Acidente que matou 8 militares foi provocado por “falha humana”, segundo relatório divulgado pelas FA
A peritagem feita ao acidente com o camião das Forças Armadas que provocou oito mortos concluiu que a causa directa do desastre foi a “perda de controlo da viatura pelo condutor, na sequência da alavanca se ter partido”, associada a uma “incorrecta avaliação situacional”. Estes factores terão levado o condutor a decidir embater o carro numa rocha para parar o andamento. Além disso, o relatório acrescenta que não houve evidencias da utilização dos travões do camião Donfeng FA-07-76, fabricado em 2021 e ofertado às Forças Armadas nesse ano.
O carro, conforme o documento a que o Mindelinsite teve acesso, encontrava-se em “condições operacionais de uso a quando da sua escolha na tarde do dia 2 de abril para o transporte de 31 militares para ajudar no combate ao incêndio deflagrado na floresta da Serra Malagueta. Afirma o relatório, que foi hoje divulgado pelo próprio Chefe de Estado Maior das Forças Armadas, que a viatura não apresentava nenhuma avaria ou anomalia. “Esta constatação ficou confirmada com os trabalhos de peritagem realizados no sistema de travão, direção e outros sistemas e órgãos do veículo, que não acusaram qualquer anomalia”, conclui.
A peritagem multissectorial entende que o acidente teve a sua origem na recolha de informações por parte do condutor sobre a via e na sua “tardia decisão” e “efectiva execução” de uma manobra numa curva e no necessário abrandamento da marcha. “Esta falha na adequação da velocidade às condições da via (curva muito fechada), do veículo (cumprimento de 8,5 metros) e em relação ao peso que possuía levou à perda de controle do veículo”, frisa o relatório, acrescentando que o condutor decidiu desse modo embater a viatura na rocha. Acabou por contornar um declive e capotar de seguida.
Analisados todos os factos e evidências recolhidas na investigação – que obteve o depoimento dos militares que sobreviveram ao acidente e fez perícias técnicas – fica evidente para os peritos que o acidente ocorreu porque o condutor perdeu o controlo da viatura quando a alavanca se partiu. Um “factor contributivo”, acrescenta o relatório, foi a “falha no procedimento de mudança de marcha do veículo e consequente perda do controlo do mesmo”. Afirma o relatório que a parte superior da alavanca ficou danificada durante as várias tentativas no procedimento da mudança de marcha.
“Antes do acidente, a vara da alavanca de mudanças, na parte superior onde se aloja a cabeça da alavanca – medindo 13,5 centímetros – partiu-se devido a pressão exercida na tentativa de se alterar a marcha em que seguia a viatura, ficando a parte inferior da alavanca com um comprimento de 21,5 cm.”
A peritagem levou em consideração 3 aspectos: o factor humano, o factor material e o factor ambiental. Além disso, a investigação recolheu depoimentos dos 23 militares que sobreviveram ao desastre ocorrido no dia 2 de abril na estrada de Guindão, no interior da ilha de Santiago. Durante o transporte do segundo contingente que iria reforçar o combate a um incêndio deflagrado nos concelhos de Santa Catarina e Tarrafal, a pedido do Serviço Nacional de Proteção Civil, a viatura capotou, tendo causado oito mortos.
Conforme o CEMFA, foram requeridas peritagens técnicas, uma delas efectuada por uma equipa multissectorial, constituída por técnicos da Direção-Geral dos Transportes Rodoviários, da ITAC e das Forças Armadas e outras equipas independentes. Houve recurso a oficinas de mecânicas para a inspeção do carro, que averiguaram o estado da caixa de velocidades, do sistema de direção…
Viagem para a morte
A viagem dos militares começou quando faltavam seis minutos para as 17 horas, tendo a viatura partido de Figueira das Naus para a Ribeira Prata, via Serra Malagueta. O camião, que transportava 31 militares, três deles na cabine, estava a ser acompanhado por uma viatura ligeira, onde se encontrava o oficial de operações do Comando da Terceira Região Militar.
A meio do trajecto, a viatura ligeira passou para a frente do camião e continuaram a marcha em velocidade moderada, mantendo uma distância entre si que variava entre os 10 e 50 metros. Entretanto, depois de uma descida de forte inclinação, seguida de uma curva à direita e com contracurva à esquerda, o condutor, conforme o relatório, tentou alterar a marcha. Nessa tentativa de mudança, informou aos outros dois ocupantes da cabine que a parte superior da alanvanca da caixa de velocidades se tinha partido e disse-lhes que iria embater a viatura “na rocha” para a tentar parar o seu andamento. “Nessa tentativa, o camião subiu uma pequena encosta, acabando por capotar por volta das 17 horas e 27 minutos.”
A estrada onde ocorreu o acidente, salienta o documento, tem várias cursas e contracurvas em descidas de forte inclinação. Tem piso asfaltado, com duas faixas de rodagem e estava em bom estado de conservação. Ocorre, no entanto, que a descida onde aconteceu o desastre não era acentuada, o piso estava seco e havia boa visibilidade.
Acrescenta o relatório que não foram encontradas anomalias nos sistemas de travão e na caixa de velocidade do camião. De acordo com o depoimento do chefe de viatura, o condutor, que era habilitado para andar nos veículos pesados desde 2017, fez uso dos travões de montanha e de serviço sempre que se mostrou necessário no percurso.
Recomendações
O inquérito produziu algumas recomendações a serem adoptadas pelas FA para aumentar a segurança operacional dos meios de transporte terrestre e que constam de um despacho do CEMFA. Deste modo, a instituição passa de imediato a incrementar a formação contínua dos condutores – com realização de exercícios em cenários diversos –, potenciar a capacitação transversal dos recursos humanos que trabalham na área da manutenção, operação e adiminstração de viaturas através de intercâmbios com expertises; dotar os carros de transporte geral de melhores condições de segurança e equipa-los com tacógrafos ou sistemas GPS e limitadores de velocidade…