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Inquérito: Maioria dos cabo-verdianos concorda que a Independência foi a melhor opção, em vez da permanência sob domínio colonial

A maioria dos cabo-verdianos concorda que a Independência foi a melhor solução para Cabo Verde, em vez da permanência sob o domínio da administração colonial portuguesa. Conforme um inquérito realizado pela Universidade Católica Portuguesa entre maio e junho com 810 residentes nas ilhas, 84% dos inquiridos apoia essa conquista alcançada através da luta armada, enquanto 12% entende que o país deveria ter ficado como um território autónomo. Os restantes entrevistados não conseguiram se posicionar sobre esta questão.

A descolonização, do ponto de vista dos cabo-verdianos, trouxe ao país mais benefícios do que prejuízos em termos económicos, políticos e culturais. A nível económico 63% manifestou esta opinião, enquanto, em termos políticos e culturais, os valores apurados apontaram respectivamente para 61% e 87 por cento. Os com opinião contrária chegaram aos 27% em relação ao aspecto económico, 29% no tocante aos benefícios políticos e apenas 6% quanto a cultura.

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Um total de 81% dos inquiridos cabo-verdianos deixou claro no estudo de opinião que, se tivesse tido a possibilidade, iria apoiar os movimentos de libertação na guerra colonial. Sobre esta matéria, 10% manifestou opinião contrária, ou seja, teria ficado do lado do governo português.

Perguntados se os portugueses que deixaram propriedades no arquipélago com a proclamação da Independência deveriam ter sido indemnizados, 81% respondeu negativamente. Já 12% mostrou-se favorável a esse cenário. Por outro lado, 80% da amostra acha que Portugal deveria ter dado pensões aos ex-combatentes africanos inseridos nas suas fileiras durante a guerra e 90% defende que Lisboa deveria ter atribuído nacionalidade a esse grupo de soldados e a todos os funcionários que estiveram do lado de Portugal no período colonial.

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Apesar da exploração colonial, 83% dos inquiridos acha que não se deveria retirar as estátuas e outras marcas da presença portuguesa em Cabo Verde relativos a esse período. Sobre esta questão, 16% assumiu posicionamento contrário. Entretanto, 63% dos entrevistados acha que Portugal deveria devolver obras de arte, artesanato e outros bens levados de territórios que foram suas colónias no continente africano. Adicionalmente, 58% acha que Lisboa deveria pedir oficialmente desculpas a Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe pela colonização. Neste quesito, 30% discorda e 12% não soube responder a esta matéria.

Nos dias actuais, falar sobre a Independência traz mais “coisas positivas” do que negativas para 77% dos inquiridos. Um total de 43% acha, entretanto, que o período colonial foi negativo para C. Verde em termos sociais, económicos e políticos, enquanto 39% considera que foi positivo e 4% acha mesmo que foi “muito positivo”.

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Decorrido meio século da tomada da Independência, 62% avalia de forma positiva o governo cabo-verdiano em termos sociais, económicos e políticos e 8% dá ainda nota “muito positiva”. Em contramão, para 20% a avaliação é negativa e muito negativa para 4 por cento.

Apenas 10% mostra-se “muito satisfeito” com o estado da democracia no país, regime assumido com as primeiras eleições multipartidárias. Já 35% mostra-se “razoavelmente satisfeito”, 29% pouco satisfeito e 24% nada agradado com o estado da democracia em C. Verde. Porém, para 88% este modelo continua a ser melhor que qualquer outro regime político.

Apesar da história, os cabo-verdianos acham que o país deveria ter “relações mais chegadas” com Portugal dentro do grupo de países da lusofonia. O estudo indica que, para 81%, Cabo Verde e Portugal têm boas relações, enquanto 15% considera que elas são mais ou menos. Quando questionados em qual país optariam por viver se saíssem do arquipélago, a maioria (35%) disse que escolheria outro país europeu e 31% apontou Portugal. Outro cenário seria Estados Unidos/Canada para 24% dos entrevistados. Brasil, China, Angola e Moçambique aparecem como prováveis destinos para uma parcela que vai até 2 por cento dos inquiridos.

Quase a totalidade das pessoas abordadas (94%) ouviu falar da CPLP e para 90% a comunidade é importante para Cabo Verde. Um total de 87% concorda que a relação do país com os países de língua portuguesa deve ser uma prioridade estratégica da política externa cabo-verdiana.

A sondagem “50 Anos de Independências — A descolonização portuguesa e os seus legados” foi desenvolvida por uma equipa do CESOP – Universidade Católica Portuguesa -, em parceria com a Comissão Comemorativa 50 anos do 25 de Abril e a RTP. O universo alvo foi composto por cabo-verdianos com 18 ou mais anos de idade, residentes em Cabo Verde.

Os inquiridos foram selecionados aleatoriamente, na rua, em várias ilhas de Cabo Verde (maioritariamente Santiago e São Vicente) entre 29 de maio a 23 de junho de 2025 e todas as entrevistas realizadas presencialmente.

Consta na ficha técnica que foram obtidos 810 inquéritos válidos, sendo 49% dos inquiridos mulheres. Todos os resultados foram depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo, escalões etários e ilha com base nos dados do INE Cabo Verde. A margem de erro máximo associado a uma amostra aleatória de 810 inquiridos é de 3,4%, com um nível de confiança de 95 por cento.

Além de Cabo Verde, foram realizados inquéritos semelhantes em Portugal e Angola.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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