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Contratempos atrasam show, mas não destroem “sonho divinal”: Samba Tropical pede “mais respeito” para com o grupo

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O arquitecto David “Daia” Leite manifestou-se satisfeito com o espectáculo apresentado pelo Samba Tropical ontem à noite, mas mostrou-se revoltado com os problemas logísticos enfrentados pelo grupo e que provocaram um atraso de uma hora no aranque do desfile. Sem papa na língua, o presidente do grémio afirmou que a atenção dada ao show do Samba e a dispensada no dia do desfile oficial não tem comparação e que já é momento de o esforço dispendido pelo Samba Tropical passar a merecer mais respeito.

“Na terça-feira, o trânsito é interditado na Avenida Marginal e no centro da cidade por volta das 10 horas, enquanto que os carros continuam a circular com normalidade na avenida até às nove da noite, hora marcada para o início do nosso desfile. O nosso carro alegórico teve muitas dificuldades para chegar por causa do trânsito, mas mesmo assim o nosso sonho divinal não foi destruído”, desabafa o responsável do Samba, para quem o grupo deu um dos seus melhores espectáculos ontem à noite. Claramente insatisfeito com o “tratamento” dado ao Samba, Daia Leite promete levar a sua preocupação ao conhecimento da Liga dos Grupos Oficiais do Carnaval de S. Vicente – LigocSV.

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Bateria apontada “também” à CV Airlines: 200 trajes desperdiçadas

A bateria do presidente do Samba Tropical teve também outro alvo: a companhia aérea Cabo Verde Airlines. Isto porque, enfatiza Daia, a empresa resolveu cancelar todos os voos para S. Vicente nas duas últimas semanas provocando um enorme prejuízo ao Samba e a duas centenas de foliões das ilhas do Sal e de Santiago. Estes, explica, ficaram impossibilitados de viajar e o resultado foram 200 trajes desperdiçados, sonhos desfeitos e um desfile com menos 200 foliões. Para Daia, isto tudo é uma frustração, a prova que S. Vicente é uma ilha abandonada e estrangulada. “Como é possivel a nossa companhia aérea de bandeira cancelar todos os voos para Mindelo 15 dias antes do Carnaval e sem data certa para retomar as ligações?! Para mim isto é abandono e uma tremenda falta de respeito para com o Carnaval de S. Vicente, que, quer queiramos ou não, é o maior produto turístico sociocultural de Cabo Verde”, critica Daia Leite.

Este ano foi notório o esforço da Câmara e da Ligoc em estender o som até a Praça Nova. No entanto, a qualidade não agradou ao presidente do Samba Tropical. Para Daia é preciso reconhecer o grande investimento que a edilidade mindelense tem feito no Carnaval, mas enfatiza que a sonorização precisa ser melhorada. “Estamos a falar neste momento num troço sem sonorização”, sublinha. Na sua opinião, a atenção está concentrada nos trechos Posse – Rua de Lisboa – Av. Baltasar Lopes, enquanto os espectadores da Praça Nova não usufruem da mesma qualidade sonora.

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Metáfora sobre sonho e pesadelo

Concentração feita, últimos detalhes no carro alegórico, musas içadas, batucada no ponto, o Samba Tropical deu finalmente o sinal de partidapor volta das dez horas e entrada na Rua de Lisboa para realizar o seu sonho divinal: trazer para as ruas d’Morada mais um desfile memorável. E sabia que tinha em cima de si o júri mais crítico do mundo: os mindelenses. Como sempre houve quem ficou satisfeito e quem confessou que esperava “mais” do emblemático Samba Tropical. Mas num aspecto quase toda a gente parecia estar sintonizado: a beleza dos trajes e a harmonia do grupo.

Membro da Comissão de Frente, o encenador João Branco realçou que o Samba Tropical tem sempre glamour, cor e animação, pelo que nunca se cansa de desfilar e apreciar o grupo. “É sempre uma grande emoção, amo estar com o Samba”, confessa Branco, que aproveita para explicar que a Comissão de Frente apresentou uma matáfora sobre o sonho e o pesadelo. Sonho na figura da mulher e pesadelo representado pelo homem, “embora nem sempre seja assim na vida”. Além disso, trouxe um tripé com um cérebro que também simboliza esses dois lados e que acabam por “dançar” juntos, tal como sucede no palco da vida.

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Por sua vez, um grupo de bailarinos fez uma contraposição à ideia do sonho. Trajados de preto, tentavam galgar a dianteira do carro alegórico para perturbar o sonho, representado por uma mulher com asas de anjo. Segundo Diego Martins, 17 anos, o grupo representa uma espécie de pesadelo que quer perturbar o sonho, mas que ao mesmo tempo tem um sentido de veneração.

Elegante no seu traje e com muito “samba no pé”, Liana Maurício foi uma das tantas figurantes que conseguiu despertar a atenção do público pela sua expressividade e alegria. Esta mindelense veio de Angola com um único propósito: sentir e participar da “vibe” do Carnaval d’Soncent. “Vim de Angola com o meu marido e amigos angolanos e encontrei cá outras amigas que vieram da América para passarmos esta semana do Carnaval d’intençon. Nada no mundo me deixa mais feliz do que sambar no nosso Carnaval”, confessa a jovem, que comprovou isso mesmo com a forma como dançava e interagia com os membros da sua ala e o público.

O Samba Tropical saiu este ano com 1150 foliões divididos por 22 alas. O grupo apostou no tema “Todos os sentidos vão das ao sonho” e este ano apresentou um andor gigantesco ornamentado por seis musas, entre as quais as ex-rainhas de bateria Alcione Rocha (Samba Tropical), Miriam Rocha (Monte Sossego) e Ilsevania Alves (Estrela do Mar).

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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