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Itália: Nicolau do Rosário, cabo-verdiano herói da II Guerra Mundial, destacado nas celebrações do 80° Aniversário da Libertação dos nazi-fascistas

Maria de Lourdes Jesus

A cidade de Roma é, durante esta semana, o centro do mundo. A morte repentina do Papa Francisco trouxe milhares de pessoas, peregrinos e fiéis ao Vaticano para prestar as últimas homenagens ao amado Sumo Pontífice. Amanhã é o dia da chegada de mais de 50 chefes de estado de todos os continentes, delegações e dezenas de fiéis que vão participar no funeral do Papa Francisco, no sábado 26 de Abril. Nesta semana turbulenta em Roma, Itália celebra o dia de Libertação do regime fascista e da ocupação nazista, ocorrido no dia 25 de Abril de 1945. Uma data importante em que se comemora os combatentes da Pátria, da democracia, da liberdade e dos direitos conquistados considerados hoje garantidos. E o cabo-verdiano Nicolau do Rosário, natural da ilha de São Vicente, é um deles.

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Essa data é celebrada todos os anos em todas as cidades da Itália, com manifestações, debates, concertos e eventos que promovem a consciência antifascista, sobretudo no atual período histórico onde o retorno do nacionalismo, o avançar da extrema-direita em Europa, a democracia liberal, o poder dos oligarcas com o predomínio duma cultura de guerra a fim de dominar o mundo inteiro e não só.

Entre as cidades italianas que celebram o 25 de Abril, Genova detêm uma gloriosa história de resistência durante a Segunda Guerra Mundial. Um contingente militar alemão se rendeu às Forças de Resistência genovês, no dia 25 Abril de 1945, às 19:30 sem qualquer intervenção dos aliados. É o único caso em Europa, razão pela qual, Génova foi condecorada com Medalha de Ouro pelo Valor Militar, pela sua resistência e libertação da cidade e, em particular, pela revolta que levou à “rendição das tropas alemãs e à salvação do porto, das indústrias e da honra da cidade.”

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Símbolo autêntico da resistência, Genova este ano foi escolhida pelo presidente da República Italiana, Sergio Mattarella, para celebrar o 80° aniversário da Libertação que pôs fim à ocupação alemã, vinte anos da ditadura fascista e a cinco anos de guerra. Na luta contra os nazi-fascistas, que ocuparam a cidade de Génova, fazia parte  um nosso patrício, Nicolau do Rosário, natural da ilha de S. Vicente. Nicolau juntou-se aos “partigiani” (forças de resistência contra os fascistas).  

Fazia parte da 863° Brigata Garibaldina SAP* “Bellucci”. Uma história gloriosa. No dia 24 de Abril de 1945 houve um conflito insurrecional em frente ao Hospital Galliera. “No confronto com o inimigo, num combate corpo a corpo com o soldado alemão, Nicolau foi ferido por um golpe de baioneta. Apesar do ferimento grave, manteve-se na liderança de um grupo de partigiani e não hesitou em lançar-se contra a posição inimiga, equipada com metralhadora. Foi atingido mortalmente por uma rajada de metralhadora.”

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Com o seu exemplo heróico, ofereceu a sua vida para uma Itália Livre e Democrática, nas vésperas do fim da Segunda Guerra Mundial. Na fachada do Hospital Galliera de Gênova, foi colocada uma placa dedicada ao herói Nicolau do Rosário. E todos os anos, a comunidade cabo-verdiana nesta cidade rende homenagem a este patrício. 

No 80° Aniversário da Libertação do fascismo, na cidade de Gênova, vai ser apresentado o espetáculo teatral “D’oro. Il sesto senso partigiano”, no Teatro Ivo. O espetáculo é um projeto dedicado à homenagem e à memória partigiana, com particular atenção à cidade de Gênova, condecorada com medalha de ouro pela Resistência. Trata-se de um trabalho de pesquisa realizado por dois grandes jornalistas: Laura Gnocchi e Gad Lerner, interpretado por jovens atores, percorrendo toda a história da Resistência italiana. E Nicolau do Rosário é parte integrante da história dessa resistência.

Quis o destino que entre os vários atores estivesse uma jovem, cabo-verdiana, Kadija Lopes Seye, nascida em Gênova, a representar e interpretar a parte do partigiano Nicolau do Rosário hoje, 25 de Abril, no Teatro Ivo de Gênova, na presença do Presidente da República italiana. 25 de abril é hoje uma festa para todos, um dia para lembrar e honrar aqueles que lutaram pela liberdade e acreditaram num futuro na democracia. É o dia da celebração do fim do fascismo, da opressão, da coragem de quem resiste, de quem sonha e constrói a democracia todos os dias com pensamento crítico e participação.

Relativamente à história do herói da Segunda Guerra Mundial em Itália, conhece-se uma mínima parte (aquela gloriosa) do Nicolau do Rosário. Nasceu em S. Vicente no dia 4/09/1894. Juntou-se aos partigiani” (forças de resistência contra os fascistas) e fez parte da 863° Brigata Garibaldina SAP* “Bellucci”. Após a sua morte, no dia 24 de Abril 1945, os companheiros admirados por sua coragem e determinação em defender a cidade de Gênova, pediram que lhe fosse concedida a medalha de honra (nº 9063).

Nicolau do Rosário foi sepultado no Cemitério Monumental de Gênova, no Campo Perenne, reservado aos Partigiani caduti per la Libertà (Tomba 21, Fila 24). Quanto à documentação, sobre Nicolau do Rosário, por agora foi publicado o livro do escritor Garaventa Bruno “Storia di un uomo venuto dal mare”. Aguarda-se o resultado da pesquisa da jovem Sandra Andrade, que está determinada em conhecer o herói genovês de Cabo Verde. Quem sabe se a Embaixada e o Governo de Cabo Verde possam interessar em apoiar uma iniciativa capaz de dar a conhecer, ao povo do arquipélago, a história do herói da II Guerra Mundial, filho destas ilhas, mas desconhecido no País.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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