A ilha do Sal em Cabo Verde foi o palco escolhido para a realização da primeira reunião das Forças Marítimas Africanas e, curiosamente, o encontro, que terminou ontem (22 de março), contou com uma forte participação dos Estados Unidos, o que nos deixa a pensar sobre os reais interesses dos americanos sobre a posição estratégica da ilha do Sal.
O encontro, que envolveu também a participação de Portugal e Brasil, veio, de certa forma, clarificar as intenções norte-americanas. A nota de imprensa da Embaixada americana na Praia é clara, podendo-se ler que o arquipélago “é considerado um parceiro importante dos Estados Unidos na promoção da paz e segurança em África, tendo nessa linha os dois países assinado, em dezembro de 2022, um Memorando de Entendimento sobre a cooperação no domínio da Defesa, com ênfase na continuidade do combate às actividades marítimas ilícitas”.
Apesar da Constituição cabo-verdiana não o permitir, estou convicto (espero estar enganado) que esta participação dos EUA tem apenas como objectivo “abrir as portas” à instalação de uma Base Militar Estrangeira em Cabo Verde. Não tenho dúvida de que, mais tarde ou mais cedo, os EUA implantarão uma base militar em Cabo Verde e não há Tribunal Constitucional algum que contrarie isso, embora seja proibido pela lei! Parafraseando Mário Soares, ex-Presidente da República portuguesa, em relação à cimeira dos Açores que levou à invasão do Iraque, o encontro da ilha do Sal pode ser classificado como a cimeira da “vergonha” para a humanidade. Pois, no dia em que se iniciou (20 de Março), completaram-se 20 anos da invasão do Iraque pelas forças dos EUA e da NATO.
Como todos se recordam, a invasão foi planeada na base de uma gigantesca mentira, provocando cerca de um milhão de mortos. Tudo porque os EUA “inventaram” que o Iraque se estava a “armar” para atacar os países vizinhos. Onde andavam os defensores do Direito Internacional, incluindo as autoridades cabo-verdianas?
Na minha perspectiva, o encontro do Sal é muito semelhante à cimeira que reuniu no arquipélago dos Açores, no meio do Atlântico, a 16 de março de 2003, George W. Bush (EUA), Tony Blair (Reino Unido), José Maria Aznar (Espanha) e Durão Barroso (Portugal), para planearem a invasão ao Iraque. Ninguém me tira da cabeça que isto não passa de um “assédio vergonhoso” sobre os africanos para abrir mais uma frente anti Rússia nesta zona do Atlântico. Não é à toa que a reunião foi realizada em Cabo Verde! Foi mais uma migalha dada ao país, por votar, na ONU, sempre ao lado dos ocidentais, condenando a Rússia…