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Hotel Ouril retira vista panorâmica da baía do Mindelo a moradores e estes ficam revoltados: “Enganados!”

Moradores de Alto de S. Nicolau estão revoltados pelo facto de a construção do Mindelo Ouril Hotel ter ultrapassado a altura da estrada de acesso às suas residências e bloquear parte considerável da vista panorâmica que tinham para a Avenida Marginal. Em conversa com Mindelinsite, oito proprietários relataram que tanto o vereador Rodrigo Martins como Manuel Lima, o dono do empreendimento, garantiu-lhes que o prédio iria crescer até a cota da estrada, pelo que continuariam a ter acesso visual à marginal da cidade do Mindelo. Porém, dizem, nada disso foi respeitado, tanto assim que o betão já começou a tapar-lhes a vista privilegiada que antes usufruíam e a construção ainda continua.  

“Sentimo-nos enganados pelos dois porque deram-nos a sua palavra. Quando a obra começou ficamos a saber que o hotel iria ultrapassar a altura da estrada. Fomos falar com o Presidente da Câmara e ele garantiu-nos que não iria permitir que isso acontecesse. O sr. Presidente disse-nos nesse dia que ainda não estava por dentro do projecto para falarmos com o vereador Rodrigo Martins”, relata Jorge Leite.

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Segundo Leite, ele e a colega Milu Monteiro foram falar com o referido vereador e este deu-lhes também a mesma garantia. Aliás, mostraram ao jornalista um email que Rodrigo Martins enviou ao dono do investimento no dia 31 de maio de 2019 a lembrar-lhe que o edifício não deveria ultrapassar o limite do muro/estrada que fica nas traseiras do hotel. “… evitando assim colocar em xeque os investimentos privados existentes na envolvente e salvaguardar a harmonia arquitectónica da zona.” 

Apesar disso, o grupo de moradores sente-se enganado pelo vereador, mas também pelo empreendedor cabo-verdiano. Explicam que Manuel Lima chegou a visitar cada um deles nas suas casas e assegurar-lhes que continuariam a ter acesso panorâmico à avenida. “Ele chegou inclusive a adiantar que seria construído um espaço verde no terraço e que iria servir como um miradouro”, revela Débora.

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Assim que a obra arrancou, diz Jorge Leite, viram logo que o primeiro piso ultrapassou mais de um metro a altura prevista. Agora, acresenta, o prédio já estáa pelo menos um metro acima da cota da estrada. Na sua opinião, alguém anda a tentar tratar os moradores do Alto de S. Nicolau de parvos, desrespeitando o esforço que fizeram para construir as suas casas nessa área. “E muitos de nós ainda estamos a pagar o nosso investimento, que agora passou a ser desvalorizado por força de quem tem mais dinheiro”, comenta Jorge Leite, que já não acredita na possibilidade de a situação ser revertida. “Teria de ser ingénuo a ponto de acreditar no pai Natal.”

Embargo, um caso a pensar

Perante esse facto, o grupo pretende estudar a possibilidade de acionar um pedido de embargo. Segundo Vanda Monteiro, esta medida terá de ser tomada por consenso pelos moradores afectados pela obra. “A verdade é que neste momento estou a ser invadida por um sentimento de impotência porque acreditamos na palavra do dono da obra e do vereador Rodrigo”, desabafa.

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Zau Lopes afirma que está disposta a lutar pelos seus direitos até as últimas consequências. Segundo esta proprietária, estavam tranquilos no seu canto e lembra que esse espaço era usado pelos mindelenses para apreciarem o fogo-de-artifício no dia de S. Silvestre, mas que tudo agora mudou. “Há duas semanas que vemos o prédio sempre a subir. Telefonei ao dono da obra confrontei-lhe com esta situação e ele veio conversar comigo assim que regressou a S. Vicente. Ele viu a situação, ele mesmo voltou a dizer que nos tinha dado a sua palavra, mas a verdade é que ele desrespeitou a sua palavra”, critica Zau Lopes, que pergunta onde andam as autoridades municipais, que deveriam ser os primeiros a defender os interesses da ilha de S. Vicente e da população.

Lena Leite acrescenta que Manuel Lima garantiu-lhe que o hotel teria 4 pisos, mas que já vai em seis. “Esse senhor disse-me que ele fez essa obra apenas para dinamizar a economia de S. Vicente e oferecer emprego porque ele tem hotéis no Sal e na Boa Vista e não precisa de dinheiro para viver”, conta essa moradora, para quem o grupo deveria pensar em colocar o caso nas mãos de um advogado.

Na perspectiva de César Araújo e Milu Monteiro aquilo que a autarquia deveria fazer era transformar em museu a antiga oficina do mestre Kung que antes existia nesse terreno. Estes lembram que ali foi construído o primeiro barco em Cabo Verde, mas que essa história foi agora soterrada pelo hotel.

Hotel projectado para ultrapassar a altura da estrada

Confrontado com a reclamação dos moradores, o vereador Rodrigo Martins esclarece que o assunto é da alçada do presidente da Câmara de S. Vicente enquanto responsável pelo pelouro do Urbanismo. Reconhece que foi abordado sobre o assunto e que, na qualidade de vereador do Turismo, remeteu uma mensagem ao dono da obra lembrando-lhe de respeitar a volumetria e a altura da estrada para não prejudicar os moradores.”Tive o cuidado de fazer isso porque se trata de um empreendimento turístico, mas nada tenho a ver com a aprovação do projecto”, frisa Martins, que aconselha os moradores a colocarem as suas preocupações por escrito ao presidente da CMSV. 

Segundo Jorge Leite, o grupo tomou essa iniciativa faz quinze dias, tendo inclusive informado o vereador Albertino Graça da situação, mas ainda continuam a aguardar uma reação.

O hotel Ouril Mindelo tem 24,44 metros de altura por 48 de largura e foi projectado para ultrapassar a cota da estrada na traseira. Esta é a conclusão de uma conversa que Mindelinsite teve com o arquitecto Samuel Santos, cuja empresa elaborou o projecto de arquitectura e de estabilidade do empreendimento turistico. Como explica, o projecto foi feito e aprovado de acordo com a planta de localização fornecida pela CMSV. A obra contempla rés-do-chão e mais seis pisos, sendo que no último serão construídos apenas dois blocos nas laterais do edifício. Ou seja, só parte da área de construção é que será ocupada.

Questionado se era mesmo preciso projectar o hotel para essa altura, Samuel Santos responde positivamente. “De acordo com o programa estabelecido em concertação com o cliente e em respeito pela altimetria máxima do edifício acabou por ser necessário para o funcionamento do hotel”, argumenta o arquitecto, que é também vereador da CMSV eleito pela lista da UCID.

Segundo Santos, ficou acordado entre ele e o dono que o último pavimento não seria totalmente ocupado. E, tendo em conta que os pisos inferiores das residências do Alto de S. Nicolau são garagens e outros espaços similares, prossegue, ficou claro para eles que a obra não iria retirar aos moradores toda a vista a partir do primeiro andar das suas casas. “Entendo que a obra acaba por privar um acesso visual directo para a marginal, mas os moradores continuam a ter vista para o Porto Grande”, salienta Samuel Santos, enfatizando que se está perante um empreendimento turístico importante para a cidade do Mindelo, pertencente a um investidor cabo-verdiano, projectado e executado por nacionais.

O Mindelinsite tentou contactar o empresário Manuel Lima por telefone, tendo enviado uma mensagem sms para o mesmo, mas não obteve qualquer resposta até o término desta noticia.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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