Por: António Santos
O poder político tem que dar às Forças Armadas Cabo-verdianas estatuto e condições à altura do que pede aos militares, não podendo fazer apenas promessas e criar expectativas, que não tencionam concretizar.
Na minha perspetiva, a pátria, representada pelo poder político do Estado que tanto, e muito justamente, se orgulha de vós e dos vossos feitos, cá dentro e lá fora, tem que proporcionar aos militares estatuto e condições à altura do que vos pede e do que de vós recebe.
Isto mesmo disse, em 2018, o então comandante da 1ª Região Militar, tenente-coronel graduado José Rui Neves, que não entendia o porquê de um preso na cadeia ter uma alimentação superior ao soldado e nem o facto de se construir, em Cabo Verde, uma prisão de 3,5 milhões de dólares.
Rosto visível do forte descontentamento nas Forças Armadas, José Rui Neves foi mais longe e considerou ser “contraproducente” falar do combate à delinquência, quando se constrói uma prisão naquele montante, “com salas de conferências, oficinas, lavandaria e cozinha industrial”, condições, aludiu, que “não existem” em “nenhum Comando Militar”.
Mas a coragem deste oficial superior das Forças Armadas, que veio a público dizer aquilo que se fala na caserna, foi punida, de imediato, pelo Governo que lhe retirou a graduação e o enviou, em jeito de castigo, para uma formação na China.
Mas, ao que julgamos saber, o que irritou profundamente o Governo cabo-verdiano foi o facto do então comandante da 1ª Região Militar ter lembrado o poder que a última atualização salarial na FA ocorreu em Agosto de 1997, com a introdução do Plano de Cargos Carreiras e Salários.
Contudo, do meu ponto de vista, o que deixou o Governo “deveras furioso” foi a citação de Napoleão Bonaparte, numa alusão direta à falta de respeito dos políticos para com os militares: “um homem que não tem consideração pelas necessidades do soldo (ordenado) nunca o devia comandar”.
Num país democrático, em que existe respeito entre as diferentes instituições, um oficial superior como José Rui Neves seria afastado e substituído por um “yes man”, que acata todas as ordens do poder, sem pensar que também “tem de olhar” pelos seus subordinados, proporcionando-lhes melhores condições de vida.
Aliás, só assim se compreende as razões que levaram à nomeação do atual comandante. O Governo quer manter o atual estado de coisas…