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Em noite de tributo a Bana, artistas e público prestam “um minuto de silêncio” a Humbertona na Baía das Gatas

Foram dois vultos da música tradicional cabo-verdiana os homenageados ontem à noite no segundo dia do festival Baía das Gatas: o malogrado intérprete Bana, considerado o “rei da Morna”, e Humbertona, exímio executante do violão e autor de solos tradicionais insquecíveis. A pedido do cantor Leonel Almeida, ex-integrante do grupo Voz de Cabo Verde, artistas e público aproveitaram o tributo a Bana para silenciar por um minuto a extensa praia da Baía num culto de respeito e adeus ao músico, falecido no dia 10 de agosto na Cidade do Mindelo.

Durante uma hora, temas celebrizados por Bana foram interpretados pelo trio Leonel Almeida, Dany Silva, dois artistas que dividiram o palco com o falecido intérprete da Morna e Coladeira, e Jenifer Solidade, cantora de uma geração mais actual de músicos cabo-verdianos. O momento alto aconteceu na ponta final do espectáculo quando as três vozes se juntaram para interpretar “Sonhe cordode”, morna da autoria de Paulino Vieira gravada por Bana. O público reforçou o cântico num coro potente em forma de abraço astral a esse vulto da música tradicional cabo-verdiana.

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Leonel Almeida, Dany Silva e Jenifer Solidade eram três artistas realizados com a homenagem a Bana. Os dois primeiros como reconhecimento pela parcela de vida artística que dividiram com Bana. Ambos atribuem a esse famoso intérprete parte considerável da “responsabilidade” pelas suas longínquas carreiras no mundo da música tradicional das ilhas. Aliás, Leonel afirma que, se não fosse Bana, ele não continuaria ligado à música cabo-verdiana, já que o seu plano era cursar Belas Artes. “Trabalhar com Bana foi um enorme prazer. Muita gente dizia que eu era a bengala do grande Bana porque sou baixinho e ele costumava colocar e descansar os seus braços no meu ombro”, revela Leonel, para quem foi, ao contrário disso, engradecido por esse gigante da música tradicional, o maior cantor que ele diz ter conhecido.

Dany Silva, o homem da voz rouca, revela, por seu lado, que Bana foi o responsável pela gravação do seu primeiro single. Isto numa altura em que costumava interpretar músicas anglo-americanas como o blues. “Muita gente não sabe, mas a minha carreira a solo, o meu primeiro disco, teve a etiqueta Monte Cara, empresa que Bana criou em Portugal”, revela Dany Silva, que foi estimulado por Bana a gravar alguma composição própria. E foi o que aconteceu. Mais tarde, continua, teve o privilégio de ver duas obras da sua autoria gravadas por Bana, uma delas “Badiu di fora”.

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Mais jovem, Jenifer Solidade não teve a oportunidade de partilhar o palco com Bana, mas sentiu-se honrada em participar no tributo. Ela que já está mais habituada a Leonel e Dany, afirmou à comunicação social que não ficou tão surpresa por ver tantos jovens à frente do palco a curtir as músicas tradicionais. “Não estranhei porque é uma fantasia que os jovens não gostam da Morna. Devemos ver que a festa é uma coisa e o festival é outra. Na festa tocam músicas para dançar e no festival os artistas interpretam músicas para serem escutadas e dançadas também. Ver todos os jovens apreciando músicas tradicionais interpretadas pela minha geração e a de Dany e Leonel deixa-me muito feliz. É mais uma prova de que não há como a nossa coladeira e morna desaparecerem”, considera Jenifer Solidade, que vê Bana como “o rei da Morna”, um artista que tinha uma “forma singular de cantar” e num crioulo de S. Vicente “muito doce”.

“Tive a oportunidade de conhecer Bana um pouco e saber que ele era um homem interessante, alegre, divertido, mas com uma postura muito séria”, comenta a cantora, que classifica Bana como um cantor incrível.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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