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Com 13 obras em palco no Mindelact, Projecto Tripé procura atingir a profissionalização dos artistas do teatro em Cabo Verde

O encenador João Branco enfatizou hoje um facto notório em curso na 29. edição do festival Mindelact, que é a apresentação de 13 produções de artistas cabo-verdianos no domínio do teatro saídas do projecto Tripé, doze das quais em estreia absoluta. Na sua perspectiva, esse facto impressiona mais pelo curto espaço de tempo em que foram concebidas e montadas e a sua elevada qualidade. “Todas essas criações têm potencial para serem levadas para fora do país. Foram produzidas para serem facilmente portáveis, com equipas pequenas e cenários transportáveis”, frisa.

A apreciação deste mentor e presidente da Associação Mindelact foi exposta esta manhã numa conferência de imprensa onde o tema central foi o projecto Tripé – Três Ilhas, Três Artes, iniciativa que, diz, tem atingido um enorme impacto no processo formativo de vários criadores das artes cénicas em Cabo Verde, apesar de o projecto envolver instituições de três ilhas: Mindelact (S. Vicente), Associação Raiz di Polon (Santiago) e Projecto Chiquinho (S. Nicolau).

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Um dos grandes focos é possibilitar a profissionalização dos criadores do teatro e, por arrastamento, a obtenção de um rendimento. Neste sentido, um dos caminhos apontados, segundo João Branco, é a internacionalização dos artistas das artes performativas devido ao mercado exíguo das ilhas. Aliás, Branco enfatizou que a profissionalização passa automaticamente pela internacionalização. “Só colocando o artista no mercado internacional é que se consegue que ele possa viver da sua arte ou ter mais rendimento do seu trabalho”, concluiu esse actor.

Sobre este aspecto, a artista Débora “Debu” Roberto admitiu que uma das vias pode ser o estabelecimento de parcerias com companhias internacionais dispostas a comprar as produções cabo-verdianas. Havendo financiamento externo, acredita que isso iria ter um impacto positivo no processo criativo. “Podermos fazer o que amamos e sermos pagos é o que todos queremos”, acentuou essa integrante do projecto Tripé.

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Na perspectiva de Mara Costa, um dos passos essenciais rumo a profissionalização dos artistas do teatro passa pela adopção de políticas públicas por parte do Governo, visto que os artistas e instituições como o Mindelact há muito vêm fazendo a sua parte. “O trabalho formativo dos artistas, assim como a mentoria, já vem sendo feito, agora é o momento de o Estado fazer algo, que se crie o estatuto dos artistas e possamos atingir o profissionalismo”, pontua essa criadora.

Para a artista Zenaida Medina, no entanto, antes de se pensar na internacionalização é preciso olhar para dentro do arquipélago e notar as dificuldades tremendas que as pessoas enfrentam para se deslocarem entre as ilhas. Disse, inclusive, que a organização do Mindelact não conseguiu enviar um grupo à ilha de Santiago por falta de transportes. Na sua perspectiva, o trabalho desenvolvido pelos artistas cabo-verdianos teria uma maior visibilidade e reconhecimento internacional se pudessem fazer espectáculos em qualquer ilha, sem esse bloqueio nos transportes. “E nem estou a falar de financiamento”, salientou.

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Com a duração prevista de três anos, o projecto Tripé conta com mentorias e residências de artistas internacionais, contactos esses que têm auxiliado os envolvidos nos processos criativos e de montagem das suas obras. A execução do projecto tem sido, no entanto, acompanhada no terreno por uma representante da Fundação Calouste Gulbenkian. Para Narcisa Costa, membro desta instituição cofinanciadora do projecto, é importante estar presente, acompanhar o trabalho dos artistas e ajudar a propiciar-lhes as melhores condições para desenvolverem as suas obras.

“A nossa intenção é criar redes, bolsas de apoio entre os artistas e as estruturas para que possam ajuda-los na internacionalização e no próprio fortalecimento do tecido cultural na terra e com os da terra”, evidenciou Narcisa Costa, deixando claro que a fundação considera o acesso à cultura e a prática artística como direitos para todos, algo que extrapola o próprio artista.

As 13 peças produzidas no âmbito do projecto Tripé envolvem 16 criadores e serão apresentadas nos palcos da 29. edição do Mindelact. Aproveitando esta oportunidade, foram contratadas equipas de fotografia e de vídeo que irão captar imagens de qualidade profissional para ajudar os artistas a conceberem projectos que possam ser devidamente apresentados a financiadores a nível internacional. Uma medida anunciada por João Branco, visando a tal profissionalização dos fazedores das artes performativas em Cabo Verde.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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