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Autárquicas à porta e eu na janela

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Não ser partidário não me inibe de ser cidadão e político enquanto tal. A ingenuidade e a falta de lucidez de muitos sobre a importância da política, partidos inclusive, sinceramente, causa-me estranheza. Compreendo até, mas incomoda-me tamanha indiferença, ignorância também, de muitos sobre o seu papel cidadão, ser social e político. Querendo ou não, “somos todos políticos e tudo é política”, mesmo que não partidária.

As opções, opiniões, intervenções, ações, mesmo a falta delas, no que diz respeito à vida comum, é política. Alimentação, saúde, habitação, transporte, educação, comunicação, cultura, desporto, trabalho, lazer, ambiente dizem respeito a todos e todos estamos nesta roda, por isso, mais uma vez, somos todos políticos, passivos ou ativos. Compreendo totalmente a repulsa sobre a política corporativista partidária tradicional, mas não aceito como correto a confusão que se faz de política com partidos não obstante os partidos serem necessários na política.

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Sem tabus, mesmo não simpatizando ou militando, não deve ser descurado e nem menorizado a sua necessidade e importância enquanto instituições da política. As associações comunitárias, sociais, ou qualquer outro agrupamento de cidadãos com propósitos coletivos, são organizações políticas, mesmo que sectoriais, mesmo não sendo partidos orientados para governação. Uma organização dita independente, de cidadãos, que não tenha perenidade e continuidade além de um ato eleitoral, não deixa de ser, mesmo que por instantes, um partido político. Não deixa de ser uma opção, uma organização a ser escolhida para governar interesses comuns, com equipa, plataforma, com ideologia, ideias, projetos e ações consensualizadas por um grupo de pessoas, tal como um partido que não deixa de ser.

Em tempo que se aproxima mais um período eleitoral, para as autárquicas, mais que os partidos, acima ou independentemente deles, interessa-me três itens para a minha avaliação de cidadão político e eleitor: o candidato, a equipa e, sobretudo, o projeto.

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O candidato tem de ter personalidade, identificar com a ilha, seus valores, ideias, ideais, intenções, preocupações e realizações. Tem de ser visionário, tem de ser, efetivamente, líder em todos os sentidos. Tem de ter a inteligência multidisciplinar que se pede a uma boa liderança. Tem de identificar e assumir a identidade da ilha na heterogeneidade e homogeneidade nacional. Tem de conhece-la, valoriza-la, ama-la e projeta-la para um desenvolvimento inclusivo e harmonioso. Tem de ser um candidato humilde, que conhece e sabe relacionar tanto com a “burguesia” como com a “fralda”, embora em São Vicente, pelo menos ao nível de tratamento, é algo que não se vislumbra tanta discrepância.

Respeito pelos cidadãos. Todos. Humildade na apresentação de promessas e na assunção de responsabilidade. Sem fantasias nem ilusões. Realista!  Alguém que sabe falar a verdade, sem bluff, e assumir responsabilidade, sem desculpas. Comprometido com o que é possível fazer e responsável pelo que consegue, ou não, apresentar. Assumindo acertos e fracassos da mesma forma, sem complexos. Focado para o que foi eleito e mandatado e não agindo sempre para um hipotético próximo mandato, ou na defesa de interesses outros, corporativos ou pessoais. Alguém que se identifica com Soncent e Soncent se identifica nele. Este seria o meu candidato.

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A equipa faz o líder e é o centro das ações e dos resultados. A sua seleção e composição deve ser igualmente cuidada. Deve congregar e federar todas as cores, sensibilidades, conhecimentos e saberes capazes de concretizar o projeto. Deve ter os melhores possíveis e disponíveis. Sem uma boa equipa não há líder que resista, não há projeto que se concretize. O candidato ideal saberia que, mais importante do que ele, o seu potencial, o seu ego e o seu valor, é a equipa que o suporta. Que os capazes e disponíveis tenham coragem de suportar o melhor candidato…

Se sem equipa não há candidato, sem projeto não há nada. Autêntico vazio!  Não há política no vazio. O projeto, as ideias, os ideais devem identificar, apresentar e representar o líder e a sua equipa. A plataforma eleitoral deve indicar com clareza ao que vieram, ao que pretendem e como pretendem servir. Sim, servir, nunca se servirem, porque é disto que trata a eleição. Com efetividade, com respeito, com mais valia. Só assim um projeto seria válido e avaliado positivamente.

Nesta linha de pensamento, somente um triunvirato – candidato, equipa e projeto – bem pensado, elaborado, coordenado e bem-apresentado poderia ter o meu voto de cidadão eleitor. Estou expectante! Estarei atento ao que aí vem…. Cauteloso em tempo de pandemia, devidamente vacinado contra a demagogia, a ilusão, o oportunismo, a mentira deslavada, porque também virá, todavia, pronto a escolher, ou não, e cobrar a realização da escolha que fizer, o que farei durante e no final do mandato.Área de anexos

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Kimze Brito

Jornalista com 30 anos de carreira profissional, fez a sua formação básica na Agência Cabopress (antecessora da Inforpress) e começou efectivamente a trabalhar em Jornalismo no quinzenário Notícias. Foi assessor de imprensa da ex-CTT e da Enapor, integrou a redação do semanário A Semana e concluiu o Curso Superior de Jornalismo na UniCV. Sócio fundador do Mindel Insite, desempenha o cargo de director deste jornal digital desde o seu lançamento. Membro da Associação dos Fotógrafos Cabo-verdianos, leciona cursos de iniciação à fotografia digital e foi professor na UniCV em Laboratório de Fotografia e Fotojornalismo.

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