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Faleceu Lily d´Chala, presidente do grupo Vindos do Oriente, símbolo da natureza da mulher cabo-verdiana

A cidade do Mindelo foi surpreendida esta manhã com a notícia do falecimento de Lily d´Chala, empresária e figura indelével do Carnaval d´Soncent, justamente no dia do município da sua amada ilha do Porto Grande. Dona Lily, como era amavelmente tratada por todos, era nada menos que a líder incontestável de Vindos do Oriente, grupo emblemático da festa do Rei Momo em S. Vicente, que colocava amor, arte, qualidade e esplendor em cada desfile.

“Dona Lily era por natureza o Carnaval em pessoa. Ela colocava energia, amor, dedicação em cada desfile. Se hoje o nosso Carnaval chegou ao patamar em que está foi graças a ela. Com a qualidade do seu trabalho, obrigava os outros grupos a elevar a sua fasquia”, frisa Marco Bento, presidente da Liga dos Grupos de Carnaval de S. Vicente. Para ele, a bandeira do Carnaval d’Soncent está na meia-haste. “Uma perda irreparável para S. Vicente, em primeiro lugar, mas para todo Cabo Verde. Dona Lily era um simbolo da mulher cabo-verdiana, uma mulher frontal, de fibra, mas ao mesmo tempo amável e de fino trato”, acrescenta Marco Bento.

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Lily Freitas nutria uma paixão sincera pela ilha de S. Vicente

A notícia do falecimento de Dona Lily deixou desnorteado Fernando Fonseca, amigo e presidente do grupo Estrelas do Mar. Para ele, a malograda era como uma mãe, uma mulher que conheceu desde a sua infância na Rua d´Craca, onde brincou com Cely Freitas, uma das suas filhas.

Conhecedor da fibra da empresária, Nando tinha a esperança que ela conseguiria vencer mais esse desafio. “Fiz ideia que ela iria ultrapassar esse momento crítico porque passaram vários dias desde que soube do seu internamento. Pensei que o mais difícil já tinha passado”, comenta Nando, que descreve essa amiga especial como uma mulher guerreira, crítica, explosiva em certos momentos, mas dona de um coração dócil. Uma pessoa que se preocupava com as outras, em especial das mais desfavorecidas.

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Para ele, era no Carnaval que Dona Lily revelava a sua personalidade. A forma como se envolvia e procurava alcançar a excelência em cada desfile comprovava a sua própria atitude na vida. “Trabalhei com ela no Carnaval e sei o que ela fazia. Tinha uma paixão desmedida pelo Carnaval e tratava todo o mundo com o devido respeito”, frisa Nando, para quem Dona Lily deixou um legado, que espera ter continuidade através da manutenção do grupo Vindos do Oriente. Além do mundo das artes, Dona Lily, recorda Nando, tinha uma intervenção muito forte no desporto e na própria economia, enquanto empresária.

Foi com a voz embargada que Menta Freitas confirmou a notícia do desaparecimento físico de Lily Freitas, mãe do seu marido e que a acolheu como filha a partir dos seus 18 anos de idade. “Aliás, ela foi mais do que uma mãe porque nem todas as mães tratam os seus filhos como ela tratou a mim e ao meu filho”, salienta Menta, que teve a oportunidade de conhecer Dona Lily por dentro. Por isso não aceitava ouvir ninguém tentar maltratar a imagem dessa empresária e líder do grupo Vindos do Oriente.

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“Tudo o que ela conseguiu foi fruto do seu esforço. Foi professora, cabeleireira e ajudava muita gente. Mas acima de tudo, tinha uma paixão sem igual por S. Vicente. Quando ia para Portugal ficava ansiosa para voltar à sua cidade do Mindelo. E quis o destino que ela morresse no dia 22 de janeiro”, diz Menta Freitas.

Segundo esta fonte, Dona Lily sempre quis morrer em S. Vicente para poder ser levada à sua última morada pelo seu povo. Provavelmente com uma batucada sentida, numa mistura de festa e nostalgia. Se, por um lado, deu o último suspiro na sua ilha natal, essa morte aconteceu, por outro lado, numa altura em que os casos de Covid-19 atingiram um novo pico em S. Vicente e está decretada a situação de contingência.

Aliás, Dona Lily foi uma das tantas pessoas que contraiu o novo coronavírus em S. Vicente. Mas, para piorar a sua situação, apanhou uma infeção urinária, que prejudicou ainda mais a sua saúde. O seu funeral está marcado para as 15 horas, a partir da casa mortuária do HBS.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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