Estudantes vivem situação “alarmante e dramática” em Portugal devido a Covid-19, segundo associações
Problemas com a alimentação, atrasos no pagamento de propinas e da renda de casa, desemprego dos que trabalham em “part-time” para se sustentarem e custear os estudos, além de questões de fórum psicológico são as principais consequências da crise do Covid-19 entre os estudantes cabo-verdianos em Portugal. Conforme apurou o Mindelinsite junto de duas associações estudantis, a pandemia tem provocado efeitos devastadores em todos os sectores e os estudantes africanos em Portugal, em particular os cabo-verdianos, não escapam aos impactos sanitários e económico-sociais, sem se falar no receio de contraírem a doença. Medo que pode provocar danos psicológicos muitas vezes “irreversíveis”
– João A. do Rosário –
Maribelle Brito, vice-presidente da Associação dos Estudantes Africanos de Bragança (AEAB) é dos tantos estudantes que se posicionou na linha da frente com o objetivo de ajudar os seus conterrâneos mais necessitados. Esta aluna do Instituto Politécnico de Bragança admite que a tarefa revela-se um pouco difícil, visto que muitos colegas não quererem expor as suas fragilidades em relação a estas problemáticas, o que levou essa associação a ir procura-los.
“Exatamente isto, se calhar é por vergonha”, frisa aquela dirigente associativa, que dá conta de um inquérito lançado para se poder sinalizar os estudantes com dificuldades, nesta época de crise. Segundo Maribelle Brito, apenas quatro responderam a essa acção num universo de cerca de 1200 alunos provenientes de Cabo Verde.
Maribelle Brito assegura que, enquanto dirigente associativo, tem cumprido a sua parte, que é a de procurar quem tem dificuldade derivado da pandemia e tentar ajudar em termos de alimentação e ou outro tipo de apoio. Esta fonte salientou, por outro lado, o facto de haver pessoas que trabalham, em “part-time”, e que agora não o podem fazer por estarem isoladas e confinadas em casa. Estas são ajudadas pela AEAB, organização que trabalha com cerca de 2 mil estudantes oriundos de países africanos de língua portuguesa, incluindo de Cabo Verde, que são de longe a maioria.
A acção, segundo essa fonte, é coordenada com a Embaixada de Cabo Verde e as de outros PALOP, para poder chegar junto dos casos que muitas vezes podem ser “dramáticos ou alarmantes”. A AEAB conta ainda com o apoio de várias instituições como a Cruz Vermelha, Cáritas e a Santa Casa em relação a ajudas para cestas básicas e, conforme Maribelle Brito, a associação está aberta ao apoio de outras pessoas e instituições interessadas.
A AEAB tem contado igualmente com o apoio do IPB (Instituto Politécnico de Bragança), que mantem a cantina da escola aberta para refeições aos estudantes que apresentam dificuldades nesta altura, de acordo com Maribelle Brito. Isto sem se esquecer do enquadramento dos alunos num pequeno programa para terem acesso ao empréstimo de computadores para que possam acompanhar os conteúdos.
Viver com o drama
Preocupada com a situação psicológica desses estudantes afetados com a problemática do Covid-19 e os seus efeitos no seio da comunidade estudantil cabo-verdiana em Portugal, a União dos Estudantes Cabo-verdianos em Lisboa (UECL) criou uma Linha de Apoio psicológico para os estudantes, em parceria com a Associação Estrela da Lusofonia. Assim, conforme nos informou o presidente da UECL, Fredilson Semedo, a união que dirige realizou este Sábado uma video-conferência através do ZOOM, cujo tema foi Bem-estar Psicossocial e Inteligência Emocional.
“Face a este contexto pandémico gerado pelo Covid-19, do estado de emergência e confinamento social, reconhecemos que é fundamental garantir o bem-estar psicológico e emocional dos estudantes de forma a combater episódios negativos no foro da saúde mental como a ansiedade, stress, crise de pânico entre outros”, sublinhou.
Segundo Fredilson Semedo, o evento visou promover o bem-estar psicológico e a inteligência emocional dos estudantes cabo-verdianos em Lisboa e das outras cidades de Portugal. As oradoras foram a psicóloga e coach Andreia Alves e a investigadora, a professora na Universidade Nova de Lisboa Raffaella Gozzelino e a gestora de saúde Simone Andrade.
Refira-se ainda que a Embaixada de Cabo Verde em Portugal tem manifestado interesse em inteirar-se da realidade dos estudantes em tempo de pandemia e na identificação dos que estão a passar por alguma necessidade com a criação de uma linha de apoio para poder intervir em casos em que os estudantes possam estar em risco de despejo.
Atrazado de renda e propina