Os estilos musicais são diferentes, mas os artistas Dynamo (cabo-verdiano) e Xamã (brasileiro) atingiram objectivo similar ontem à noite na 39. edição do festival Baía das Gatas: projectar a vibe dos milhares de fãs literalmente para a crista da onda. Foram dois espectáculos seguidos e dos mais aguardados do segundo dia do evento. A lotação do enorme areal confirmou esse prognóstico. Entretanto, o cartaz tinha também outros dois grandes atractivos para o público: a estreia da cantora brasileira sertaneja Paula Fernandes e o show de Deejay Télio, este a fechar o cardápio artístico.
Após o singelo tributo a Bana, o festival entrou numa “vibração” mais intensa. Dynamo, jovem salense, entrou no palco numa moto praticamente a “dynamitar” o ambiente. Para ele, esse momento tinha que ser um sucesso vibrante: era a sua estreia e a realização do sonho de pisar o maior festival musical de Cabo Verde; além disso, a concretização do desejo do pai, natural de S. Vicente, de vê-lo cantar na Baía das Gatas.
O nervosismo inicial foi rapidamente abafado pela recepção calorosa do seu público. Jovens, na sua maioria, que conheciam as letras de todo o seu repertório. “Foi um momento incrível, a realização do meu sonho de infância. O motivo do meu nervosismo talvez seja porque era o único grande palco onde ainda não tinha apresentado um show. Um palco que nos coloca a responsabilidade de ser provavelmente o maior de Cabo Verde e também por acontecer em S. Vicente, ilha do meu pai”, comenta Dynamo, que dedicou o concerto ao pai. Uma promessa cumprida que aconteceu na hora certa, como tudo na vida.
O show de Xamã era outro momento ansiado pelos apreciadores do estilo desse rapper brasileiro que tem estado a surfar a crista do sucesso no Brasil e a nível internacional. Enérgico o quanto baste, o artista entrou na pista logo a fixar a conexão com o público, que manteve até sair do palco. É que, para seu espanto, a “galera” conhecia praticamente toda a sua discografia. E, a cada nova entrada, mais uma “rima” dos fãs. Sentiu-se tão acolhido que se sentou na ponta da passarela do palco e deixou ser abraçado pelos fãs enquanto cantava. Deste modo, tudo ficou mais fácil para o brasileiro, que se sentiu em casa. “Foi como actuar no Brasil”, pontua Xamã.
Para esse amante do videogame e do cinema, foi “um show vibrante”. “Preparamos uma actuação em que pudessem passar por alguns sucessos e os traps mais modernos. A galera correspondeu em tudo”, reforça Xamã, que costuma trocar mensagens com os fãs cabo-verdianos nas redes sociais Instagram e Twiter desde 2017. Uma interação que lhe permitiu criar laços, obter informações sobre Cabo Verde e facilitou a sua “integração” na Cidade do Mindelo, onde foi recebido como um filho da terra.
Xamã fez a sua estreia no mesmo dia que a colega brasileira Paula Fernandes no festival da Baía das Gatas. No entanto, ontem foi a terceira actuação da cantora sertaneja em solo cabo-verdiano, após cantar nas ilhas do Fogo e de Santiago. Artista de voz doce e suave, Paula Fernandes apostou num show “diferente”, com músicas mais dançantes.
Foi recebida com um forte aplauso quando surgiu no palco. À sua frente um mar de gente, tantas pessoas que pediu à produção para iluminar a praia para poder vislumbrar essa cena.
A temperatura foi, entretanto, esfriando entre os fãs, que pareciam desconhecer as músicas iniciais ou, então, estavam à espera dos sucessos. As coisas mudaram de figura quando decidiu cantar “Sodade”, a música mais famosa de Cabo Verde e que foi eternizada por várias vozes, sendo Cesária Évora a mais emblemática. O público não se fez rogado e fez o coro com a artista. A partir deste instante, Paula Fernandes interpretou outros temas mais apreciados pelos fãs e manteve o termómetro bem alto até encerrar esse show, que entra para a história da sua carreira, por ser o primeiro no festival Baía das Gatas.
“Preparamos um espectáculo mais dançante e divertido em comparação com os outros que fiz em Cabo Verde, mas sem perder a minha essência artística”, explicoi a cantora, que está neste momento envolvida no projecto musical 11:11, que já a levou a algumas paragens, nomeadamente Portugal e agora Cabo Verde. Segundo a artista, quando recebeu o convite para Baía das Gatas nem piscou o olho. “Topamos de cara!”, revela Fernandes.
O segundo dia foi fechado por Deejay Télio já com o Sol a espalhar os seus primeiros raios pela praia da Baía. E lá estavam os resistentes, que não deixaram o artista na mão. Um show a que o Mindelinsite não conseguiu acompanhar devido ao adiantar da hora. No entanto, segundo a plataforma Balai.cv, Deejay encontrou um público ainda cheio de energia, que vibrou com as músicas durante uma hora de especáculo. Uma recepção que agradou o artista, para quem recebeu foi muita energia ao mais alto nível. Para o músico, há muita reciprocidade entre ele e o público mindelense.
A 39.ª edição do Baía das Gatas termina neste domingo, 13, com as atuações de Ceuzany, Dino D’Santiago, Protoje, Plutónio, YuranBeatz, AryBeatz e MC Acondize.