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Cansada de esperar por um “desmentido” do MS, Ana Brito defende a honra do ex-CA do HBS: “Substituição não tem nada a ver com morte dos recém-nascidos”

A presidente do conselho de administração-cessante do HBS negou esta manhã que a sua equipa tenha sido substituída devido as mortes dos sete recém-nascidos em maio e disse ter ficado à espera por um desmentido do Ministério da Saúde, ou do Governo, mas que nunca surgiu e nem acredita que vá acontecer. Sinal de que, segundo a médica Ana Brito, o Executivo parece concordar com essa ideia, que, diz, é completamente falsa.

“Porque não houve esse desmentido, decidimos vir a público repor a verdade, porque, se por um lado quem não sente não é filho de boa gente, por outro os ex-administradores não aceitam esse casamento com a culpa. E, se o propósito é casar a culpa com alguém, então que se escolha o noivo adequado”, começou por dizer a ex-PCA do HBS. Ana Brito deixou claro que a substituição do CA do hospital já era esperada desde meados de março deste ano, logo bem antes do episódio das mortes no serviço de neonatologia em maio. Essa pretensão ficou clara, segundo essa fonte, quando a ministra da Saúde se deslocou a S. Vicente e convocou cada um dos integrantes do conselho e comunicou-lhes directamente a decisão de substituir alguns elementos desse órgão de gestão. No encontro, a ministra Filomena Gonçalves, diz Brito, adiantou que a substituição seria levado a cabo em finais de março, pelo que em abril já haveria outra administração nomeada e a exercer funções.

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Deste modo, a direção-cessante, conforme Ana Brito, preparou a sua saída e passagem de testemunho para finais de março. Porém, isso não aconteceu sem nenhuma explicação do Ministério da Saúde, pelo que essa equipa continuou a fazer a gestão corrente do hospital. Entretanto, ocorreram as mortes dos recém-nascidos, que foram amplamente divulgadas na comunicação social e nas redes sociais, o que colocou essa administração sob o peso da opinião pública. Mesmo assim, segundo Ana Brito, os membros da administração anterior conseguiram gerir com tranquilidade essa situação.

“Se o CA estivesse a ser demitido por causa da lamentável morte desses prematuros, não faria sentido que se voltasse a convidar para se manter na nova equipa a superintendente de enfermagem – que é a responsável por um dos recursos mais importantes em termos clínicos, os enfermeiros – e nem o outro elemento não-executivo, que também faz parte da nova equipa”, salienta Ana Brito. Esta médica sublinha que, se a gestão do CA cessante não tivesse sido boa, seguramente que a mesma não iria cumprir um terceiro mandato. “E seria fácil invocar a justa causa para a sua destituição em vez de se criar razões notoriamente falsas”, reage Ana Brito, ladeada pelo médico Paulo Almeida. Para esta ex-gestora, espanta que o MS invoque a necessidade de implementação de novas políticas quando ao longo dos sete anos de duração dos sucessivos mandatos, o CA cessante nunca recebeu orientações políticas por parte da tutela.

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Relatório de inquérito e autópsia

Outra prova que, na opinião de Ana Brito, aponta para a qualidade da sua administração é o próprio relatório do inquérito à morte dos bebés e que foi realizado por uma equipa independente. Como relembra, a investigação desencadeada por médicos-especialistas do Hospital Agostinho Neto mostrou claramente não haver culpas cabíveis aos profissionais do HBS nesse fatídico caso. Aliás, Ana Brito lembra que foi a sua equipa que melhorou a prestação do serviço neonatal no HBS e enalteceu o empenho do pessoal dedicado a essa área.

Ana Brito enfatiza que os médicos tiveram uma dedicação completa e, mesmo quando o serviço trabalhou só com 2 neonatologistas, estes garantiram a assistência integral. Afirma que o trabalho tem sido tão meritório que o HBS conseguiu atingir a taxa de sobrevivência dos recém-nascidos em 90 por cento. E mesmo no caso das recentes mortes, afirmou que os técnicos fizeram tudo ao seu alcance para salvar esses bebés, apesar de terem nascido de forma prematura. Afirma que havia três prematuros extremos, dois dos quais nasceram às 27 e 26 semanas de gravidez, respectivamente, um deles com 790 gramas de peso. Os bebés restantes eram prematuros graves, “doentes bastante frágeis” cuja “única chance” de sobrevivência eram os cuidados intensivos de neonatologia.

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Segundo Ana Brito, a primeira investigação sobre os óbitos foi feita por iniciativa do próprio hospital, que visou descobrir a presença de alguma bactéria resistente no serviço de neonatologia. Assegura que o trabalho foi feito e desencadeada a desinfeção dos espaços e equipamentos, tal como era de se esperar. Tendo em conta a capacidade tecnológica do HBS, diz, não encontraram a presença de nenhuma bactéria que não fosse possível combater com os antibióticos disponíveis. Entretanto, essa médica diz que há a possibilidade de vírus serem introduzidos no serviço trazidos de fora.

No tocante a autópsia feita ao último bebé morto, Ana Brito e o colega Paulo Almeida explicam que o HBS tomou essa decisão devido as ocorrências sistemáticas. Tiveram, por isso, de pedir permissão à mãe para encetarem o exame, que ainda não está pronto. Como a ex-PCA explica, esse tipo de estudo é exigente e não costuma ficar pronto antes de 3 semanas. E espera que o resultado seja entregue aos familiares do bebé pela nova administração.

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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