos da artista, Eurico Monteiro destacou o áudio-livro, que permitiu a recuperação de patrimónios mais expressivos e de jogos tradicionais africanos . “Era uma alusão sempre presente de Cabo Verde e da sua ilha da Boa Vista e possuia uma discografia de facto muito grande, que vem desde 1979 e passa pelo álbum muito importante intitulado Força di Cretcheu, de 1986, e outros como Storia, Storia, Nós tradiçon…” fez saber o diplomata cabo-verdiano. Para ele, trata-se de uma personalidade que atingiu um patamar muito elevado tanto na música como no domínio da literatura, da história e da tradição oral.

Segundo Monteiro, a embaixada tem recebido notificações de toda a Europa, dos Estados Unidos e do continente africano, enfim, de toda a parte onde existe uma comunidade cabo-verdiana. Lamenta o facto de as condições atuais não permitirem fazer as cerimónias com a dimensão de Celina Pereira, mas fez saber que, apesar do tempo de restrição, a Embaixada irá assumir a inteira responsabilidade por tudo aquilo que a artista merece. Anunciou ainda que tem conversado com o Ministro da Cultura, que está a envidar esforços para comparecer no evento fúnebre.

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Noutro patamar, o sociólogo Mário Matos, que privou de perto com Celina Pereira, afirma que a partida de Celina Pereira deixou a nação de luto, mas de que a sua obra não se perde. Para Matos é indelével o contributo de Celina para a cultura cabo-verdiana, em especial para a riqueza da música tradicional cabo-verdiana, com as suas intrepretações de Mornas típicas da sua Bubista natal. Isto sem falar no resgate que de géneros antigos, com tendência para cair em desuso.

“O seu amor entranhado pela Morna atinge o auge quando investe de forma pioneira em propor ao Govermo de Cabo Verde, em 2012, a assunção da candidatura da Morna a Património Imaterial da Humanidade, junto da UNESCO. Teve a felicidade de ver consagrado esse grandioso e merecido reconhecimento da música-rainha de nos terra, em 2019”, sublinhou Mário Matos. Este manifestou o desejo de que o nome da Celina Pereira fique inscrito no eterno das nossas basálticas rochas e que o vento que forma as alvas dunas da sua querida Bubista transporte a sua voz melodiosa na Morna para as sete partidas do mundo.

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Celina, uma cantora com uma voz típica

Por outro lado, o intérprete e compositor Nando da Cruz, que reside em França, enalteceu a contribuição de Celina Pereira para a cultura cabo-verdiana, considerando a sua morte uma perda irreparável para Cabo Verde. Para Nando da Cruz a Celina Pereira era detentora de um estilo único na voz e na forma de interpretar. No dizer deste artista, ela não só cantava, mas parecia que chorava ao mesmo tempo. Por isso introduzia muito sentimento às canções ao mesmo tempo que parecia que estava a contar uma história.

Já o compositor Morgadim, que conheceu Celina ainda moça em S. Vicente, entende que Cabo Verde tem de honrar o nome da artista por tudo o que fez em prol da cultura. O autor da música Cise recorda que Celina começou a cantar ainda antes de emigrar para Portugal e que sempre mostrou o seu apego à sua ilha natal Boa Vista. “A sua voz permitia-lhe cantar a Morna e outros géneros. Ela teve no entanto a feliz iniciativa de se engajar noutros projectos, nomeadamente de contos para o mundo infantil e resgate de jogos tradicionais”, enaltece o músico. Este lembra que Celina fez parte da Casa de Cabo Verde e foi fundadora do Congresso dos Quadros Técnicos Cabo-verdianos da Diáspora, além de ter participado activamente noutras iniciativas. Por tudo isso Morgadim entende que Celina Pereira merece todo o reconhecimento da nação cabo-verdiana.

João A. do Rosário

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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