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Semana da Alimentação Adequada: Resultados do projecto “Do campo à escola” apresentados nos Salesianos

Os resultados do projecto “Do campo à escola”, uma iniciativa que surgiu há dez anos com os primeiros hortos escolares e que actualmente congrega associação de agricultores nacionais que abastecem o programa de alimentação escolar, foi hoje apresentado no Mindelo, no quadro da Semana da Alimentação Adequada. Esta semana organizada pela Associação Amigos da Natureza, Centro de Estudos Rurais e Agricultura Internacional (Cerai) e Secretariado Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional de Cabo Verde para celebrar o Dia Mundial da Alimentação, assinalada a 16 de outubro, mas cujas actividades foram adiadas por causa das eleições presidenciais.  

São Vicente foi escolhido como palco nacional para se discutir e analisar os sistemas alimentares, de acordo com o coordenador do Cerai, Adriano Palma, que esclarece que por sistemas alimentares se entende todas as relações humanas e não humanas que podem ocorrer a volta da alimentação. “Não estamos a falar apenas da produção, mas também do processamento, distribuição, preparação e consumo dos produtos. E este sistema deve ser sustentável, mas, para isso, ninguém pode ficar de fora. Cada interveniente tem uma palavra a dizer. É quando direitos humanos, económicos e principalmente sociais de cada interveniente são respeitados”, diz Palma.

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Afirma que por trás da alimentação estão pessoas, território e planeta, pelo que é preciso estar atento a esta questão. Exatamente por isso, não se pode ver o aspecto comercial como o principal factor na escolha na hora de comer. “Vamos apresentar os resultados do projecto ´Do campo à escola`, que vem sendo implementado desde março passado e que representa para o Cerai, para a Associação Amigos da Natureza e para a Ficase o culminar de uma estratégia que começou há dez anos em S. Vicente, com os hortos escolares do Calhau e Madeiral e que chega agora as alianças criadas nas ilhas do Fogo, Santo Antão e S. Vicente que actualmente abastecem o programa de alimentação escolar”, congratula.

Impacto da aliança

Em jeito de exemplo do impacto desta aliança, Adriano Palma destaca o caso do Fogo em que mais de 60 famílias rurais entregam, a cada três meses, toneladas de milho cochido para confecionar cachupa nas escolas na ilha, mas também na Brava e Santiago. “Estamos a falar de 44 mil alunos que comem graças a aliança. O mercado das cantinas escolares se abre efectivamente para os agricultores para o escoamento dos seus produtos, que são de alta qualidade porque produzidos no modelo tradicional. “

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Em São Vicente, prossegue o coordenador do Cerai, a Rede de Agricultores Locais (Repal) já abastece todas as escolas do ensino básico. Trata-se de um mercado de mais de nove mil alunos desta ilha, mas também de S. Antão. “Já estamos em uma dimensão regional de mobilização de produtos. Esta é uma trajetória que começou desde simples hortos escolares e que avançou para uma dimensão de economia local, de mobilização de produtos, logística, transporte por mar e camiões, que passa ainda por unidades de processamento e conservação no frio. Mas é também um percurso de aprendizagem dos agricultores e das escolas”, acrescenta.

Isto porque, afirma, desde o início foi montada uma estratégia de formação-acção, em que se formava os agricultores e se comprava a matéria-prima, que tinha como destino final as cantinas escolares. Numa segunda fase, firmaram-se contratos com a Ficase, através da dotação orçamental do programa alimentar escolar. Já a próxima fase, a terceira que arrancará em janeiro, com colaboração dos pais, através do contributo anual às cantinas escolares. “Estamos a preparar, neste momento, junto com a delegação do Ministério da Educação de São Vicente, para iniciar o abastecimento das cantinas das escolas da ilha, com fundos exclusivos. É aglo significativo porque mostra como a política publica pode dar um passo em frente com participação também dos pais, os mais directos interessados”.

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Adquirir produtos frescos

A delegada do ME garantiu por seu turno que esta parceria com a Repal, que conta com assistência técnica da Cerai, tem dado grande apoio ao projecto “Do campo à escola”. Segundo Maria Helena Andrade, este é um projecto que visa adquirir produtos verdes e frescos local nos produtores de forma a incentivar também o consumo local e a economia local. “Estes produtos são levados para o centro, tratados e distribuídos para as escolas. Produtos como batatas, cenouras, verdes, banana, enfim. A Educação aparece neste projecto, logicamente, porque temos cantinas escolares que oferecem refeições quentes aos alunos. É uma forma de reforçar a ementa para que possamos também dar uma maior resposta às nossas crianças nas escolas em termos de uma boa alimentação”, pontua, realçando que uma alimentação equilibrada também reflecte no aproveitamento escolar.

Paralelamente, ajuda as comunidades porque promove o desenvolvimento da economia local. Isso porque, frisa, ao comprar em um produtor local está-se a contribuir para melhorar a sua vida. Este projecto não é apenas de distribuição de alimentos. É também de capacitação destes produtores no sentido de fazerem uma boa gestão dos recursos que provém das suas vendas. Começou no ano passado e queremos que tenha vida longa”.

O arranque desta Semana de Alimentação Adequada – Do Direito à Política, do Consumo à Produção Sustentável, que conta com financiamento da União Europeia e que vai de 19 a 23 do corrente, foi aproveitado para se fazer a entrega de cerca de duas toneladas de produtos de Santo Antão e S. Vicente. Foram uma tonelada de bananas de Ribeira da Torre e Janela, 400 kg de inhame do Tarrafal e temperos e legumes de Ribeira de Vinha e Calhau. Para além da apresentação dos resultados da iniciativa “Do Campo à Escola”, ao longo desta semana vão ser dados a conhecer a Coleção Cadernos de Agroecologia, haverá uma exposição fotográfica e tertúlias, simpósio Sistemas Alimentares Sustentáveis, pela de teatro com “Morabeza” e lançamento do Bodji – Concurso de ideias para curtas-metragens.  

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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