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Lizandra Gomes “descobre” Cabo Verde e grava CD com fado, morna e coladeira

A cantora Lizandra Gomes, filha de pai natural da ilha de Santo Antão e mãe portuguesa, descobriu Cabo Verde recentemente e foi, de imediato, arrebatada pela morabeza das pessoas e pela beleza singular destas ilhas. Num exclusivo ao Mindelinsite, esta jovem, que actuou pela primeira vez em terras crioulas no segundo dia do Mindel Ímpar Summer Jazz e que já está a gravar um CD que mistura fado, morna e coladeira na cidade da Praia com o XL Produções, disse que não podia estar mais feliz porque em Cabo Verde quanto se olha para as pessoas “vemos música”.

Conta Lizandra que veio a Cabo Verde pela primeira vez na sua viagem de Lua de Mel e reencontrou-se. “Estou em Cabo Verde para começar de novo. Quando cá cheguei, apaixonei-me por Cabo Verde. Acho que foi um pouco o sangue a chamar-me. Não conhecia ninguém da família do meu pai, que é originário de Santo Antão. Agora já conheci muitas pessoas. Estou a ter uma experiência muito agradável aqui. Estou a conhecer mais da cultura e espero também contribuir para que Cabo Verde seja mais conhecido”, declarou.

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Sobre o CD que está a gravar, a jovem revela que vai se basear no fado, soul, morna e coladeira porque, explica, quer entrar no mercado cabo-verdiano. “Não posso estar só no mercado português. Quero fazer algo fresco para Cabo Verde. Quero misturar morna com fado, fado com soul e coladeira. Quero que esta mistura de ritmo seja único e especial”, explica a cantora, que no MSJ fez uma grande performance e se destacou por sua voz potente.

Cantou temas internacionais, mas também fez uma incursão à música de Cabo Verde, interpretando um tema de Dino de Santiago e uma da sua autoria, escrita em parceria com Caco Alves. Foi, diz, uma prévia daquilo que os cabo-verdianos podem encontrar no seu CD, que deverá chegar ao mercado no próximo mês de Outubro. “Estou a apreender crioulo então espero poder abrir ainda mais os meus horizontes. Apesar do meu pai ser de Santo Antão. Nunca ouvi música de Cabo Verde em casa. De Cabo Verde conhecia apenas Cesária Évora e Sara Tavares por isso escolhi este país para a minha lua de mel. Era o destino. Estava escrito.”

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Com a morte do pai, Lizandra conta que se sentiu no dever de saber mais sobre a sua família e país de origem. Esteve uma semana em São Vicente, um dia em Santo Antão e uma semana em Santiago. E foi suficiente para mudar a sua vida. “Encontrei familiares em Cabo Verde, mas também em Itália, Luxemburgo, Estados Unidos e Holanda. Tenho parentes espalhados por todo lado. Estou a sentir-me completa. Estou feliz e quero retribuir tudo aquilo que estou a receber. Vou aproveitar para conhecer mais agora.”

E espera reproduzir todo este amor no seu CD, que terá dez faixas, sendo algumas composições próprias e outras de compositores nacionais. “Neste momento estou na estrada e tenho sido abordada por compositores daqui, inclusive de São Vicente, que já me ofereceram músicas para gravar. Estou a trabalhar com XL Produções de Santiago. São muitos os artistas que estão comigo, caso por exemplo do grupo Pret & Bronk, vou fazer um dueto com o Albertino Évora. Estou a prender muito com todos estes fabulosos artistas”.

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Cesária Évora como referência

Lizandra admite que é uma admiradora de Cesária Évora e de Sara Tavares, talvez porque sempre teve um pouco de Cabo Verde na alma. Por causa das origens do pai, tinha o sonho de saber mais sobre as suas origens, apesar de não terem tido uma convivência porque os pais eram separados. Mesmo assim, queria saber de onde veio, conhecer o local onde nasceu.

Mas a realidade superou as suas expectativas. “Cheguei aqui e senti-me em casa. Depois de da lua-de-mel, regressei a Madeira e só me apetecia chorar. Percebi que não era normal, mas já não me identificava com as pessoas da Madeira. Tudo me parecia estranho. Entendi que o meu destino, se calhar, era viver em Cabo Verde. E aqui estou e estou muito feliz.”

Esta conta que começou a cantar mais a sério em 1998. Na altura, participou num concurso de vozes de verão e venceu. Entusiasmada, resolveu inscrever na Conservatória para fazer uma formação musical. Neste momento, diz, está a fazer uma formação pratica em Cabo Verde com os artistas locais e está a ser espectacular. “Cabo Verde tem muito para dar a nível musical. Para mim, é dos países mais ricos do mundo neste aspecto. Aqui, quando olhamos para as pessoas vemos música. Independente das dificuldades, as mulheres têm uma alegria intrínseca e estão sempre a cantar e a dançar. Isto é natural e, ao mesmo tempo, espetacular.”

Lizandra garante que se identifica com estas mulheres, que são alegres e lutadoras. “Há muito que tentava perceber de onde vinha esta minha força. Aqui encontrei todas as respostas. Tenho aquela garra e força para lutar para realizar os meus sonhos. Por mais dificuldades que encontro, nunca penso em desistir. A vida é isso e temos de viver com aquilo que temos. E Cabo Verde é muito rico em música e cultura”, completa, que diz ter encontrado no país, principalmente na ilha de Santo Antão, muitas similaridades com Madeira.

Até os nomes das localidades são idênticos, diz: Ribeira Brava, Ribeira de Janela, Porto Novo. As semelhanças se estendem ainda a paisagem, que é igualmente montanhosa. É tudo muito parecido e, se calhar, foi por isso que o meu pai escolheu Madeira para viver, pontua. “As vezes apetecem-me andar descalça nas ruas. Estou livre. Na Madeira já não conseguir fazer isso porque sentia uma grande pressão. Aqui tudo é muito tranquilo. Tá-se bem.”

Constânça de Pina

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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