“Ambrozz”, um autorretrato de MC Seiva: “Este videoclip não existiria se continuasse preso às correntes das drogas”

O rapper MC Seiva lançou esta semana no youtube um videoclip que, confessa, retrata a sua vida, mais propriamente a luta que tem travado para limpar o corpo e a mente dos efeitos das drogas. Intitulado “Ambrozz”, o trabalho é uma das faixas do cd Katumba d’Fog e mostra a trajectória infernal de um jovem que vivia a pensar nos estupefacientes, que praticava crimes para conseguir mais uma dose, mas que consegue dar a reviravolta com a ajuda da Bíblia.

Segundo Seiva, esta era a sua vida. Um jovem talentoso, mas prisioneiro das drogas e da falsidade. “Comecei a conhecer o submundo das drogas aos 11 anos por influência de amigos. Eu tinha muita liberdade, porque a minha viajou quando eu tinha cinco anos e fiquei com o meu pai. Desde essa idade só agora é que tive coragem para dar um basta e mudar o rumo da minha vida”, revela Seiva, que cansou de “consumir para viver” e “viver para consumir”.

“Tomei a decisão de mudar porque Seiva virou um nome grande, graças a sua arte. O rapper virou o ídolo de crianças e adolescentes, que cantam a sua música. Tomei a consciência que tinha várias máscaras e isso deu-me vergonha. Não podia ser algo falso para quem me escutava e seguia a minha música”, relata.

A partir deste ponto, este compositor e intérprete decidiu colocar um travão e mudar de direcção. O plano era procurar a recuperação espiritual, mental e física, libertar-se das correntes das drogas. Assim, procurou ajuda na Granja de São Filipe, na cidade da Praia, onde esteve seis meses internado. Submetido ao programa “Só por hoje”, foi acompanhado por psicólogos e outros técnicos e procurou mergulhar-se nos ensinamentos da Bíblia, livro que, diz, se tornou no seu guia espiritual.

Onze meses depois, Seiva sente-se outra pessoa. Desde os 11 anos que não passou tanto tempo sem “beijar” ou snifar droga para dentro do seu corpo e espírito. “Sinto-me libertado, mas vivo um dia de cada vez. Não estou aqui a vangloriar-me, mas a reconhecer uma transformação que é um processo permanente”, frisa.

Para assinalar esse novo ciclo, Seiva decidiu produzir “Ambrozz”, um vídeo clip concebido para contar a vida dele, dela e de tantos outros e outras. Como diz, “Ambrozz” foi escrito para “esconder” o Seiva e projectar um futuro. É algo que marca a luta de um jovem pela sua identidade, mas que ao mesmo tempo retrata a vida de tanta gente. “O clip Ambrozz não existiria se eu continuasse preso às correntes das drogas”, garante o artista, que não dissocia a sua relação com a cocaína da sua carreira artística. Este explica que, se antes tinha de correr atrás para conseguir uma dose, com a fama passou a ter acesso fácil à droga, muitas vezes oferecida pelos fãs, que sabiam da sua dependência. Deste modo acabou por afundar-se mais rápido até sentir que tocou o fundo do poço.

Seiva afirma que criou uma legião de seguidores com a sua música, enquanto que se afastava da família. Quando decidiu pedir ajuda à Granja, já tinha quatro anos sem se relacionar com os membros da sua família. E, dois meses após o internamento, o pai faleceu. “Quando fumava ‘pedra’ ou ‘snifava’ cometia delitos. Já fui preso por conta do meu comportamento errado”, confessa.

Em cinco minutos, Seiva tenta passar o filme da sua vida. Para conseguir um trabalho de qualidade, pediu a colaboração de actores de teatro, fez a realização e colocou a responsabilidade da captura de imagem nos jovens do estúdio Artscreen Ashey Smith & Wiliane. A edição tem a assinatura de Nelson Amado, produtor de vídeo residente nos Estados Unidos.

O videoclip tem dois momentos muito bem definidos: um primeiro com imagens a preto e branco, que retratam a fase do consumo de drogas e delitos; outro colorido, que surge quando abre a Bíblia e nasce uma nova luz na sua vida. Hoje, Seiva vive um dia de cada vez. Faz meditação e oração diária, planeia os seus passos sem ansiedade, suportado pela força da Bíblia.

Kim-Zé Brito