A Ligoc vai manter o sistema de divulgação dos resultados do júri inaugurado este ano, mas tenciona transformar esse instante num espectáculo próprio. Marco Bento, presidente da Liga, reconhece que o modelo é moroso e desgastante, mas frisou que foi adoptado a pedido dos próprios grupos.
“As coisas demoraram mais do que o esperado por ser a primeira vez e porque houve alguns erros, mas vamos tentar rectifica-los para o próximo ano”, garante Bento, que defende a mudança do horário da atribuição dos prémios para o período da noite. Isto para evitar a exposição das pessoas ao calor do Sol, como aconteceu ontem à tarde. Algumas das figuras de destaque dos grupos ficaram extasiadas depois de horas em pé e duas delas chegaram a desfalecer.
O anúncio dos vencedores estava previsto para as 15 horas, mas a abertura das urnas e a leitura e a consequente divulgação dos resultados das três cabines de jurados para os nove quesitos começou uma hora mais tarde e terminou já noite. Tudo isso provocou um grande desgaste em toda a gente e deu azo a uma onda de críticas.
No entanto, Marco Bento entende que esse sistema deve continuar porque atribui mais transparência ao processo. Como recorda, antes tudo era decidido nos bastidores e dava espaço a várias suspeitas. Admite, no entanto, a necessidade de melhorias no sistema de modo a acelerar o anúncio dos resultados e que esse momento seja transformado em mais um espectáculo do Carnaval.
Este ano, segundo Bento, todos os grupos estão de parabéns pelo “excelente” desfile apresentado. Para ele, este foi um dos melhores concursos realizados no Mindelo, apesar das dificuldades enfrentadas pelos grupos e a própria Liga.
“Tivemos dificuldades porque o Carnaval foi disputado por cinco grupos, o que foi um grande desafio. Um dos pontos críticos era a zona de dispersão dos grupos”, reconhece o presidente da Ligoc-SV, para quem o Carnaval de S. Vicente está a crescer, o que implica tomadas de decisões. Na sua perspectiva, ou o concurso passa a ser disputado em dois dias – com o envolvimento de mais grupos – ou será imperioso passar o desfile para a noite.
Marco Bento não pôde confirmar se a Ligoc vai aplicar a regra de descida de divisão este ano. Esta medida, diz, vai depender de mudanças a serem introduzidas tanto nos Estatutos como no Regulamento do concurso. “Já pedi aos grupos para fazerem isso com urgência porque, tal como está, o Estatudo não permite a criação de uma segunda ou terceira divisão. Mas, se os actores se sentarem à mesa e rectificarem certas coisas ou suprimirem outras teremos as necessárias condições para criar a segunda divisão e passar os desfiles para dois dias, se for preciso”, salienta Marco Bento.
Questionado se essas mudanças podem ser aplicadas com rectroactividade, admite que isso seja possível. Este enfatiza que Mindelo teve um Carnaval de excelência este ano, fruto de uma maior motivação geral, e que a criação da segunda divisão será um passo positivo.
Jornalistas indignados com limitações
Entretanto, a cada ano, jornalistas e fotógrafos têm vindo a enfrentar barreiras e novas regras para darem cobertura ao Carnaval. Nesta edição, os grupos carnavalescos decidiram que, com excepção da RTC – que comprou os direitos de transmissão – os profissionais dos outros órgãos de comunicação social e fotógrafos independentes só poderiam entrar na área reservada às figuras de destaque em frente ao Palácio do Povo após a divulgação dos resultados. A informação foi avançada durante um encontro preliminar e deixou os jornalistas estupefactos.
O problema era saber como iriam recolher dados, imagens e depoimentos estando no meio do público e os riscos de desinformação que isso poderia acarretar. Isto sem contar com o facto de a imprensa ser ao longo do tempo uma das grandes aliadas da promoção do Carnaval de S. Vicente, para não se falar na liberdade de informação consagrada.
A preocupação foi levada à consideração da Ligoc-SV pela assessoria de comunicação e lá deixaram que os jornalistas e fotógrafos entrassem e ficasssem confinados nas traseiras do palco. Estes, tal como as outras pessoas, ficaram durante horas expostos ao calor só para acompanhar esse importante evento sociocultural. Depois tiveram acesso ao espaço reservado às figuras de destaque, mas sempre com restrições.
Esta situação provocou um debate entre os profissionais da comunicação social, que levantaram a hipótese de “boicotar” a cobertura jornalística do Carnaval a continuar esse tratamento.
Kim-Zé Brito