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Que política, que partidos?

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É compreensível o desalento causado por políticos e governantes, é compreensível, de certa forma, a acomodação, a descrença em que podemos melhorar a forma de se estar na política ativa e altivar a nossa sociedade, é perfeitamente aceitável a desconfiança devido a situações opacas e pouco transparentes advenientes da realidade observada, mas, a inibição, ou melhor, a alienação dos cidadãos da política apenas contribuirá para o agudizar das situações vivenciadas.

Por: Nelson Faria

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Fico pasmo com a superficialidade de afirmações que dizem nada ter a ver ou não querer saber da política quando a única via conhecida para corrigir as mazelas por que passamos é, mormente, pela política.  Quer pela ação social cidadã, quer pela política ativa feita pelos partidos, governo e oposição. A política é, naturalmente, parte da vida em todas as sociedades, independentemente do regime, por isso matéria que deve merecer a nossa atenção.

Disse Bertolt Brecht que “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, da renda de casa, do sapato e do remédio dependem de decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe, o imbecil, que da sua ignorância nasce a prostituta, o menor abandonado, o assaltante e o pior dos bandidos que é o político vigarista, egocêntrico, mau caráter, o corrupto e o lacaio dos exploradores do povo.”

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O ser humano por não viver isolado e, por estar em sociedade, é naturalmente um ser político, ativo
ou passivo. Se me disserem que nada querem saber da política ativa, com propósito eleitoral ou dos
partidos, serei capaz de compreender, pese embora, encare também com naturalidade a existência
dos partidos e os seus propósitos, não somente, mas sobretudo, em regimes democráticos, como o
nosso, mesmo com as imperfeições e vícios que parecem vitalícios.

Retomando um escrito antigo, mantenho a mesma ideia de que quem é democrata sabe que os partidos, enquanto organizações de cidadãos legalmente constituídas, são necessários para a realização da política, da democracia e da boa governança das sociedades, quando orientados para
tal, exercendo o poder ou influenciando decisões do poder político. Aliás, não me custa reconhecer
méritos, alguns bons políticos e muita coisa bem-feita, assim como não me inibo e nem contenho a
crítica quando acho necessária e oportuna. Por não faltar oportunidade, enquanto cidadão, emito
uma simples opinião de quando em vez sobre esta realidade. Faço-o desde que sou cidadão com
capacidade eleitoral e já lá vão vinte e dois anos… E assim pretendo continuar.

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Outra vertente que muitas vezes mal compreendo é a hostilização das pessoas por fazerem parte ou
defenderem os partidos. Mais do que um direito constitucional, é um direito humano escolher as organizações que se simpatiza e quer representar. Por isso, deve ser respeitado. A Constituição da
República e as liberdades individuais possibilitam-no. A sociedade precisa de gente que se assuma
como políticos. Por isso, cada pessoa é livre, de acordo com a sua ideologia, militar, simpatizar ou
simplesmente votar numa força política e em políticos. Mal seria se na nossa sociedade não
houvessem políticos e partidos. A anarquia seria um regime muito pior do que temos, certamente.

Portanto, merecem o meu igual respeito às organizações partidárias e os seus constituintes,
particularmente quem o faz por ideais, por convicções sérias e honestas, da sua pessoa e
organização que pertence, e tem por objetivo contribuírem para o bem de todos. Merecem o meu
respeito, aqueles que demonstram com a prática, não com a retórica, a generosidade da sua missão
política, a firmeza do seu carácter e a humildade para agir em função das necessidades e objetivos
coletivos em harmonia com o todo, mesmo que de sensibilidades políticas diferentes.

Na minha perspetiva, o mal está em muito descrédito reputacional que os partidos têm cultivado,
por ação ou omissão. Querendo reverter este quadro, na minha leiga opinião, os partidos necessitam
de mudar o seu modus operandi, procurando formas de credibilizarem perante a sociedade, se for
esta a bondade da sua existência. Que sejam organizações dinâmicas o suficiente para se adaptarem
à dinâmica social e nunca se perpetuarem na altivez e arrogância retrógrada de donos da verdade.

Que se orientem por políticas reais, exequíveis, que satisfaçam a coletividade, auscultando-a, em
vez de objetivos corporativos, seletivos, ambições e ganâncias pessoais dos seus integrantes. Que se
deixem de orientar por dogmas e demagogia barata que hoje convencem apenas os seus acólitos,
dependentes, fanáticos e cada vez mais radicais. Que saibam adaptar-se a uma realidade cada vez
mais formada, informada, complexa, volátil e incerta. Uma realidade mais capacitada e lúcida sobre
o que é deveras feito, não dito, por cada um e por todos. Que saibam adaptar-se e acolher a crítica
como parte da melhoria que se quer para todos. Que saibam que hoje ninguém alinha em
carneirinhas provas de fé ditadas em discursos demagógicos de “pseudo-deuses”.

Que saibam que esta sociedade já não se rege meramente pela carne ou peixe, pela situação ou oposição, por mim ou contra mim, sobretudo, em períodos eleitorais. Que há mais vida política além dos partidos e que não são o centro da vida e da política, mas sim um canal para a vida social e realização de políticas coletivas. Que saibam interagir e respeitar a sociedade que regem e representam e possibilitem a sua participação direta nas decisões políticas. Falo sim, e porque não, da possibilidade de listas uninominais em pleitos eleitorais. 

Da mesma forma, nos males crónicos, pois, como referi, também não alinho com a postura fanática e radical de uns e outros partidários em que, basta a crítica não agradar, para ser conotado com oposição, do contra, ou outros nomes, se não for atentado coisas piores. Não alinho com a defesa cega “do clube partidário” que não permite ver e posicionar sobre a realidade vivida, não a criada em narrativas.

Em circunstância algum alinho com o partidarismo clubista, fanático, interesseiro, corporativo e hipócrita. Isso não, isso nunca! E é este o quadro que necessita ser mudado para melhorar muito da imagem que os cidadãos têm da política e dos partidos, não obstante caber aos cidadãos a sua quota parte de responsabilidades no mal que se queixam e ações que devem empreender para mudar este cenário.

Sem partidos, mesmo que não se configurem da mesma forma que os tradicionais e atuais, não há
democracia. Não iludamos. Desejamos sim, que sejam de facto organizações da sociedade civil que
sirvam, em primeiro lugar, os cidadãos e os interesses coletivos, que sirvam a boa política.

Contudo, cabe aos cidadãos não negligenciarem a sua importância na participação política, de uma
forma ou de outra, mesmo que não necessariamente pela via do voto em pleitos eleitorais, pois não
são obrigados a escolher se não se sentirem representados, mas, porque o ideal democrático
pressupõe o seu envolvimento em diferentes atividades da vida política de várias formas e em canais
diferentes, cívica, cultural, associativa, entre tantas outras.

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Constanca Pina

Formada em jornalismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF-RJ). Trabalhou como jornalista no semanário A Semana de 1997 a 2016. Sócia-fundadora do Mindel Insite, desempenha as funções de Chefe de Redação e jornalista/repórter. Paralelamente, leccionou na Universidade Lusófona de Cabo Verde de 2013 a 2020, disciplinas de Jornalismo Económico, Jornalismo Investigativo e Redação Jornalística. Atualmente lecciona a disciplina de Jornalismo Comparado na Universidade de Cabo Verde (Uni-CV).

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